Por que a grande mídia odeia os sindicatos? – por Antonio Neto

Por que a grande mídia odeia os sindicatos? – A Folha de S.Paulo decidiu mais uma vez colocar um alvo nos sindicatos. Ataca a organização, a estrutura, o financiamento e prega um modelo nefasto de sindicalização.

Sim, o Grupo Folha, com um histórico trabalhista condenável, decidiu abrir campanha em editorial pela americanização dos sindicatos brasileiros.

O modelo neoliberal que eles pregam é o sonho do patronato brasileiro. É o da pulverização do número de sindicatos, aquele que permite patrões criarem sindicatos de faixada para sufocar as organizações dos trabalhadores.

A Folha não apresenta um dado sequer para colaborar com a sua tese. Afinal, no papel até mesmo a Reforma Trabalhista pode parecer boa.

Sem autocrítica, nenhum editorial do Jornal condenou a explosão do trabalho escravo no Brasil após a Reforma Trabalhista. Pelo contrário, o tempo todo tentaram desassociar a Reforma, que foi exaltada e aplaudida pela grande mídia, da tragédia que colocou correntes em milhões de trabalhadores.

Qualquer debate de revisão da Reforma Trabalhista é asfixiado pelo fantasma mentiroso da volta do “imposto sindical”. Não importa para o grupo Folha falar que a Reforma precarizou as relações de trabalho, jogou milhões de trabalhadores na informalidade brutal e alimentou fraudes trabalhistas.

Existem ao menos uma dezena de outros pontos emergenciais como a volta das homologações e da ultratividade e o fim da prevalência de acordos individuais que são escondidos do debate.

Conheci profundamente o sindicalismo no mundo. Nosso sistema é de longe o melhor e mais avançado.

É óbvio que o patronato sempre soube que a estrutura sindical brasileira com o devido financiamento é a única que consegue impor contrapesos ao poder econômico dos patrões, em um país terceiro-mundista.

No geral, a grande mídia desconhece o movimento sindical e a a nossa estrutura. Afinal, o sindicalismo nunca financiou as suas páginas, pelo contrário, sempre fomos e seremos os alvos dos seus patrocinadores.

Se você abrir as páginas de qualquer jornal, os maiores patrocinadores são bancos, corretoras de investimento e empresas de capital aberto. É óbvio que não interessa para esses setores um sindicalismo estruturado.

Greves, estudos específicos, forte assistência jurídica, boa estrutura organizacional, um serviço de comunicação eficiente, entre outros pontos fundamentais para a assistência do trabalhador exigem financiamento adequado. Asfixiar o sindicato acaba sendo um caminho mais fácil para o patronato avançar.

Ninguém colocará nas páginas do jornal que o Brasil não tem uma legislação real contra as práticas antissindicais. Não é raro o trabalhador ser demitido se assinar uma ficha de filiação ou participar de uma assembleia do sindicato.

Há poucos meses vimos tudo isso de forma escancarada com o assédio eleitoral.

Quando falam de financiamento “individual e expresso” mostram que não conhecem o Brasil. Com uma média salarial medíocre e com o custo de vida cada vez mais alto, não é difícil imaginar que o financiamento sindical não é uma prioridade do trabalhador, por melhor que seja o seu sindicato.

Faço uma provocação, se o financiamento dos sindicatos é uma escolha puramente individual e com toda a liberdade, como a Folha tenta parecer, qual o motivo das empresas e do setor empresarial interferir tanto nas contribuições?

Se alguém tiver dúvidas, basta procurar os processos nos tribunais e Cortes do Brasil de empresas tentando interferir na contribuição dos trabalhadores aos sindicatos.

Sabe o que aconteceria se a negociação coletiva valesse somente para os filiados ao sindicato? Milhões de brasileiros seriam jogados à negociação individual com o patrão. De um lado a necessidade do emprego e do outro a caneta que demite do patrão, não é difícil imaginar as consequências em curto prazo.

O Movimento Sindical nunca se negou a discutir e debater o seu financiamento com a sociedade. Mas o debate precisa ser real e honesto e não a partir de um mundo imaginário que só existe nos editoriais por aí.

Leia também: Reforma sindical: história ensina que a imposição não é o caminho para a unidade 

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