Pela primeira vez, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) calculou os dados sobre a pobreza no Brasil de acordo com a situação das pessoas no mercado de trabalho em 2023. O levantamento apontou que 14,2% dos trabalhadores estão abaixo da linha de pobreza, ou seja, vivem com renda menor que 6,85 dólares por dia ou 665 reais por mês, conforme índice do Banco Mundial.
Na população geral, o índice é de 27,4%. Já entre desempregados (aqueles que estão em busca de trabalho), a taxa de pobreza é de 54,9%, e de 33% entre aqueles fora da força de trabalho.
“O acesso à renda do trabalho é condição importante para garantir que os níveis de pobreza e extrema pobreza das pessoas ocupadas sejam menores que dos desocupados e das pessoas fora da força de trabalho”, diz a análise do IBGE.
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Enquanto a média de extrema pobreza entre a população como um todo foi de 4,4% no ano passado, dentre os a população ocupada o índice foi de 0,8%. São consideradas em situação de extrema pobreza as pessoas que vivem com 2,15 dólares por dia, ou 209 reais por mês.
Em números absolutos, o IBGE calcula que 14,336 milhões de trabalhadores terminaram 2023 com renda per capita abaixo da linha de pobreza, e 783 mil trabalhadores abaixo da linha da extrema pobreza. De acordo com o analista do IBGE André Simões, um dos responsáveis pela pesquisa, uma das razões de as pessoas trabalharem e não saírem da pobreza é a vulnerabilidade dos postos de trabalho desse grupo.
“Mesmo ocupado, esse trabalhador não consegue renda suficiente para se manter. A renda não é suficientemente elevada para que consiga sair da situação de pobreza. Isso reflete um mercado de trabalho que não é homogêneo: há atividades com maior produtividade e ganhos e outras com mais precariedade”, afirma Simões.
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Por outro lado, a pesquisa do IBGE indica também que a pobreza entre os trabalhadores caiu em 2023 para o menor índice da série histórica, iniciada em 2012. Em 2022, o índice era de 17,9%.
Já o rendimento médio da população ocupada subir de R$ 2.700 por mês em 2022 para R$ 2.890 em 2023, um acréscimo de 7,1% e acima da inflação do período.
Cenário mundial
O conceito de “working poor” tem sido estudado internacionalmente, especialmente pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). A OIT aponta que os dados demonstram que o emprego “não é garantia de condições decentes de vida”, apesar de, no geral, ser um instrumento para retirar pessoas da pobreza.
“Isso só é verdade se a qualidade do emprego é suficiente, com ganhos adequados e condições de trabalho seguras. A relação entre emprego e pobreza depende, em grande parte, de quanto o trabalho decente é assegurado no mercado de trabalho”, diz análise da ΟΙΤ.
Segundo a organização, 6,9% dos trabalhadores ocupados no mundo estavam abaixo da linha de pobreza em 2023. Esse critério, no entanto, inclui os trabalhadores com renda abaixo de US$ 1,90 por dia, ou seja, um valor abaixo até mesmo do indicador de extrema pobreza utilizado pelo IBGE.
Indicadores por categorias
Por escolaridade, o maior nível de pobreza entre trabalhadores ocupados foi observado dentre aqueles sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto (27%) e menor entre aqueles que com ensino superior completo (2,1%).
A pobreza também é maior entre aqueles sem carteira de trabalho assinada (23,4%) e que trabalham por conta própria (18,8%), ante funcionários públicos e militares (3%) e quem tem carteira assinada (9,1%).
Por cor ou raça, a taxa de pobreza entre trabalhadores pretos ou pardos é de 19,1%, ante 8,2% entre os brancos. Por gênero, a pobreza é maior entre trabalhadores homens (15,4%) que entre trabalhadoras mulheres (12,8%).
Por grupo de atividade, a agropecuária apresenta o maior percentual de trabalhadores pobres (33,1%) – mais que o dobro dos 14,2% da média – seguida por serviços domésticos (25,3%) e construção (21,1%). Já p setor de administração pública, saúde e serviços sociais tem o menor índice (6%).
O Nordeste é a região com maior incidência de pobreza entre os trabalhadores ocupados. Quase 30% (29,6%) de quem ocupa alguma vaga de trabalho na região estão abaixo da linha da pobreza. O menor percentual é no Sul, com 6,6%.
Com informações de Valor Econômico
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