“Regulamentar a profissão de TI no Brasil é prioridade”, diz presidente eleito da Fenati

Na última segunda-feira (14), Emerson Morresi foi eleito presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores de Tecnologia da Informação (Fenati) pelos próximos seis anos. Além de eleger uma nova diretoria, a federação sindical de TI também aprovou a mudança do seu nome – de Feittinf para Fenati – para adequar a sua base de representação nacional e seguir avançando na defesa dos interesses dos profissionais de TI por todo o Brasil.

A eleição de Morresi ocorreu durante o 3º Congresso Nacional da entidade, em São Paulo, que reuniu lideranças sindicais de TI de diversos estados do país. “Foram dias de muita troca, muita conversa. Um clima muito legal. Estamos no nosso melhor momento e temos um caminho gigantesco pela frente. Agora, é ‘arregaçar as mangas’ e trabalhar muito”, avaliou, na ocasião.

Para o dirigente sindical, os desafios pela frente são muitos diante de um setor que segue em expansão e que enfrenta os prós e contras de uma verdadeira revolução tecnológica que o mundo tem assistido nos últimos anos. “Temos enfrentado uma verdadeira batalha contra a pejotização no setor, que deixa trabalhadores desprotegidos, sem nenhum direito garantido. Existem outras formas de contratação irregular ocorrendo e que também temos enfrentado, como as cooperativas ilegais”, explica.

“Uma prioridade para nós é garantir a regulamentação da profissão de TI como categoria diferenciada, para valorizar e reconhecer a importância desses profissionais para o Brasil” – Emerson Morresi, presidente eleito da Fenati

Enfrentar práticas antissindicais e abusos cometidos por empresas, algumas delas gigantes de TI, também é outra “batalha” que está sendo travada. “Temos que trabalhar em diversas frentes e é isso que estamos fazendo”, pontua.

O dirigente sindical lembra que a Reforma Trabalhista de 2017, que retirou direitos de trabalhadores, enfraqueceu as negociações coletivas e asfixiou os sindicatos financeiramente, também transformou o relacionamento das entidades sindicais com as empresas. Para pior, claro. O cenário só começou a mudar a partir de 2023.

“A relação tem melhorado. Claro, isso não aconteceu naturalmente. Tivemos que enfrentar e expor empresas, algumas delas entre as líderes do setor, por conta dos abusos cometidos contra os trabalhadores. Foi preciso forçá-las, sob o peso da lei, a cumprirem as Convenções Coletivas de Trabalho (CCT) da categoria nos mais diferentes estados do Brasil”, aponta Morresi.

CCTs uniformizadas e ampliação de benefícios para os profissionais

Outro ponto no horizonte da Fenati é a ideia de uniformizar as convenções da categoria, garantindo que os trabalhadores de TI tenham os mesmos direitos e benefícios por todo o país. “Não é razoável que um trabalhador de TI, seja do Paraná, seja da Bahia, tenha menos direitos e benefícios que um trabalhador da área em São Paulo, por exemplo. O objetivo é ampliar os benefícios e garanti-los para todos os trabalhadores e trabalhadoras da categoria”, diz o presidente da Fenati.

Uma iniciativa que tem sido um grande sucesso é o Sindplay, um streaming de capacitação para profissionais de TI o qual sócios e contribuintes dos sindicatos integrados à Fenati têm bolsa integral de acesso. A plataforma já possui cerca de 90 cursos e mais de 15 mil alunos.

“A prova do sucesso é que o Sindplay foi premiado na categoria Inovação e Transformação Digital no SindMais 2024. A mídia especializada apelidou a ferramenta de ‘Netflix de TI’, tamanha a repercussão que o projeto gerou no setor. Atualmente, sócios e contribuintes de quatro sindicatos podem acessar o Sindplay. Queremos mais”, defende.

Sobre os sindicatos filiados à Fenati, Emerson Morresi quer replicar um modelo de gestão sindical a partir das experiências vividas pelo Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo). Isto passa pela criação do Comitê de Operações Especiais (COE), que integra diferentes setores da organização sindical, como a comunicação, setor de apuração de denúncias e o departamento jurídico, que atuam em conjunto. Além disso, o COE utiliza elementos de BI (Business Intelligence) para o cruzamento de uma série de dados e de Inteligência Artificial (IA) em várias etapas deste processo. E o resultado é muito positivo.

Emerson Morresi e o presidente do Sindpd-SP, Antonio Neto

“Nós desenvolvemos um modelo de sucesso. E aí pensamos: por que não levar esse modelo para outros sindicatos filiados? E começamos, neste ano, a integrar outros sindicatos nesse processo. Atualmente, temos quatro sindicatos integrados ao sistema montado pela Fenati. O resultado já começou a aparecer. O fortalecimento dessas entidades é notório”, conta.

Morresi se refere à adesão de três sindicatos, além do Sindpd-SP, ao modelo. Trata-se do Sinttec-MG (Sindicatos dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de Uberlândia), do Sitepd-PR (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Privadas de Processamento de Dados de Curitiba e Região e Metropolitana) e do Sintipar-PR (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas e Cursos de Informática do Estado do Paraná).

“Recentemente, conquistamos um reajuste salarial, no Paraná, de 5% para todos os trabalhadores de TI do estado. Isso representa um aumento real, acima da inflação, para estes profissionais. Não é pouca coisa em um país que assistiu o achatamento dos salários da classe trabalhadora por tantos anos” – Emerson Morresi, presidente eleito da Fenati.

