Mercado de trabalho não reage e 13% dos brasileiros queimam poupança em gastos do dia a dia

Recuperação da economia e do mercado de trabalho mais lenta do que o esperado leva consumidor a queimar reservas e se endividar; situação é pior entre os mais pobres, mostram dados do Ibre/FGV.

 

Segundo dados da Serasa Experian, 60,4 milhões de brasileiros estavam com o nome negativado por inadimplência em maio (números mais recentes). Em abril, eram 61,2 milhões.

“O cenário só muda quando o ritmo da economia acelerar e as empresas ganharem confiança de contratar com maior ímpeto. Aí sim vai impactar os consumidores”, diz Viviane, do Ibre/FGV.

Corda no pescoço (Foto: Arte/G1)

Embora a parcela de brasileiros que use recursos guardados já tenha sido maior, sobretudo quando a crise econômica estava mais intensa, os últimos meses têm mostrado uma resistência à queda do indicador e até mesmo uma leve piora.

A pesquisa do Ibre/FGV leva em conta todos os tipos de reservas financeiras. Para a caderneta de poupança, os dados do Banco Central até mostram que os valores depositados superaram os saques em R$ 5,6 bilhões no mês de junho. No entanto, a economista do Ibre pondera que isso indica apenas que quem ainda tem folga no orçamento está preferindo guardar dinheiro do que gastar.

Mercado de trabalho tem frustrado
Os últimos dados do mercado de trabalho frustraram os analistas. A expectativa era de que a economia brasileira cresceria mais neste ano e, consequentemente, a criação de emprego teria uma recuperação mais robusta, aliviando o orçamento das famílias.

No trimestre encerrado em maio, a taxa de desemprego ficou em 12,7% e atingiu 13,2 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em junho, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que levam em conta apenas os emprego com carteira assinada, também mostraram um quadro ruim: a destruição de 661 vagas.

“O mercado de trabalho continua muito ruim. Mesmo com a criação de vagas, milhões de pessoas seguem desempregadas”, afirma a economista-chefe do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) Brasil, Marcela Kawauti.

Números do SPC Brasil também mostram um comportamento parecido com os do Ibre. Em maio, a entidade apurou que 40,5% das pessoas consultadas fizeram uso de reserva financeira para diversas finalidades. Desse total, 4,5% utilizaram as reservas porque ficaram desempregadas e 7,4% porque não tinham dinheiro suficiente para pagar as contas.

“Nem sempre o uso de reservas é ruim. Na compra de item de um maior valor, por exemplo, é natural que se use a reserva. O problema é quando essa reserva para a ser usado constantemente e aí a pessoa tem de partir para o crédito”, diz Marcela.

Endividamento é maior entre os mais pobres
O uso de reservas financeiras para o pagamento das contas acaba levando parte dos brasileiros, sobretudo os mais pobres, para um caminho sem volta: o do endividamento.

Em junho, o levantamento do Ibre apontou que 9,8% dos consumidores se declararam endividados. É um indicador que também já foi mais alto, mas tem piorado nos últimos meses.

A análise detalhada dos números mostra que os mais pobres são os mais endividados, enquanto os ricos são os que mais queimam poupança porque têm folga no orçamento. Em junho, na faixa da renda dos que ganham até R$ 2,1 mil, 8,2% usaram reservas para despesas e 15,1% se declararam endividados. No outro extremo, entre os ganham acima de R$ 9,6 mil, 16,1% usaram as economias próprias, mas apenas 3,7% tinham dívidas.

Faixa de renda Gastam poupança com despesas Estão endividados
Até R$ 2.100 8,2% 15,1%
De R$ 2.100 a R$ 4.800 16,3% 15,5%
De R$ 4.800 a R$ 9.600 15,0% 8,4%
Acima de R$ 9.600 16,1% 3,7%

 

Cresce inadimplência por desemprego
Um levantamento feito pela Boa Vista SCPC ilustra bem esse quadro da combinação perversa entre piora do mercado de trabalho e dificuldade para acertar as contas.

No primeiro semestre deste ano, 45% dos consumidores inadimplentes consultados pela entidade justificaram o atraso no pagamento das contas por falta de trabalho. Há dois anos, essa fatia era de 32%.

Arte/Atraso (Foto: Arte/G1)

Quando ficou desempregado, Mario de Oliveira, de 50 anos, gastou todas as suas reservas em apenas um ano e ficou inadimplente. “Trabalhava como cozinheiro, mas fui demitido. Em pouco tempo, usei todo o meu dinheiro para continuar fazendo as minhas coisas e para pagar a despesa de duas casas.”

Agora, diz que as coisas tem melhorado. Faz pouco tempo começou a costurar.

Segundo dados da Serasa Experian, 60,4 milhões de brasileiros estavam com o nome negativado por inadimplência em maio (números mais recentes). Em abril, eram 61,2 milhões.

“O cenário só muda quando o ritmo da economia acelerar e as empresas ganharem confiança de contratar com maior ímpeto. Aí sim vai impactar os consumidores”, diz Viviane, do Ibre/FGV.

Fonte: G1

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