Sem legislação que assegure representação sindical, organização dos trabalhadores da Nissan nos EUA é coibida

Decisão é exemplo do que pode ocorrer no Brasil com a reforma trabalhista

Soa o alerta aos brasileiros sobre o nebuloso futuro das relações laborais após a aprovação da reforma trabalhista e o consequente enfraquecimento da CLT. Sem uma lei federal que regule e proteja os vínculos empregatícios nos Estados Unidos como a Consolidação das Leis do Trabalho no Brasil, foi vetada, na última sexta-feira (4), a representação dos funcionários da montadora Nissan, do estado de Mississipi, pelo sindicato da categoria, a United Automobile, Aerospace and Agricultural Implement Workers of America, ou apenas Union (UAW). Com a proibição, 6.400 trabalhadores estão impedidos de se organizarem legalmente pela conquista e manutenção dos seus direitos.

A deliberação foi anunciada depois da contagem de votos da empresa, cuja conclusão apontou que 63% (2.244) dos funcionários não queriam ser associados à UAW contra 34% (1.307) a favor da filiação – dos 6.400 trabalhadores, 2.700 não tiveram direito ao voto por serem temporários –, resultado fruto de uma intensa campanha antissindical e “táticas assustadoras de desinformação e intimidação” por parte da empresa de acordo com a Union.

Como nos Estados Unidos é preciso que a proposta de associação ao sindicato seja aprovada em eleição por empresa, abre-se campo às companhias usufruírem de ameaças e estratégias ardilosas para impedirem o engajamento dos funcionários à luta classista. Atitude tomada pela Nissan, da planta de Canton, conforme denúncias da UAW ao Conselho Nacional de Relações Trabalhistas do país (NLRB).

Segundo publicado no site oficial da Union, na última denúncia, “alegou-se que a empresa recentemente ameaçou promover perdas de benefícios se empregados apoiassem a UAW, ameaçaram fechar a planta de Canton se empregados apoiassem a Union, interrogaram empregados sobre o seu apoio à Union, e prometeu elevar benefícios e melhorar as condições de trabalho se os empregados se opusessem à Union”.

Para a CSB, que presta sua solidariedade aos trabalhadores oprimidos, este é o tipo de postura patronal que também pode se tornar comum no Brasil com a implementação da reforma trabalhista a partir de novembro. Entre as maldades do pacote de mudanças, o projeto aprovado em julho determina que, em empresas com mais de 200 funcionários, o representante dos trabalhadores nas negociações e resoluções de conflitos não precise necessariamente ser sindicalizado e a eleição deste representante também não precisará ser feita pelo sindicato da categoria, deixando o processo à mercê de ações antidemocráticas dos patrões tal como ocorreu na Nissan, de Mississipi.

“A montadora Nissan tentou a todo custo desmoralizar uma entidade que representa mais de 980 mil trabalhadores nos Estados Unidos, Canadá e Porto Rico para impossibilitar que seus funcionários tenham o mínimo de vantagem em uma negociação coletiva; para impedir que os trabalhadores tenham voz e sejam fortalecidos na luta pelos seus direitos. E é isso que, hoje, após 29 anos de representação sindical assegurada pelo artigo 8º da Carta Magna, o governo quer fazer no nosso País com esta reforma inconstitucional e dantesca à sociedade brasileira. Uma reforma feita para enfraquecer o povo, tirar a autonomia e sustentabilidade dos sindicatos e fortalecer os interesses do capital”, analisa o presidente Antonio Neto.

De acordo com o portal de notícias Rede Brasil Atual e o jornal The Guardian, a campanha da Nissan contra a UAW ocorre desde o ano passado “com vídeos nos refeitórios e salas de descanso que desvalorizavam o movimento sindical” e alertas repetidos aos trabalhadores “que um sindicato faria da planta [de Canton] um local de conflito”. Mas, segundo o presidente e o tesoureiro da Union, Dennis Williams e Gary Casteel, as ações ilegais e antiéticas da empresa não calarão a entidade.

“Os trabalhadores da Nissan merecem ter segurança trabalhista, condições de trabalho seguras e poder de negociação coletiva que só vem quando se pertence a um sindicato. [Por isso], os corajosos trabalhadores da Nissan, que lutaram incansavelmente pela representação da Union ao lado da comunidade e dos líderes dos direitos civis, devem ficar orgulhosos de seus esforços para serem representados pela UAW”, garante Williams.

A Union ainda afirma que “continuará na linha de frente da luta por todos os trabalhadores” e assegura que irá redobrar seus esforços pelos funcionários da Nissan. Uma nova eleição também poderá ser concedida pela NLRB caso sejam provadas as denúncias de pressão e ameaças aos trabalhadores. A decisão será divulgada daqui a seis meses.

Foto: UAW

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