BC controla inflação de "forma burra" ao manter juros altos, diz Marinho

Durante apresentação nesta quarta-feira (27) dos dados sobre a geração de empregos formais em fevereiro, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, falou como o resultado positivo para os trabalhadores pode virar motivo de preocupação para os economistas do Banco Central, que precisam “estudar mais” os fundamentos da economia.

A afirmação do ministro está relacionada ao último comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária), quando reduziu a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, mas sinalizou que o último corte em vista deve ser na próxima reunião, apesar de o país ainda ter a maior taxa de juros reais do mundo com a Selic atualmente em 10,75% ao ano.

Antes disso, o comitê havia indicado que continuaria fazendo cortes “nas próximas reuniões”. A ata da última reunião, publicada nesta terça-feira (26), diz que o comitê discutiu “com profundidade” o mercado de trabalho e sua relação com os preços na economia.

“(…)em sua análise, o Comitê demonstrou maior preocupação com possíveis efeitos da ampliação de ganhos reais no período mais recente e da aceleração de crescimento observada nos dados referentes à massa salarial sobre a dinâmica prospectiva da inflação de serviços”, diz o documento.

“O Comitê seguirá atento à dinâmica dos rendimentos nas diversas pesquisas para melhor avaliar o grau de ociosidade no mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a inflação de serviços”, acrescenta a ata.

Ou seja, o comunicado afirma que o aumento dos salários e do emprego pode gerar inflação, o que justificaria a queda no ritmo ou até suspensão do corte de juros. De acordo com Marinho, manter os juros altos é de fato uma forma de conter a inflação, mas é a “forma burra” de fazer isso, e que tem como consequência o desemprego do outro lado.

Para o ministro, é preciso mudar a lógica daqueles que comandam a política de juros do país e preparar o setor produtivo para aumentar a oferta, em vez de forçadamente reduzir a demanda.

“Tá faltando estudar um pouco fundamentos da economia. Existe duas maneiras de controlar a inflação, como eu já disse: uma forma é restringir, é aumento de juros, é corte de crédito. Você controla a inflação sim, mas é a forma burra de fazer. O jeito inteligente é você controlar a inflação pela oferta, ou seja, as empresas precisam chegar à seguinte conclusão fácil: nós vamos crescer os empregos, tem investimento para isso, está acontecendo os investimentos e vai crescer o número de empregos, vai crescer a demanda de consumo. As empresas não devem esperar faltar mercadoria, elas têm que antecipar a velocidade da linha contratando mais gente, botando mais oferta de produtos é assim que controla a inflação de forma inteligente”, afirmou.

Marinho disse ainda que está faltando que o Banco Central chame a atenção do setor privado para que as empresas tenham mais planejamento e que o governo tem tentado disseminar entre as entidades patronais uma visão mais “otimista” para o futuro do mercado brasileiro.

“Foi o que aconteceu no governo Lula 2. Estamos debatendo no Conselho de Desenvolvimento Social (o Conselhão) com as empresas e lideranças que estão ali que tenham uma visão mais otimista para o mercado. Que se preparem para produzir mais, se preparem para contratar, se prepare para ofertar, podendo até aumentar o ganho na escala. Aposte na escala e não no ganho individual. É assim que se controla a inflação sem necessidade de restringir aumentando juros, que é a forma que por um período no Brasil é a única coisa que souberam fazer”, argumentou.

Dados do emprego e salário

O Brasil fechou o mês de fevereiro com saldo positivo de 306.111 empregos com carteira assinada, resultado de 2.249.070 admissões e de 1.942.959 desligamentos, segundo o balanço do Novo Caged divulgado pelo MTE nesta quarta.

Os cinco grandes setores da economia registraram saldo positivo em fevereiro. Serviços lidera com 193.127 novos postos de trabalho; seguido pela indústria (54.448), construção (35.053), comércio (19.724) e agropecuária (3.759).

O salário médio de admissão em fevereiro/2024 foi R$ 2.082,79. Comparado ao mês anterior, houve redução real de R$ 50,42 no salário médio de admissão, uma variação negativa de menos 2,36%.

Apesar de ter havido um aumento do desemprego no trimestre fechado em fevereiro em comparação com o semestre anterior, de 7,8% agora contra 7,5% anteriormente, o índice caiu na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, quando o desemprego fechou em 8,6%.

No acumulado do ano (janeiro/2024 a fevereiro/2024), o saldo de empregos foi positivo em 474.614 empregos. Nos últimos 12 meses (março/2023 a fevereiro/2024), foi registrado saldo positivo de 1.602.965 empregos.

Veja também: Conselho aprova redução do teto de juros do consignado para beneficiários do INSS

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

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