Em declaração feita nesta quarta-feira (06), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que o país passará a aplicar uma tarifa de 100% sobre a importação de chips semicondutores. No entanto, companhias que já operam fábricas em solo americano ou que estejam oficialmente comprometidas com sua construção ficariam isentas da cobrança.
“Então, 100% de tarifa sobre todos os chips e semicondutores que entram nos Estados Unidos. Mas se você assumiu o compromisso de construir [nos EUA], ou se está em processo de construção [nos EUA], como muitos estão, não há tarifa”, afirmou Trump.
A iniciativa faz parte da intenção do ex-presidente de favorecer a indústria norte-americana e promete afetar diretamente grandes empresas do setor tecnológico. “Se, por alguma razão, você disser que está construindo [uma fábrica] e não construir, então voltaremos e adicionaremos mais. Isso vai acumular e nós vamos cobrá-lo posteriormente — você terá que pagar. É uma garantia”, disse.
Contexto e impactos globais
O Congresso americano criou, em 2022, um programa de subsídios de US$ 52,7 bilhões (R$ 289 bilhões) para fabricação e pesquisa em semicondutores. No ano passado, o Departamento de Comércio, sob o governo Biden, convenceu as cinco principais empresas do setor a instalar fábricas nos EUA.
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Caso a medida se concretize, a indústria brasileira seria pouco afetada diretamente, já que o país é mais consumidor do que exportador de chips. Em 2024, o Brasil importou US$ 6,3 bilhões (R$ 34,5 bilhões) em semicondutores, enquanto exportou apenas US$ 8,5 milhões (R$ 46,6 milhões), segundo dados do MDIC. A maior parte da produção nacional tem como destino países da América do Sul.
No entanto, como os semicondutores são parte essencial de cadeias globais, a medida pode impactar preços de produtos eletrônicos como computadores, smartphones e veículos.
Apple promete investir US$ 100 bilhões nos EUA
Uma das gigantes que podem ser beneficiadas pela isenção é a Apple, que anunciou planos de investir US$ 100 bilhões (R$ 548 bilhões) nos Estados Unidos, ampliando sua produção local para evitar tarifas.
Em fevereiro, a empresa já havia divulgado a intenção de gastar US$ 500 bilhões (US$ 2,7 trilhões) e contratar 20 mil pessoas no país nos próximos quatro anos, incluindo uma nova fábrica no Texas. Apesar disso, a Apple ainda não atendeu à demanda de Trump para fabricar iPhones em território americano. A maior parte de sua produção continua concentrada na China, Vietnã, Tailândia e Índia.
Reações internacionais
Em Taiwan, onde é a sede da TSMC – que domina 67,6% do mercado de fabricação de chips -, o Ministro do Conselho Nacional de Desenvolvimento, Liu Chin-ching, revelou que empresas taiwanesas já estudam alternativas como a instalação de fábricas em território americano ou a aquisição de negócios locais para evitar os impactos da medida.
Já nas Filipinas, Dan Lachica, representante das indústrias de eletrônicos e semicondutores, classificou a proposta como “devastadora” para o setor no país, que depende significativamente das exportações de componentes eletrônicos.
A Coreia do Sul, por sua vez, parece estar em posição mais confortável. Yeo Han-koo, principal encarregado comercial sul-coreano nos EUA, assegurou que gigantes locais como Samsung Electronics e SK Hynix não serão afetadas pelas tarifas, graças aos termos do acordo comercial entre Washington e Seul.
Enquanto isso, a China – principal base de produção da Apple e de muitas outras fabricantes de eletrônicos – permanece em silêncio oficial sobre o anúncio.
Com informações de Tec Mundo e Folha de S.Paulo
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