Pesquisas recentes do instituto Quaest revelam uma contradição significativa entre a opinião pública e a posição dos deputados federais. Enquanto 71% dos brasileiros apoiam o fim da escala 6×1, 70% dos parlamentares se posicionam contra – um descompasso que expõe a desconexão entre representantes e representados.
O fim da escala 6×1 está em um projeto apresentado em fevereiro pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propõe reduzir gradualmente a jornada de trabalho para 36 horas semanais e a extinção imediata da escala 6×1 – regime em que o trabalhador tem apenas um dia de descanso após seis consecutivos de trabalho.
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A pesquisa Quaest com deputados federais foi divulgada no início de julho e entrevistiu 203 parlamentares (40% da Câmara). Os dados, coletados entre 7 de maio e 30 de junho de 2025, mostram que quase a totalidade (92%) dos deputados da oposição rejeitam o fim da escala 6×1. Entre os classificados pela pesquisa como “independentes”, a rejeição à pauta é de 74%, e entre aqueles da base governista, de 55%.
Entre os deputados favoráveis ao fim da escala 6×1, o apoio se concentra na base governista (44%), contra apenas 23% entre independentes e 6% na oposição. A amostra foi estratificada por região e orientação ideológica dos partidos, seguindo a proporção da representatividade na Câmara.
Já o levantamento que apontou que 71% da população é favorável ao fim da escala 6×1 foi divulgado na semana passada, pela coluna de Ancelmo Gois no jornal O Globo.
Plebiscito pressiona por mudança
A escala 6×1 é um dos temas do Plebiscito Popular 2025, iniciativa conjunta das centrais sindicais, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e partidos progressistas. A votação, que segue até 7 de setembro, faz duas perguntas:
- “Você é a favor da redução da jornada de trabalho sem redução salarial e do fim da escala 6×1?”
- “Você é a favor de que quem ganhe mais de 50 mil por mês pague mais imposto de renda para que quem recebe até 5 mil por mês não pague?”
Urnas físicas já estão espalhadas por todo o país, mas é possível votar também pela urna virtual da CSB (clique aqui para acessar e votar).
Os resultados serão entregues formalmente ao presidente Lula, ao Congresso Nacional e ao STF, como forma de pressionar os três poderes a se alinharem com as demandas populares.
Representação em crise
A disparidade entre os 71% de apoio popular e os 70% de rejeição parlamentar a uma pauta escancara uma crise de representação. Enquanto a população enxerga a escala 6×1 como anacrônica e desumana, sua manutenção encontra sólido respaldo no Congresso — reflexo da influência de grupos econômicos e da resistência a avanços trabalhistas.
O Plebiscito surge como instrumento de pressão direta, mas os números sugerem que, sem mobilização permanente, a vontade da maioria continuará bloqueada por interesses minoritários, mas com forte influência no Legislativo.