Presidente do STF elevou o tom contra titular da Economia em encontro com sindicalistas
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, fez críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, em reunião com líderes sindicais nesta terça-feira (19). Em tom duro, segundo participantes do encontro, ele disse que Guedes se ausenta na condução da crise provocada pela pandemia da Covid-19.
Toffoli afirmou que o país está há dois meses sem respostas e cobrou responsabilidade do ministro, lembrando que a pasta assumida por ele é a fusão de três antigos ministérios (Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio Exterior, além de setores do Trabalho), conforme relatos colhidos pela Folha.
O presidente do STF disse a certa altura na videoconferência, segundo interlocutores, que se pergunta “cadê o Paulo Guedes?” e ironizou que o Posto Ipiranga, alcunha dada ao auxiliar pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), não está resolvendo os problemas.
José Antonio Dias Toffoli foi o oitavo e último ministro nomeado por Lula. Ele chegou à corte em 2009, aos 41 anos, em uma das indicações mais polêmicas do então presidente. Na época, era o ministro mais jovem dos 11 que compunham o supremo. Antes de chegar à cadeira, Toffoli foi AGU e subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil Adriano Machado – 10.dez.19/Reuters
A notícia na página do STF informou ainda que, para o magistrado, “a falta de coordenação no combate à Covid prejudica a retomada da economia”.
O presidente da corte repetiu a narrativa apresentada no dia em que a caravana de empresários, liderada por Bolsonaro e Guedes, foi de surpresa ao STF. Ele disse, em duas ocasiões, que o Judiciário só pode interferir se for provocado e que, por iniciativa própria, não tem como tomar providências.
Os porta-vozes das centrais sindicais também ouviram de Toffoli a recomendação de que as soluções sejam discutidas no âmbito político. “Não há outro caminho que não seja pela política”, disse.
Participaram da videoconferência, entre outros, os presidentes da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Sérgio Nobre, da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), Antônio Neto, da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), Adilson Araújo, e da Força Sindical, Miguel Torres.
Segundo participantes, Toffoli emendou as críticas a Guedes após escutar reclamações da comitiva sobre o que foi chamado de desgoverno de Bolsonaro no encaminhamento da crise. Ele disse, então, que não se pode culpar exclusivamente o presidente da República. E, em tom enfático, cobrou atitudes de Guedes.
Os principais temas do encontro foram o aumento do desemprego e as condições precárias de trabalho durante a pandemia e depois dela, além da necessidade de incentivos à retomada econômica. Os sindicalistas pediram respeito à legislação trabalhista e atenção do tribunal a violações de direitos.
A videoconferência foi solicitada pelas centrais, reunidas em um fórum, em resposta à ida do grupo de empresários ao STF. A CUT, por exemplo, atacou a “pressão desenfreada por parte de setores empresariais” pelo fim das medidas de distanciamento social, que compromete a vida de trabalhadores.
No diálogo com o representante do Judiciário, as entidades se queixaram da ausência de políticas para manutenção de empregos e retorno da atividade econômica. Toffoli, segundo os participantes, defendeu que as centrais participem dos debates nacionais sobre o enfrentamento à crise.
“Ele é favorável a que os atores sociais, inclusive as centrais, participem do comitê de crise federal”, disse Ricardo Patah, da UGT. “Toffoli acha que temos muito a contribuir, que estamos na ponta e sabemos do sofrimento dos trabalhadores.”
“Ele afirmou ser um defensor da democracia participativa e ver com bons olhos o envolvimento da sociedade civil na tomada de decisões”, acrescentou Adilson Araújo, da CTB.
Antônio Neto, da CSB, confirmou a intenção das centrais de estabelecer diálogo com o Judiciário e o Legislativo, como sugeriu Toffoli. “Bolsonaro deveria estar coordenando ações para enfrentar o vírus, mas prefere organizar grupelhos que atacam a as instituições, a imprensa e a democracia”, afirmou.
Procurados via assessoria, nem o STF nem o Ministério da Economia comentaram o assunto.
Fonte: Folha de S. Paulo