Pesquisa sobre entregadores de app é contestada por estudo: ‘Viciada’

Pesquisa sobre entregadores de app – Uma pesquisa do Datafolha encomendada pelas empresas Uber e IFood concluiu que 77% dos entregadores preferem que esse tipo de serviço não seja regido pela CLT.

A chamada “Futuro do Trabalho por Aplicativo” informa que 87% dos entrevistados gostariam de contar com “certos direitos e benefícios”, desde que isso não interferisse na “flexibilidade” para definir os horários de expediente.

LEIA: Em São Paulo, CSB marca presença no Dia da Luta Operária

A pesquisa, no entanto, foi questionada por um grupo de pós-graduação da UFRJ, que emitiu uma nota técnica afirmando que a metodologia utilizada para a coleta de dados possui vícios que induzem o entrevistado ao erro.

O resultado do estudo foi tema de uma reportagem publicada pela revista Carta Capital.

Nota técnica

Os pesquisadores em Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro questionam a metodologia do levantamento, afirmando que as empresas enviesaram o debate. Segundo eles, a pesquisa incorporou premissas jurídicas falsas, influenciando os trabalhadores a escolherem opções que favoreciam o modelo das empresas.

O Trab21, nome original do grupo, também critica a falta de transparência na seleção dos entrevistados e a formulação das perguntas. As empresas defendem a metodologia do estudo, enquanto o Trab21 alerta que as pesquisas podem enviesar o debate sobre a regulamentação dos aplicativos de entrega e transporte no Brasil.

A nota técnica do Trab21 aponta que uma das principais perguntas do questionário apresentava uma associação negativa entre direitos trabalhistas e classificações desfavoráveis, enquanto o modelo defendido pelas empresas era apresentado de maneira positiva, e isso teria levado os trabalhadores a escolherem opções que, pela forma como foram formuladas, faziam parecer que o modelo de trabalho com carteira assinada era intrinsecamente menos favorável a eles.

Essa abordagem viola os princípios de imparcialidade e transparência que devem nortear as pesquisas estatísticas no país, de acordo com a nota do Trab21.

A nota técnica do Trab21 destaca um exemplo específico de uma pergunta do questionário:

“Para dirigir/entregar usando aplicativos, você prefere qual situação listada abaixo?” O questionário apresentava três alternativas:

  • Preferem ter vínculo de emprego para acesso aos benefícios trabalhistas previstos na CLT, mas as plataformas definem jornada e remuneração, e os trabalhadores não podem recusar demandas em tempo real ou decidir quando dirigir/fazer entregas sem autorização, sob pena de demissão ou sanções;
  • Preferem manter o modelo atual, onde o motorista/entregador tem autonomia para escolher seus próprios horários e recusar viagens a qualquer momento, mas sem acesso aos benefícios trabalhistas previstos na CLT para empregados;
  • Não sabe responder.

A nota técnica do Trab21 critica a falta de objetividade nessas opções. Segundo o documento, a alternativa “preferem manter o modelo atual” é acompanhada por diversos qualificadores positivos, enquanto a opção “ter vínculo de emprego” é apresentada com afirmações inverídicas que não encontram base na legislação trabalhista brasileira.

Os pesquisadores da UFRJ refutam a ideia de que, no caso de empregados celetistas, a empresa necessariamente determinaria locais e horários de trabalho. Eles afirmam que essa premissa é objetivamente falsa, pois a CLT garante remuneração não apenas por tempo, mas também por peça ou tarefa.

Além disso, a liberdade de início, intervalo e final de jornada é uma situação prevista na CLT, e não exclusivamente no modelo autônomo, como sugerido pela pesquisa, de acordo com o Trab21.

Comissão especial

A pesquisa é divulgada em uma data bem próxima da comissão especial do Ministério do Trabalho, que foi criada com intuito de discutir a regulamentação das atividades de entrega e transporte.

“Não me parece nada por acaso que essas pesquisas sejam financiadas e divulgadas neste momento” afirma Rodrigo Carelli, coordenador do Trab21 e professor da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ.” ao Repórter Brasil.

(Com informações de Carta Capital/Repórter Brasil)
(Foto: Reprodução)

Compartilhe:

Leia mais
Design sem nome (2) (1)
CSB defende transição tecnológica justa em reunião de conselheiros com ministra Gleisi Hoffmann
painel 7 transição tecnológica e futuro do trabalho
Encontro Nacional CSB 2025: painel 7 – Transição tecnológica e futuro do trabalho; assista
regulamentação ia inteligência artificial
Regulamentação da IA é tema em destaque para centrais sindicais no Congresso
papa leão XIII e papa leão XIV
Com o nome Leão XIV, novo Papa homenageia Leão XIII, defensor dos trabalhadores e abolicionista
mapa mundi brasil no centro
IBGE lança mapa-múndi com Brasil no centro e hemisfério sul na parte de cima
geração de empregos recorde em fevereiro
Procurador denuncia "pejotização" como forma de burlar direitos trabalhistas
csb centrais sindicais com ministro maurcio godinho tst
Centrais entregam agenda jurídica do movimento sindical ao vice-presidente do TST
csb menor (40)
Desigualdade de renda no Brasil é a menor desde 2012, aponta IBGE
csb menor (1)
Encontro Executiva Nacional CSB 2025: painel 6 – Trabalhadores e meio ambiente
ministro do trabalho luiz marinho em audiencia na camara
Ministro do Trabalho defende fim da escala 6x1 e jornada de 40 horas na Câmara