Taxa de desemprego deve chegar a pico de 16% no próximo ano, segundo Ibre (FGV)
A expectativa de piora no mercado de trabalho em diversos países, incluindo o Brasil, combinada com a redução de estímulos fiscais e dos programas de proteção ao emprego, estão entre as principais ameaças à recuperação da economia no próximo ano, período que ainda deverá ser afetado pela pandemia do novo coronavírus.
Essa é a avaliação feita por economistas do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getulio Vargas durante debates realizados nesta segunda-feira (5) para avaliar as expectativas para a economia doméstica e internacional.
Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV, afirma que, ao longo de 2021, o mundo ainda deverá viver esse “novo não normal” de convivência com o vírus.
Pelo lado sanitário, não é certo que haverá vacina e, mesmo se houver, não é garantido que ela esteja disponível para todas as pessoas e que seja possível alcançar nesse prazo uma imunidade de rebanho.
Pelo lado econômico, apesar do aumento da mobilidade com o afrouxamento da quarentena, a atividade não se recuperou totalmente e nem de maneira uniforme entre todos os setores.
A retomada também será afetada pela necessidade de se conviver com algumas restrições diante de um número ainda alto de casos de contaminação.
“Não acho que esse padrão vá mudar de forma significativa nesse novo não normal. Uma consequência é que o mercado de trabalho vai continuar retraído”, afirma Castelar.
O economista do Ibre José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central, afirma que a situação nos EUA é de lenta recuperação do mercado de trabalho, o que sinaliza falta de confiança por parte de quem contrata.
Na Europa, medidas de retenção de emprego têm seguradoem algum grau as perdas de postos de trabalho, mas é provável que haja aumento das demissões na medida em que esses programas cheguem ao fim.
Senna afirma que a retirada do apoio fiscal deixará muitos países apenas com o suporte monetário, mas que juros baixos não constituem o instrumento mais adequado para lidar com uma pandemia como a atual.
Segundo ele, a política monetária vem perdendo eficácia nos países avançados há um bom tempo e também não é capaz, neste momento, de convencer as pessoas a consumirem serviços em que haja aglomeração.
“A medicina está até melhor que a economia, pois ainda há uma esperança. A luta é por descobrir os instrumentos, no caso, medicamentos eficazes ou uma vacina. Na economia, a precariedade dos instrumentos é um drama”, diz Senna.
“O estímulo monetário não induz as pessoas a ampliar a demanda por certos serviços, e os trabalhadores desses serviços não são beneficiados. As transferências fiscais diretas têm mais eficácia, mas isso é distinto de um impulso de demanda mais permanente”, afirma.