Com mercado de trabalho e de crédito aquecidos, BC promete novo aumento de juros

A taxa básica de juros da economia, a Selic, deve aumentar novamente em um ponto percentual (p.p), em março, aponta a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom*) divulgada nesta terça-feira (4).

Na semana passada, o Banco Central aumentou a Selic em 1 p.p para 13,25% ao ano, por entender que a decisão ajudará a reduzir a inflação em direção à meta, que é de 3%, com margem de 1,5 p.p para mais ou para menos.

A ata destacou que os preços dos alimentos se elevaram de forma significativa, em função, dentre outros fatores, da estiagem observada ao longo do ano passado e da elevação de preços de carnes, também afetada pelo ciclo do boi.

Mantido o cenário apresentado no documento, o comitê aponta que a inflação deve ficar acima da meta pelos próximos 6 meses e, por isso, um novo aumento dos juros deve ocorrer na próxima reunião.

“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, informa o Copom.

Demanda em alta

Outro “problema” destacado pelo Copom é que o mercado de trabalho se mostrou aquecido, assim como o mercado de crédito. De acordo com o grupo, esse quadro foge do cenário defendido pelo Banco Central para redução da inflação, que um cenário de política econômica contracionista e desaceleração da atividade econômica.

“A decisão de elevar ainda mais os juros básicos da economia brasileira, em um momento em que o mundo caminha na direção oposta, condena a semeadura dos últimos dois ano. Em vez de colher os frutos prometidos, o povo brasileiro pode ser entregue a uma colheita amarga de desemprego, recessão e descrença nas instituições”, disse em nota o presidente da CSB, Antonio Neto, a respeito do último aumento da Selic.

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O BC voltou a apontar o dinamismo da economia com vigor nas concessões de crédito amplo, política fiscal expansionista e o fomento do pleno emprego como fatores que têm dado suporte ao consumo e à demanda agregada, pressionando a inflação.

“Como o mercado de trabalho segue aquecido, é difícil avaliar em que medida uma eventual desaceleração refletiria enfraquecimento da demanda ou pressões de oferta, portanto, com impactos diferentes sobre a inflação”, diz a ata.

O presidente CSB destaca, no entanto, que alta da Selic não resolve a inflação atual, que é majoritariamente de oferta e não de demanda, e apenas agrava o quadro, uma vez que o setor produtivo – que pode combater a inflação aumentando a oferta – está em recuperação e é diretamente atingido pela alta dos juros.

Além disso, os principais fatores que pressionam os preços – como custo energético e os impactos das mudanças climáticas na produção de alimentos – não são influenciados pela taxa de juros.

“O aumento da Selic só agrava as dificuldades no ajuste das contas públicas, uma vez que cada ponto percentual de elevação amplia em R$ 70 bilhões os gastos com o serviço da dívida, recursos que poderiam ser investidos em saúde, educação, infraestrutura e geração de empregos”, apontou Neto.

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Cenário internacional

Em relação ao cenário externo, o Copom afirma que o cenário também é desafiador, em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos. O cenário-base do comitê segue sendo de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana.

Entretanto, o comitê chama a atenção para algumas incertezas na política econômica, tais como a introdução de tarifas à importação, adoção de possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, e alterações importantes em preços relativos decorrentes de reorientações da matriz energética, “o que pode impactar negativamente as condições financeiras e os fluxos de capital para economias emergentes.”

“O comitê acompanhou com atenção os movimentos do câmbio, que tem reagido, notadamente, às notícias fiscais domésticas, às notícias da política econômica norte-americana e ao diferencial de juros. A consecução de determinadas políticas nos Estados Unidos pode pressionar os preços de ativos domésticos”, diz a ata.

Com informações de Agência Brasil
*Foto: Atuais membros do Copom. Crédito da imagem: Raphael Ribeiro/Banco Central

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