O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) divulgou uma nota repudiando a fala do vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gedeão Silveira Pereira, que afirmou que não existe trabalho escravo em “uma das regiões mais ricas do Brasil” ao comentar sobre o caso dos 207 trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão em fazendas produtoras de uva no Rio Grande do Sul em fevereiro do ano passado.
Para o empresário, que também é presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o caso foi “uma distorção das aplicações da legislação trabalhista” e os trabalhadores na colheita recebem “um salário até superior a qualquer salário mínimo vigente no país”. No entanto, eles estavam com pagamentos atrasados, recebiam menos do que lhes foi prometido e sofriam até mesmo violência com spray de pimenta e máquinas de choque.
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“A negação da existência de trabalho escravo em vinícolas do Rio Grande do Sul, feita por Gedeão no último dia 10 de junho, é inadmissível e remonta a várias décadas atrás, quando eram silenciadas as denúncias que davam conta da persistência da exploração nos moldes escravocratas em plena era republicana”, afirmou o Sinait.
Confira a íntegra da nota do Sinait:
Trabalho escravo existe, sim!
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho – SINAIT, em sintonia com os representantes dos trabalhadores, repudia veementemente a lamentável declaração do fazendeiro Gedeão Silveira Pereira durante a Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra. Esperamos que a fala de Gedeão não represente a opinião do setor agropecuarista nacional, a despeito da posição do fazendeiro como representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
A negação da existência de trabalho escravo em vinícolas do Rio Grande do Sul, feita por Gedeão no último dia 10 de junho, é inadmissível e remonta a várias décadas atrás, quando eram silenciadas as denúncias que davam conta da persistência da exploração nos moldes escravocratas em plena era republicana.
Como braço do Estado responsável pelo combate ao trabalho escravo, os Auditores(as) Fiscais do Trabalho constatam a persistência dessa chaga em todas as regiões do Brasil, inclusive no Rio Grande do Sul. Casos recentes, como o resgate de mais de 200 trabalhadores na colheita de uva em regime análogo à escravidão em fevereiro de 2023, em Bento Gonçalves (RS), são provas que derrubam o negacionismo contido na infeliz declaração do fazendeiro.
Ignorar esse e tantos outros episódios é fechar os olhos para a exploração e o sofrimento de muitos brasileiros que, ao procurar trabalho, acabam tendo sua liberdade restringida, são submetidos a condições degradantes, e ainda sofrem agressões físicas, como aliás ocorreu naquele município.
O combate ao trabalho escravo é uma prioridade e um compromisso do Brasil com os direitos humanos. A proteção à dignidade e aos direitos fundamentais dos trabalhadores deveria ser o suficiente para que esse enfrentamento tivesse o apoio de todos os setores da sociedade. Mas como isso parece não bastar para alguns, é preciso registrar que o esforço do país para garantir trabalho decente é fundamental para sua imagem no exterior e para que os diversos mercados que o país abastece com a exportação dos mais diversos tipos de produtos, mormente gêneros alimentícios, sejam mantidos abertos e receptivos.
O mundo está cada vez menos disposto a consumir itens produzidos a partir da exploração de seres humanos. Infelizes e desinformadas, além de retrógradas, as afirmações de Gedeão Pereira ameaçam manchar a imagem do agro brasileiro no cenário internacional.
O Brasil deve seguir firme no combate a todas as formas de exploração e na defesa dos direitos humanos, a fim de assegurar um futuro livre, justo e solidário para todos, como prometido pela Constituição brasileira. Com esse objetivo, o SINAIT e seus representados, sempre atuarão com diligência e sempre se erguerão para repudiar inverdades!