Participando da 112ª Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto, afirmou que o avanço de tecnologias disruptivas como a inteligência artificial podem representar uma melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores caso o país saiba aproveitar a janela de oportunidade aberta no momento para uma transição na forma de trabalho.
Neto, que também é presidente do Sindicato dos Trabalhadores em TI de São Paulo (Sindpd-SP), falou em uma reunião dedicada à discussão sobre o futuro do trabalho diante do avanço de tecnologias disruptivas realizada pela delegação brasileira na Conferência em Genebra (Suíça) nesta quarta-feira (12).
Participaram do encontro o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Lélio Bentes Corrêa, o procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), José de Lima Ramos Pereira, além de representantes de outros sindicatos e centrais sindicais, do Poder Legislativo e juristas.
Apesar da oportunidade, o presidente do Sindpd apontou que o Brasil terá grande dificuldade em aproveitá-la tendo em vista que o país ainda tem 7% de analfabetos e 25% dos brasileiros não conseguem fazer cálculos simples e interpretar pequenos textos.
“Se avanço disruptivo das tecnologias preocupa pelo impacto social a curto prazo, ele pode ser a chave para vencermos definitivamente a miséria, a fome e as profundas desigualdades em nosso país, mas nada disso será possível sem investimentos, sem valorização dos professores e com políticas fiscais austeras como as em discussão que desvincula os pisos constitucionais de saúde e educação, fragilizando qualquer chance de superação da pobreza em nosso país”, disse.
Confira a fala na íntegra:
“As tecnologias disruptivas como a inteligência artificial, a automação e a tecnologia no geral precisam ser vistas como aliadas do mundo do trabalho e uma oportunidade para a redução das profundas desigualdades que ainda persistem em nosso país.
A ideia de que o avanço dessas tecnologias aumentará o desemprego só prosperará se não aproveitarmos a janela que se abre para uma transição laboral com profissionalização, qualificação e inclusão daqueles que sempre estiveram a margem em trabalhos muitas vezes degradantes e de baixíssima remuneração.
O diálogo social tripartite é uma excelente oportunidade para trabalhadores, empregadores e governo garantir um ambiente laboral mais inclusivo, digno e valorizado. A discussão de um programa de transição tecnológica justa em nosso país é mais do que urgente e necessário.
Sou de um setor que cresce todos os dias, o setor de tecnologia da informação, um setor que paga em média mais que o dobro que a média salarial brasileira, porém um setor ainda pouco diverso formado na maioria das empresas por homens brancos.
Apesar de sermos um setor com condições melhores que outras categorias, ainda sofremos com a não regulamentação da categoria, com jornadas exaustivas e um desequilíbrio muito grande entre os trabalhadores.
A tecnologia pode e deve ser uma ferramenta de melhora na qualidade de vida dos trabalhadores seja com um home office de qualidade, jornadas mais flexíveis e reduzidas ou mesmo com oportunidades de especialização.
Se o avanço disruptivo das tecnologias preocupa pelo impacto social a curto prazo, o avanço disruptivo das tecnologias pode ser a chave para vencermos definitivamente a miséria, a fome e as profundas desigualdades em nosso país.
As escolhas do próximo período nos conduzirão para um dos dois caminhos e esse espaço pode ser o início de uma construção tripartite que nos guie para um Brasil menos desigual, mais diverso e justo.
Mas, infelizmente em um país com 7% de analfabetos e em que 25 em cada 100 brasileiros não podem fazer cálculos simples e interpretar um pequeno texto não será possível. É preciso rever a formação dos nossos alunos e docentes para que a Escola do Conhecimento supere o enciclopedismo do século XX.
Encerro lembrando que nada disso será possível sem investimentos, sem valorização dos professores e com políticas fiscais austeras como as em discussão que desvincula os pisos constitucionais de saúde e educação, fragilizando qualquer chance de superação da pobreza em nosso país.”
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