Reforma sindical: história ensina que a imposição não é o caminho para a unidade 

Reforma sindical: imposição não é caminho para a unidade – Nestes últimos meses, após a posse do presidente Lula, o protagonismo de entidades de representação social voltou a fazer parte das pautas governamentais, mostrando um diálogo direto com a população – essencial para construir um governo democrático.

Na busca por uma maior representatividade de setores da sociedade, o sindicalismo se mostra peça-chave, dando voz, mais uma vez, aos trabalhadores e trabalhadoras, em todas as suas instâncias de atuação, como o sistema confederativo, que trouxe (e traz) inúmeras conquistas sociais aos brasileiros e brasileiras. 

Mas nem todas as discussões giram em torno da busca pela unidade e por uma construção aberta e democrática, ouvindo a voz de todos os setores de representação.

Um grupo formado pelas três centrais sindicais com maior número de representados no Brasil (CUT, Força Sindical e UGT) apresentou um projeto de renovação do sindicalismo brasileiro, com um texto criado a portas fechadas e sem a participação do sistema confederativo.

Um formato excludente, que apenas as beneficia, em uma verdadeira busca por poder, e que foca na representação por volume de trabalhadores e trabalhadoras, ferindo um princípio básico do sindicalismo, a valorização e autonomia dos sindicatos de base.

Importante lembrar que nem só de quantidade vive a representatividade sindical. Todos os setores são essenciais para a formação de um conjunto de decisões.

Usar uma amostragem fria, como se trabalhadores e trabalhadoras fossem apenas números para tentar legitimar posições decididas a toque de caixa e sem a busca de uma unidade, mostram o contrário do que defendemos para um fortalecimento sustentável e duradouro do sindicalismo.

Afinal, se falta diálogo, num futuro próximo, faltará também identidade com as pautas defendidas, destruindo uma construção que leva tempo e trabalho. 

A proposta de reforma sindical colocada pelas centrais destacadas é uma clara tentativa de inclusão destas entidades na pirâmide sindical, a redução da força de representação de dezenas de categorias, o fim do sistema confederativo e a valorização de sócios sobrepondo a representação de categorias – o que fere totalmente princípios básicos de igualdade e inclusão do sindicalismo.

Sindicato não é clube, não representa somente os sócios e sim toda uma ou mais categorias.

A Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e a Pública Central do Servidor, que juntas representam categorias diversas e milhões de trabalhadores e trabalhadoras dos setores público e privado, e de várias outras áreas essenciais para a economia do país, defendem o debate democrático em torno do Projeto de Lei 5.552/2019, que foi elaborado pelo Fórum Sindical dos Trabalhadores (FST) e amplamente discutido entre as confederações, federações e sindicatos, bem como com o setor patronal, ministério público, judiciário e legislativo.

O projeto consiste em regulamentar o Artigo 8º da Constituição Federal, sem alterar seu texto, mas deixando claros os pontos que possam ter interpretação dúbia, como a manutenção da obrigatoriedade da homologação dentro do sindicato, instituir uma cota de contribuição negocial que decorra da negociação coletiva, o reconhecimento da negociação coletiva em todas as suas formas para todas as categorias, a garantia da unicidade sindical, o retorno da ultratividade e tantos outros pontos de convergência e que são unânimes entre todas as entidades do sistema confederativo. 

Precisamos também deixar claro que se opor à proposta de reforma sindical colocada pelas outras centrais não é apenas uma questão de crítica à falta de diálogo, mas de pragmatismo. Com um Congresso Nacional dividido, onde pautas mais importantes para o governo atualmente têm dificuldades de tramitação, discutirmos a reformulação do sistema sindical se torna perigoso e desnecessário neste momento. 

Se já existe um projeto de lei que apenas reforça a importância de um artigo da Constituição Federal e que atende a vários pontos destacados por todo sindicalismo brasileiro, independentemente de posicionamento, porque não dar o passo mais fácil e, depois, com a participação de todos os representantes da classe trabalhadora brasileira construir algo mais sólido e vanguardista? 

Uma proposta de reforma sindical profunda e sem diálogo criará um cavalo de Tróia, que prejudicará todo o sistema sindical, implicando num esforço em vão para algo que não terá adesão de todas as centrais, do sistema confederativo, de lideranças sindicais, dos trabalhadores e trabalhadoras e muito menos dos parlamentares.

Assinam:

Moacyr Tesch Auersvald – Presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST)

Antonio Fernandes dos Santos Neto – Presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)

José Gozze – Presidente da Pública Central do Servidor

Leia também: Presidente da CSB comenta reforma sindical: “revogação da reforma trabalhista é o foco”

Compartilhe:

Leia mais
nota de repudio fala gustavo gayer sobre gleisi hoffmann
Fala misógina de deputado sobre Gleisi Hoffmann desrespeita o trabalho de todas as mulheres
como funcionará novo crédito consignado trabalhador
Entenda como funcionará o novo programa de crédito consignado para o trabalhador
Trump terá que recontratar servidores
Justiça manda governo Trump recontratar servidores após ação de sindicatos nos EUA
projeto isenção imposto de renda 5 mil
Projeto de isenção de Imposto de Renda até 5 mil será apresentado nos próximos dias
jorge kajuru inegibilidade trabalho escravo
Projeto propõe inegibilidade de quem estiver na Lista Suja do Trabalho Escravo
Declaração Imposto de Renda 2025
Declaração do Imposto de Renda 2025 passará por mudanças; saiba
Antonio Neto e Lula lançamento crédito do trabalhador
CSB acompanha lançamento do "Crédito do Trabalhador", nova modalidade de consignado
reunião centrais marinho e macedo 12-03-25
Centrais sindicais se reúnem com ministros Luiz Marinho e Márcio Macêdo em Brasília
juros consignado clt
Trabalhadores CLT pagam mais juros no consignado que servidores e aposentados
crise saúde mental mulheres afastamentos
Afastamentos relacionados à saúde mental crescem 68% em um ano; mulheres são maioria