EUA vão aumentar impostos para mais ricos e ameaçam pôr fim à orgia neoliberal

Plano é diminuir a pobreza. Europa é o modelo dos EUA. OCDE defende sobretaxa

udo indica que a orgia neoliberal está acabando justamente no seu berço, os Estados Unidos. Ela durou de 1981, com a chegada de Ronald Reagan à presidência dos EUA, a 2020, com a derrota de Donald Trump. O sintoma mais claro de que esse período histórico está com a corda no pescoço é a decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de elevar impostos dos mais ricos e das grandes corporações para bancar um ambicioso programa de reformas. Em outras épocas, falar de aumento de imposto nos Estados Unidos era como gritar impropérios contra o defunto no velório. Agora há reação só dos cachorros loucos republicanos. Se o programa de Biden der certo (e há chances de que isso ocorra), pode virar um caso de sucesso a ser copiado no mundo pós-pandemia, quando todos dos governos vão precisar de muito, mas muito dinheiro para consertar os estragos do vírus.

Biden quer fazer o que talvez seja o segundo maior programa do mundo de reforma e criação de infraestratura (é o segundo em porte porque nada se compara ao projeto chinês chamado Rota da Seda). O programa do democrata se assenta em quatro pontos:

  1. Ele quer refazer estradas, linhas férreas, metrôs, serviços de água e esgoto;
  2. Vai tentar fazer com que os Estados Unidos voltem a ter educação pública de qualidade (atualmente é tão ruim quanto a de países infinitamente mais pobres);
  3. Quer descarbonizar a economia, ou seja, retirar o petróleo e introduzir novas tecnologias; e
  4. Busca uma maneira de vida melhor para as mulheres que trabalham, na qual a casa não seja mais um pesadelo ou um cativeiro.

O custo dessas reformas, segundo previsões dos democratas, deve alcançar de US$ 3 a US$ 4 trilhões. Não há dinheiro para executá-los porque Biden já despejou US$ 1,9 trilhão no terceiro pacote contra a devastação econômica da pandemia. Na campanha, Biden avisou que seu alvo era aumentar a arrecadação em US$ 2,5 trilhões no curso de uma década.

Outros presidentes democratas, como Bill Clinton e Barack Obama, fracassaram ao tentar aumentar impostos, mas o cenário mudou completamente. Biden pode se beneficiar de dois movimentos que parecem ter a força de placas tectônicas se chocando nas profundezas da terra: a pandemia e o empobrecimento da população americana.

O aumento da pobreza tem ligação direta com a questão fiscal porque resultou do corte de impostos para os mais ricos e de redução do alcance dos programas sociais por influência da ideologia neoliberal. Não deixa de ser uma piada pronta que o ministro Paulo Guedes (Economia) queira implantar um programa liberal-paleolítico no momento em que esse tipo de política vive seu ocaso no país que mais a adotou como prática de Estado. O crítico literário Roberto Schwarz é autor de um conceito-chave para se entender Guedes, o da ideia fora de lugar. É similar ao liberal que defendia o tráfico de escravos no século 19.

Biden quer virar o disco que tocava ininterruptamente a ideia de que enriquecer é glorioso, mas o trabalho é pior do que as sete pragas do Egito juntas. Na última 5ª feira, defendendo que os ricos paguem mais impostos, o presidente disse na sua primeira entrevista coletiva formal: “Eu quero mudar o paradigma. Vamos começar a recompensar o trabalho, não só a riqueza” (leia aqui, via New York Times, para assinantes).  Não por acaso todo o programa fiscal dos democratas se parece com medidas tributárias que são a regra na Europa: taxe os mais ricos para bancar programas sociais para os mais pobres.

A extravagância fiscal nos Estados Unidos é tão grande que se viu na última campanha uma daquelas cenas que parecem saídas de comédias malucas: ricos democratas defendendo aumento de impostos. A história só fica mais redonda quando se olha o outro lado da moeda _os republicanos. Trump, empresário que tem um patrimônio de US$ 700 milhões neste ano, ficou dez anos sem pagar impostos, de acordo com uma investigação do jornal The New York Times. De 2016 a 2017, Trump desembolsou US$ 750 em imposto de renda para o governo federal, enquanto um professor paga em média US$ 1.200. “Como qualquer outra pessoa da iniciativa privada, a menos que sejam estúpidas, elas usam as brechas da lei”, disse Trump, num debate no ano passado.

Biden vai enfrentar uma guerra de guerrilha dos republicanos porque corte de impostos é uma questão sagrada para a direita mundial, mesmo que os números mostrem que isso concentra riqueza e aumenta a desigualdade. A história, porém, parece estar mudando de rumo. Organismos internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apoiam a ideia de que os países cortem impostos dos mais pobres durante a crise e cobre uma “sobretaxa de solidariedade” dos ricos e das grandes empresas. A razão da sobretaxa é elementar, segundo os dois organismos. Enquanto os pobres ficaram mais pobres com a pandemia, os ricos ficaram mais ricos; muitas empresas também tiveram a mesma sorte dos ricos.

Não há, porém, a menor chance de esse tipo de debate chegar ao Brasil. Na semana passada, a Câmara aprovou um orçamento do tipo “Guerra nas Estrelas”; é pura fantasia. Tem até desafios lógicos, dificílimos de compreender: foi aprovado o corte de R$ 13,5 bilhões de despesas obrigatórias da Previdência. Depois não reclame que o Brasil virou um borrão de mortos empilhados no mapa mundi, do qual todos querem distância. Como se dizia nos pagodes do Cacique de Ramos, brincadeira tem hora.

Fonte: Poder 360

Compartilhe:

Leia mais
almirante othon recebe honraria da academia brasileira de ciencia
Mais importante cientista nuclear brasileiro, almirante Othon recebe honraria da ABC
Reunião ministério do trabalho benzeno
Sindicatos pedem debate amplo sobre revisão de NR que protege trabalhador exposto ao benzeno
fim da escala 6x1 tem apoio de 70% da população
Fim da escala 6x1 tem apoio de 70% da população, aponta pesquisa
justiça do trabalho sp aplica multa ao ifood e manda contratar entregadores
Justiça do Trabalho em SP multa iFood em R$ 10 milhões e manda app contratar entregadores
acampamento marielle franco pontal do paranapanema sp
Incra cadastra famílias em acampamento do MAST no Pontal do Paranapanema (SP)
ministro rui costa e ministra simone tebet
Mercado financeiro joga contra o país e ignora indicadores positivos, afirmam ministros
emprego e beneficios sociais reduzem pobreza no brasil
Emprego em alta e benefícios sociais reduzem pobreza no Brasil a menor patamar da história
trabalho intermitente salário minimo 2023
3 em cada 4 trabalhos intermitentes pagaram menos que um salário mínimo em 2023
glovo ifood espanhol contratará entregadores
"iFood" espanhol passa a contratar entregadores após multas milionárias e CEO investigado
piso regional rs reajuste 2024
Piso regional do Rio Grande do Sul terá reajuste de 5,25%; confira valores por faixa salarial