O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a realizar um piloto da semana de 4 dias de trabalho, com 19 empresas e 252 colaboradores. Os resultados indicaram que 97% (ou 244 dos 252 trabalhadores) gostariam de trabalhar nessa jornada reduzida, apontando aumento da produtividade e redução da ansiedade como benefícios.
Os dados são de um projeto da 4 Day Week Global e Boston College, em parceria com a Reconnect Happiness at Work e a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV).
Após 6 meses de teste da jornada de 4 dias, que consistiu em manter os mesmos salários com carga horária 20% menor, mais da metade dos colaboradores registraram uma melhoria na execução dos projetos e maior capacidade em cumprir prazos. O maior impacto está na criatividade e inovação, ponto indicado por 80,7% dos trabalhadores.
Leia também: Menos faltas e mais foco: os primeiros resultados da semana de 4 dias de trabalho no Brasil
Os benefícios se refletem não só no ambiente de trabalho, mas também na saúde mental das pessoas: 8 em cada 10 funcionários sentiram mais energia para realizar as tarefas, enquanto quase 46% reduziram a sensação de desgaste no final do dia e 30,5% sentem menos ansiedade na semana.
Com isso, os impactos da semana de quatro dias de trabalho são benéficos às empresas e às pessoas envolvidas, avalia Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness at Work e uma das responsáveis pelo estudo, em entrevista à CNN Brasil.
Em agosto de 2023, Rivetti deu uma palestra na sede do Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação de São Paulo), em São Paulo, e descreveu o projeto e a necessidade de transformar a atual realidade do mercado de trabalho brasileiro.
“O modelo atual não gera aumento de produtividade e têm adoecido mentalmente os brasileiros”, defendeu Rivetti na ocasião.
Por exemplo, levantamentos apontam que o Brasil é o 1º lugar do mundo em transtornos de ansiedade, 2º em casos de Síndrome de Burnout (ou síndrome do esgotamento) e o 5º em depressão.
Relacionada: CNS vai investigar mortes relacionadas ao sofrimento mental causado por trabalho
“Tem pessoas que se sentem culpadas por ter um dia extra e pensam ‘nossa, não estou trabalhando, será que eu sou produtiva?’. A gente foi criada em uma sociedade que hoje acredita que não pode parar. Isso não é produtivo. Ao contrário, está levando a gente para um esgotamento. Essa é uma realidade”.
Adaptação necessária
À CNN Brasil, Rivetti ressalta que os negócios ainda precisam se adaptar. “É preciso que a empresa faça mudanças. Esse não é um projeto de tirar a sexta-feira, ele fala muito mais sobre redesenhar o trabalho. As empresas que falaram que deu certo passaram por uma priorização das atividades, usaram tecnologia, reviram a comunicação e trabalharam a relação entre as pessoas”, afirmou.
Dentre as iniciativas que podem ser feitas, segundo ela, é reservar um momento na agenda para de fato trabalhar, em detrimento de muitas reuniões, e ter um planejamento objetivo e detalhado são essenciais.
Veja também: Flexibilidade de jornada é prioridade para 30% dos trabalhadores no Brasil
Com essas mudanças, o impacto social também é visível. Dentre os que participam do teste no Brasil, 90,1% relataram que se tornaram mais colaborativos, 71,3% tiveram um aumento na energia para amigos e família e 49% sentiram que se relacionaram melhor com seus gestores.
Além disso, essa percepção também possui um recorte de gênero. Rivetti afirma que o projeto “percebeu a mulher falando que conseguiu equilibrar melhor essas jornadas, e homens héteros falando que conseguem passar mais tempo com a família”.
A pesquisa tem 63,7% de mulheres e 36,3% de homens, em sua maioria na faixa dos 18 a 24 anos e 20 a 24 anos. Entre eles, quase 7 em cada 10 possuem filhos, e a maior parte é casado.
“A gente está em um momento do mundo que estamos trabalhando para desmistificar a ideia de que horas trabalhadas significam produtividade. A gente entende que, no final, dá para trabalhar melhor, tendo a sustentabilidade humana para ter uma sustentabilidade nos negócios”, diz.
Mesmo assim, o Brasil ainda vive em um cenário em que se premiam os ‘workaholic’ (trocadilho em inglês que significa ‘viciado em trabalho’), e por isso, “o país não está preparado para amanhã expandir 100% uma semana de quatro dias, mas para discutir um trabalho mais flexível chegarmos a um grau de maturidade”, conclui Rivetti.
Com informações de CNN Brasil