Salário mínimo no BR é menos da metade do valor necessário para garantir vida digna

Trabalhadores que moram na cidade de São Paulo precisam ganhar mais que o dobro do salário mínimo regional para garantir o básico para uma vida digna. Segundo pesquisa realizada pelo Anker Institute Research, o mínimo necessário para se viver dignamente na capital paulista é R$ 3.428, enquanto o piso regional é de R$ 1.640.

Para uma residência com quatro pessoas, sendo duas delas em idades de trabalho, a renda familiar mínima deveria ser de R$ 5.965, o que foi chamado de renda digna.

O estudo utilizou o conceito chamado no exterior de “living wage”, ou seja, quanto é preciso ganhar para suprir as necessidades básicas.

O levantamento foi feito em associação com o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e com apoio da Global Living Coalition. Foram coletados dados em todo o país, mas por enquanto foram compiladas as informações de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, interior do Piauí e algumas regiões de Santa Catarina.

Em Porto Alegre, o mínimo digno é ainda maior, de R$ 3.969, enquanto o piso regional do Rio Grande do Sul é menor que o mínimo paulista, de R$ 1.573,94 na faixa 1, e vai até 1.994,56 na faixa 5.

Relacionada: Centrais e patronato não chegam a acordo sobre reajuste do piso regional do RS para 2024

“A divulgação destes valores permite que eles sejam utilizados por governos, empresas, terceiro setor e sociedade civil na implementação de ações concretas que tenham este tema como foco. Queremos embasar a discussão e, consequentemente, contribuir para a criação e implementação de estratégias e planos de ação concreto para tornar o salário digno uma realidade”, afirma Ian Prates, coordenador do projeto no Brasil, líder de inovação no Anker Research e pesquisador do NUDES/Cebrap.

De acordo com o documento feito pelo instituto, a pesquisa foi feita para “estimar valores médios de renda e salários dignos rurais e urbanos, para o país, utilizando dados secundários.”

Foram feitos cálculos regionais sobre o que era preciso para custear alimentação saudável, habitação digna e outras despesas não alimentares ou habitacionais, considerando trabalhadores e trabalhadoras de 25 a 59 anos.

Nos países em que a diferença entre o salário mínimo e o digno não é grande, ONGs e sindicatos fazem campanha para que as empresas adotem o valor digno. No Reino Unido, por exemplo, o mínimo é 11,44 libras esterlinas por hora e o digno está em 12.

“O salário mínimo é muito mais uma questão de determinações políticas do que meramente econômicas. Não é fruto do cálculo de uma cesta. Eu acho interessante este conceito do salário digno. Mostra o caminho que o país tem de percorrer para chegar nesse nível”, diz Lauro Gonzalez, coordenador do Cemif (Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira) da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Salário mínimo perdeu objetivo original

Pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho e professor de Economia da Unicamp, José Dari Krein lembra que, durante o regime militar, na década de 1970, o salário mínimo perdeu o objetivo para o qual foi criado.

Segundo explica o pesquisador, o mínimo brasileiro deixou de ser referência para dar uma vida decente à classe trabalhadora e passou a ser um consenso do que a classe empresarial e o governo seriam capazes de pagar.

“O salário mínimo no Brasil é muito baixo. Os R$ 1.412 estão muito distantes do que é necessário. A lei do tinha como perspectiva o custo da cesta básica. Desde a ditadura militar deixou de ser referência do que era necessário para uma família viver e passou a ser referência do que as instituições públicas e a iniciativa privada conseguiam suportar. Quem ganha R$ 1.412 tem muita dificuldade para pagar itens básicos de sobrevivência”, afirma.

Leia também: Sindicatos repudiam ideia de Tebet de desvincular aposentadoria do salário mínino

Com informações de: Folha de S.Paulo

Compartilhe:

Leia mais
Lula critica fala de campos neto
Lula critica fala de Campos Neto sobre aumento de salários ser uma "preocupação"
Manifestação contra juros altos 30 de julho
Centrais sindicais farão ato contra juros altos: cada 1% na Selic custa R$ 38 bi ao povo
eduardo leite nova proposta servidores
Governo do RS adia projetos de reestruturação de carreiras de servidores e anuncia mudanças
Grupo de Trabalho estudará impactos da inteligência artificial
Governo cria grupo para estudar impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho
GT do G20 sobre emprego em Fortaleza
CSB em reunião do G20: temas discutidos aqui são colocados em prática pelos sindicatos
adolescentes trabalho escravo colheita batatas cerquilho sp
SP: Operação resgata 13 adolescentes de trabalho escravo em colheita de batatas
sindicam-ba filia-se csb
Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Bahia filia-se à CSB
Parceria Brasil-EUA contra calor extremo trabalhadores
Parceria Brasil-EUA pelos Trabalhadores e OIT debatem ação contra calor extremo
BNDES abre concurso 2024 veja edital
BNDES abre concurso com 150 vagas e salário inicial de R$ 20 mil; acesse edital
pesquisa jornada flexivel trabalho híbrido
Flexibilidade de jornada é prioridade para 30% dos trabalhadores no Brasil