Embaixador defende o desenvolvimento da indústria e tecnologia brasileiras

Samuel P. Guimarães fala sobre “Desafios nos próximos anos na economia, na política e na sociedade

O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, diplomata e professor do Instituto Rio Branco (IRBr/MRE) expôs os “Desafios nos próximos anos na economia, na política e na sociedade” durante o Seminário de Pauta. Guimarães defendeu o desenvolvimento da economia nacional, fortalecimento da integração dos governos latino-americanos e o investimento em criação de tecnologia nacional.

De acordo com o diplomata, para entender o desenvolvimento econômico, é necessário compreender as características da formação do povo brasileiro. “O Brasil é formado por uma série de desigualdades raciais, regionais, sociais e financeiras. Estas disparidades se refletem na política nacional, e é na política que são formadas as diretrizes econômicas que favorecem o capital”, explica.

Outro ponto elencado pelo embaixador é a vulnerabilidade da indústria nacional. “Há muita descrença na economia brasileira, mas o Brasil é um país com grandes recursos naturais, que tem uma das maiores reservas de água doce do mundo. Além disso, temos uma grande população, que aumenta o potencial do mercado de consumo”, destacou.

Para Guimarães, atualmente vivemos o embate do desenvolvimento da economia versus a “estabilidade” defendida por setores do capital financeiro. “Não pode haver desenvolvimento acima de 4% porque gera inflação. Isso é um problema grave, pois os especuladores atrelam a inflação ao poder de consumo e argumentam que a culpa pela inflação é da valorização do salário mínimo. Essa é uma grande mentira. Tanto a inflação quanto os juros são consequências de uma série de fatores econômicos, e o principal deles é a política voltada para manutenção das desigualdades sociais. No entanto, o desenvolvimento econômico não depende apenas do crescimento da economia, mas depende do investimento na indústria nacional”, afirmou.

Desenvolvimento da indústria nacional

Segundo o embaixador, uma boa parte do parque industrial nacional não é brasileira. Se você for procurar em cada setor da economia, não vai encontrar mais de 40% de empresas que sejam 100% brasileiras. A indústria automotiva, por exemplo, é formada por mais de 90% de empresas estrangeiras. As multinacionais trazem para cá um maquinário antigo e sucateado que não é mais utilizado na matriz. Ou seja, as máquinas daqui não são competitivas porque não são de última geração. “Nós não conseguimos produzir bens que possam ser exportados competitivamente por conta do processo tecnológico. Mas, mesmo assim, é possível impor condições para que essas empresas sejam obrigadas a instalar e usar tecnologia mais avançada, sendo possível exportar e produzir produtos de alta qualidade”, disse.

O Brasil ainda não possui indústria nacional efetivamente forte. Além disso, existe a carência de desenvolvimento tecnológico de acordo com o diplomata. “Um exemplo foi a implementação da TV Digital. Esta foi uma oportunidade perdida pelo País, pois era a época ideal para implementar indústrias que desenvolvessem essa tecnologia por aqui. As empresas que produzem tecnologia no Brasil, em sua maioria, copiam o que vem de fora. O que precisa existir são empresas que criem novas tecnologias em território nacional. Isso contribuirá para o desenvolvimento econômico”, avaliou Guimarães.

De acordo com Joel Chnaiderman, diretor do Sinpd, o desenvolvimento brasileiro está atrelado à questão da educação e especialização. “Não só no campo das empresas nacionais voltadas para a tecnologia da informação, mas todas as companhias nacionais só se fortalecem se houver investimento na educação de base e profissional. O crescimento da economia brasileira passa diretamente pela educação e cultura”, afirmou.

Paulo Roberto de Oliveira, a década de 1990 foi um período em que o Brasil perdeu muitas indústrias nacionais, que quebraram com o aumento das importações e perderam espaço no mercado interno. “Para que não haja perda de mercado, é importante que existam leis que restrinjam a entrada de produtos importados, mas também é preciso que as empresas brasileiras invistam em tecnologia e se tornem mais competitivas”, disse o secretário de finanças do Sindpd.

Ademir Francisco, secretário de relações sindicais do Sindpd, acredita que o governo deveria oferecer mais incentivos para que sejam criadas empresas nacionais voltadas para o desenvolvimento tecnológico. “Temos bons profissionais e jovens criativos que têm vontade e talento para desenvolver produtos e tecnologia de ponta, no entanto muitos deles acabam sendo contratados por empresas no exterior. Se forem criadas mais empresas aqui, com certeza abriremos mais vagas e reteremos talentos”, afirma.

Além do fortalecimento da indústria brasileira, o embaixador também citou a questão da desnacionalização das empresas. O Grupo Pão de Açúcar, uma das maiores e mais antigas empresas brasileiras, vendida em 2013 para um grupo francês, é um exemplo disso. “O governo federal oferece uma série de financiamentos e benefícios para empresas nacionais. Essas companhias recebem crédito do governo em situações especiais e não deveriam ser vendidas para grupos de capital estrangeiro. Quando há desnacionalização de companhias brasileiras, o País perde muito. A receita que seria revertida para o crescimento do Brasil vai direto para o exterior, postos de trabalho são fechados e o número de produtos importados que vêm para abastecer essa empresa aumenta muito. Com a desnacionalização de companhias nacionais, o Brasil só perde”, finalizou.

Fonte: Sindpd

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