A renda do trabalho dos brasileiros em 2023 registrou o maior crescimento desde o Plano Real, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da FGV Social. A massa de rendimentos do trabalho subiu 11,7% em termos reais, acima da inflação, superando o aumento de 6,6% em 2022 e o recorde anterior de 12,9% em 1995.
O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 2,9% em 2023, enquanto a renda real domiciliar per capita saltou 12,5%. Ambos os resultados são atribuídos principalmente ao aumento do gasto público, impulsionado por medidas como Auxílio Brasil/Bolsa Família (benefício de R$ 600/mês para milhões de famílias), aumento do salário mínimo acima da inflação, reajuste do funcionalismo público federal e retorno de programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida.
Em dezembro do ano passado, as estimativas mostram que a renda média foi de R$ 3.100, valor 3,9% maior que a média de R$ 2.985 observada no mesmo mês em 2022. Em janeiro, o número cresceu novamente, atingindo R$ 3.118.
As regiões Norte (4,1%) e Nordeste (4%) registraram os maiores ganhos na renda média dos trabalhadores. Aqueles com idade de 40 e 59 anos e ensino médio completo tiveram mais aumento que os demais grupos.
Os trabalhadores com escolaridade máxima de ensino fundamental completo foram os únicos que apresentaram queda na renda. O crescimento foi menor para os que vivem no Sul e Centro-Oeste, os maiores de 60 anos, homens e chefes de família.
Efeito Bolsa Família
Estudos indicam que programas como o Bolsa Família possuem grande efeito multiplicador na renda e no emprego. O programa é considerado o mais eficaz no combate à pobreza e à desigualdade, com impacto positivo no PIB per capita dos municípios.
Apesar do crescimento da renda, dois grandes riscos pairam sobre a economia:
- Risco fiscal: O governo Lula precisa zerar o déficit da União neste ano, o que pode levar a cortes de despesas. Há o temor de que o governo volte a aumentar os gastos, impactando negativamente o déficit e a dívida pública.
- Risco inflacionário: A taxa de investimentos na economia em 2023 foi de apenas 16,5%, insuficiente para aumentar a oferta de bens e serviços de forma sustentável. Com o aumento da renda, a inflação pode voltar a subir, pressionando o Banco Central a rever a queda da taxa Selic.
Desafios para 2024
O grande desafio para 2024 será controlar a inflação no setor de serviços, que representa dois terços da economia. O governo precisa priorizar a redução do risco-país e estabilizar a taxa de câmbio para evitar que a alta do dólar pressione os preços.
O crescimento da renda do trabalho em 2023 é uma boa notícia, mas ainda há desafios a serem superados para garantir a sustentabilidade da recuperação econômica. O governo precisa encontrar um equilíbrio entre o investimento em políticas sociais e a responsabilidade fiscal para evitar o descontrole da inflação.
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Com informações de Folha de S. Paulo
Foto: Helio Montferre/Ipea