Teste da semana de 4 dias de trabalho no Brasil começa em setembro; entenda o projeto

O experimento da semana de 4 dias de trabalho vem avançando pelo mundo, com resultados quase unanimemente positivos. Em Portugal, empresas privadas já iniciaram o teste da jornada menor sem redução de salário, com apoio do governo. No Brasil, algumas empresas também testarão a mudança nos próximos meses, mas sem apoio do governo por enquanto.

O projeto é coordenador pela organização 4 Day Week (Semana de 4 Dias), que relata os resultados dos experimentos: além dos ganhos para os trabalhadores, que têm um dia a mais para outras atividades, as empresas observaram ganho de produtividade.

De acordo com a organização, 92% das 61 empresas que participaram do teste no Reino Unido decidiram manter a semana de trabalho de quatro dias.

Lá, 2,9 mil trabalhadores participaram do projeto, que, segundo a entidade, reduziu em 71% os casos de síndrome de burnout (esgotamento). Para 15% dos quase 3 mil trabalhadores, nenhum aumento de salário os faria voltar a trabalhar cinco dias na semana.

Saiba mais detalhes: Países testam semana de 4 dias de trabalho por semana; veja vantagens observadas

“Por muito tempo se enxergou o trabalho como fardo, e hoje a gente vê, nesse pós-covid, pessoas começando a repensar suas vidas, suas carreiras, o tempo que a gente se dedica para o trabalho, como as novas gerações que vêm entrando e começando a questionar tudo isso”, contou a diretora da 4 Day Week no Brasil, Renata Rivetti, ao portal Brasil de Fato.

“Eu não quero só trabalhar, eu quero também ser feliz. Então hoje a gente tem atuado muito em grandes organizações, fazendo essa conscientização e levando ferramentas para os líderes fazerem mudanças de hábitos”, disse ela.

Apesar de se observar diversas melhorias aos trabalhadores, a organização explica que o projeto tem como foco a produtividade, o que atrai a atenção das empresas privadas que aceitam participar do experimento. Enquanto a produtividade de fato aumenta, os ganhos também são percebidos em outras áreas.

“As pessoas estão tendo mais tempo para dormir, mais tempo para atividades físicas, mais tempo para marcar uma consulta. O nível de retenção [de profissionais nas empresas] é maior, o nível de atestados é menor. Vamos pela produtividade, mas os dados mostram para a gente resultados muito maiores”, afirmou Gabriela Brasil, líder de comunidade da 4 Day Week Global, em entrevista ao Brasil de Fato.

Apoio do governo em Portugal

No ano passado, o governo português se juntou à 4 Day Week para lançar o projeto no país. O Estado cobriu os custos com suporte técnico e administrativo para apoiar as empresas participantes da experiência que será feita por até seis meses, com a possibilidade de as empresas deixarem o teste antes disso.

No país, foi seguida a regra chamada de “100-80-100”, que significa que os trabalhadores receberão 100% do salário trabalhando 80% da carga horário se mantiverem 100% da produtividade coletiva.

Para as empresas brasileiras, a adoção ao projeto-piloto tem um custo que varia de R$ 7 mil, para empresas com até 20 funcionários, a R$ 75 mil, para aquelas com mil trabalhadores ou mais. O período de inscrição das empresas termina agora em julho, e nos dois meses seguintes será a fase de preparação e planejamento.

A organização não divulgou quantas inscrições já recebeu no país, mas a expectativa inicial era atrair 40 empresas, e 300 demonstraram já demonstraram interesse, desde microempresas a gigantes multinacionais.

Os dados coletados durante o andamento do projeto serão analisados pelo Boston College, nos Estados Unidos, e pela Cambridge University, no Reino Unido, que são parceiras da organização nos testes realizados em todo mundo. Universidades e centros de pesquisas do Brasil também podem realizar estudos paralelos, como pesquisas qualitativas.

“Os estudos mostram que a gente é produtivo de duas a três horas por dia. A gente está sobrecarregado, mas mesmo assim a gente é pouco produtivo, pouco engajado. Então hoje, quando a gente olha resultados mais racionais e financeiros, a gente tem baixo engajamento e baixa produtividade e, ao mesmo tempo, os indicadores estão péssimos também em saúde mental. O Brasil é líder em vários aspectos supernegativos da saúde mental. As pessoas não estão bem, as pessoas estão ansiosas, estão sobrecarregadas e sofrendo de burnout“, disse Rivetti.

Sindicatos apoiam redução da jornada

Presidente da CSB e do Sindpd-SP (Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação), Antonio Neto tem defendido a redução da jornada para quatro dias por semana tendo em vista os efeitos positivos observados ao redor do mundo tanto para trabalhadores, quanto para a produtividade.

“A jornada de trabalho de 4 dias por semana é uma mudança que pode trazer muitos benefícios para os trabalhadores, as empresas e a sociedade em geral. Com mais tempo livre, os trabalhadores ficam mais saudáveis, mais produtivos e mais felizes. Países europeus já experimentaram essa mudança com sucesso, e é hora de outras empresas e países seguirem esse exemplo e explorarem os benefícios da jornada de trabalho mais curta”, disse Neto em texto de sua autoria de março deste ano.

Veja íntegra: Brasil precisa ingressar no Século XXI nos direitos trabalhistas

Desde que foi anunciado que a 4 Day a Week faria o projeto piloto no Brasil, o Sindpd-SP se colocou à disposição das empresas do setor para firmar acordos coletivos para viabilizar a semana de quatro dias.

O diretor-adjunto do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Victor Pagani, aponta também que o mercado de trabalho vem mudando com o avanço tecnológica, o que deveria ser aproveitado como uma oportunidade para as pessoas poderem ter menos horas de suas vidas ocupadas pelo trabalho.

“Nesse contexto de avanço das tecnologias, a redução da jornada também seria de uma forma de fazer com que todos trabalhem menos, mas que todos tenham um trabalho. Que a gente deixe de ter esse mercado de trabalho muito polarizado: poucas pessoas com jornadas muito intensas, muito extensas, também, trabalhando muitas horas, e por outro lado grande parte de trabalhadores desempregados ou com uma jornada insuficiente para sustento, seu e da família”, disse ao Brasil de Fato.

Informações: Brasil de Fato, com edições de CSB

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