O projeto é ambicioso e a federação quer seguir expandindo o modelo, integrando outros sindicatos filiados, fortalecendo a federação e por consequência, as entidades sindicais filiadas à Fenati. “Queremos promover um processo de integração nacional entre os sindicatos de TI. Atualmente, temos sindicatos filiados em nove estados e queremos avançar cada vez mais. Estamos no nosso melhor momento, sabemos que temos muito trabalho pela frente, mas não vai faltar dedicação e empenho por parte da Fenati”, finaliza o presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação.

Confira abaixo a entrevista completa com Emerson Morresi, presidente eleito da Fenati:

1 – Quais são os principais desafios atuais do setor de TI, no âmbito dos trabalhadores e trabalhadoras?

R: Os desafios são muitos. Por exemplo, temos enfrentado uma verdadeira batalha contra a pejotização no setor, que deixa trabalhadores desprotegidos, sem nenhum direito garantido. Existem outras formas de contratação irregular ocorrendo e que também temos enfrentado, como as cooperativas ilegais. Uma prioridade para nós é garantir a regulamentação da profissão de TI como categoria diferenciada, para valorizar e reconhecer a importância desses profissionais para o Brasil. Um outro grande desafio tem sido combater as práticas antissindicais, cometidas por algumas companhias, dentro do setor. Temos que trabalhar em diversas frentes e é isso que estamos fazendo.

2 – Como é a relação dos sindicatos de TI com as empresas, algumas delas gigantes multinacionais?

R: A relação tem melhorado. Após a Reforma Trabalhista, que enfraqueceu as negociações coletivas e asfixiou as entidades financeiramente, a coisa piorou muito. Foram anos de uma relação muito ruim, que começou a melhorar do ano passado para cá. Claro, isso não aconteceu naturalmente. Tivemos que enfrentar e expor empresas, algumas delas entre as líderes do setor, por conta dos abusos cometidos contra os trabalhadores. Foi preciso forçá-las, sob o peso da lei, a cumprirem as Convenções Coletivas de Trabalho (CCT) da categoria nos mais diferentes estados do Brasil. Após muitos embates, inclusive jurídicos, estamos avançando para garantir que os profissionais de TI sejam respeitados em todo o país.

3 – O senhor foi eleito presidente da Fenati, cargo que ocupará até 2030. Que medidas e propostas estão no horizonte da federação para os próximos anos?

R: Uma coisa que vamos trabalhar muito para concretizar é uniformizar as CCTs por todo o país. Não é razoável que um trabalhador de TI do Paraná, da Bahia, tenha menos direitos e benefícios que um trabalhador da área em São Paulo, por exemplo. Outro exemplo é que queremos que todo profissional de TI tenha direito a parte do lucro das empresas através da Participação em Lucros e Resultados (PLR). O objetivo é ampliar os benefícios e garanti-los para todos os trabalhadores e trabalhadoras da categoria. Uma iniciativa nossa que tem sido um grande sucesso é o Sindplay, um streaming de capacitação para profissionais de TI o qual sócios e contribuintes dos nossos sindicatos têm bolsa integral de acesso. A plataforma já possui cerca de 90 cursos e mais de 15 mil alunos. A prova do sucesso é que o Sindplay foi premiado na categoria Inovação e Transformação Digital no SindMais 2024. A mídia especializada apelidou a ferramenta de ‘Netflix de TI’, tamanha a repercussão que o projeto gerou no setor. Atualmente, sócios e contribuintes de quatro sindicatos podem acessar o Sindplay. Queremos mais.

4 – O que a Fenati propõe para o futuro na relação com os seus sindicatos filiados?

R: Nós desenvolvemos um modelo de sucesso, a partir das experiências que vivemos no Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo). Isto é, criamos um organismo chamado Comitê de Operações Especiais (COE), que integra diferentes setores da organização sindical, como a comunicação, setor de apuração de denúncias e o departamento jurídico, que atuam em conjunto. Além disso, o COE utiliza elementos de BI (Business Intelligence) para o cruzamento de uma série de dados e de Inteligência Artificial (IA) em várias etapas deste processo. E o resultado foi muito positivo, fortaleceu a atuação do sindicato lá em São Paulo. E aí pensamos: por que não levar esse modelo para outros sindicatos filiados?

E começamos, neste ano, a integrar outros sindicatos nesse processo. Atualmente, temos quatro sindicatos integrados ao sistema montado pela Fenati. Além do Sindpd-SP, tivemos a entrada do Sinttec-MG (Sindicatos dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de Uberlândia) e de dois sindicatos do Paraná, o Sitepd-PR (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Privadas de Processamento de Dados de Curitiba e Região e Metropolitana) e o Sintipar-PR (Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas e Cursos de Informática do Estado do Paraná) nesse projeto. O resultado já começou a aparecer. O fortalecimento dessas entidades é notório. Recentemente, conquistamos um reajuste salarial, no Paraná, de 5% para todos os trabalhadores de TI do estado. Isso representa um aumento real, acima da inflação, para estes profissionais. Não é pouca coisa em um país que assistiu o achatamento dos salários da classe trabalhadora por tantos anos.

5 – Então, expandir esse modelo pelo Brasil é uma meta da federação?

R: Exatamente. O que nós propomos na Fenati é levar esse modelo de sucesso para outros sindicatos, de diversos estados do Brasil. Queremos promover um processo de integração nacional entre os sindicatos de TI. Atualmente, temos sindicatos filiados em nove estados e queremos avançar cada vez mais. Estamos no nosso melhor momento, sabemos que temos muito trabalho pela frente, mas não vai faltar dedicação e empenho por parte da Fenati.

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