CSB repudia a união com o bloco e defende a valorização e o desenvolvimento da indústria brasileira
Na última sexta-feira, 21 de março, representantes do Mercosul e da União Europeia (EU) se reuniram, em Bruxelas, para discutir os termos de um acordo de livre comércio entre os dois blocos econômicos. Apesar de a grande mídia alardear que não houve progresso nas negociações, está claro que uma mobilização para fechar esse acordo avança consideravelmente. Paralelamente, constrói-se também a passos largos uma zona de livre comércio entre Mercosul e Estados Unidos.
Pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) afirma que a o Brasil ampliaria seu mercado de exportações em cerca de US$ 86 bilhões se firmasse acordos de livre comércio com Estados Unidos e União Europeia. Entretanto essa cifra nada significa, uma vez que – em valores líquidos (e segundo o mesmo estudo) – o País já entraria no bloco com déficit de US$ 600 milhões na balança comercial. Esse prejuízo se explica pelo crescimento de US$ 42,8 bilhões nas exportações contra US$ 43,4 bilhões nas importações.
Estes dados comprovam que o Brasil não precisa, como defendem alguns setores, estabelecer acordos comerciais com essas economias para se fortalecer. O argumento de que o País ficará isolado economicamente não se sustenta quando tais dados ‑ apresentados pela própria FGV ‑ coloca a participação do País em desvantagem.
Cenário que estimula a indústria nacional
Segundo a pesquisa “A década inclusiva (2001-2011): Desigualdade, pobreza e políticas de renda”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os 10% mais pobres do Brasil tiveram um crescimento de renda acumulado de 91,2%. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome revelou que, nesse mesmo período, a pobreza no Brasil caiu mais de 55%.
Estes números evidenciam a forte política de distribuição de renda, como a valorização do salário mínimo, e programas sociais como o Brasil Carinhoso, Brasil sem Miséria, Minha Casa Minha Vida, responsáveis pela melhoria da renda do trabalhador. O maior poder de compra proporcionado pelo aumento da renda fortalece a economia nacional, estimulando a produção da indústria nacional e a geração de mais empregos.
Realidade alarmante
Estados Unidos e União Europeia possuem interesses econômicos escusos, com suas constantes e duras políticas protecionistas que têm como único objetivo minar o desenvolvimento do comércio brasileiro e enriquecer a indústria imperialista.
Exemplo claro disso são as barreiras que tais blocos impõem ao etanol brasileiro. EUA e UE alegam que o Brasil polui o meio ambiente com a produção, mas, na realidade, isso serve para proteger a economia daqueles países. O etanol produzido na Europa e nos EUA não tem condições de competir com o etanol brasileiro, que é feito com a cana de açúcar, muito mais barato, polui menos e tem um potencial infinitamente mais satisfatório.
Para evitar a quebra dos produtores americanos e europeus, além de balizar a evolução e o domínio brasileiros nesse setor, tais barreiras protecionistas foram e serão sempre criadas.
Panorama promissor
Engana-se quem considera que este cenário tende a mudar. É por conta de ações e retaliações como estas – sem propósito e injustas – que o Brasil precisa focar seus esforços na manutenção dos acordos de livre comércio com o Mercosul e o Brics.
O cenário oferecido por estes dois blocos colocam o Brasil como líder regional e como um dos principais gestores na mesa de decisões sobre governança global e desenvolvimento econômico dos países integrantes. Por meio do Mercosul, por exemplo, o Brasil vem conseguindo negociar acordos comerciais minimamente favoráveis aos seus interesses nacionais e destaca-se como pivô da fundação do bloco, atuando ativamente, seja nos debates econômicos e/ou na esfera social e política das nações.
Sob aspecto semelhante, a participação nos Brics baseia-se em interesses e ideologias comuns. A associação do Brasil ao grupo está de acordo com suas necessidades estratégicas em nível regional e global. O bloco permite, ainda, que o País introduza pautas específicas nas áreas de ciência, tecnologia e desenvolvimento sustentável.
Temor antigo
A ameaça imperialista já dava sinais claros de sua pretensa e destrutiva hegemonia econômica na década de 1990, com a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), uma invenção norte-americana que mascarava seus reais objetivos com a proposta de eliminar as barreiras alfandegárias entre os 34 países membros, exceto Cuba.
Em 2005, o Brasil ‑ de maneira firme ‑ refutou a entrada no bloco com o enfático argumento de que os reais objetivos dos Estados Unidos eram impor o domínio de sua indústria em detrimento da extinção dos parques industriais dos demais membros.
Experiência nociva
Na América, o México é o país símbolo da dominação norte-americana. A adesão do país ao Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) colocou 50 milhões de mexicanos na linha da pobreza, segundo o economista Ángel Palacios.
A dívida interna do setor público aumentou assustadoramente, chegando a 38% do PIB daquele país, o que equivale a mais de 6 bilhões de pesos. A autonomia mexicana na produção de alimentos virou um triste passado. Graças ao NAFTA, nos próximos anos, o México deverá adquirir 80% dos seus alimentos em outros países, principalmente nos Estados Unidos. A publicidade em torno do bloco serviu apenas para gerar promessas infundadas, como a geração de empregos na indústria e o aumento da participação no mercado, bem como o incremento das exportações. Pura falácia.
Futuro
Tendo em vista o histórico destrutivo para a América Latina e os países pobres, causado pela dominação política e econômica dos Estados Unidos e das grandes nações europeias, a Central dos Sindicatos Brasileiros manifesta-se contrária ao acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE, e também com os Estados Unidos.
“É evidente a superioridade a ser imposta por aquelas nações à produtividade de seus parques industriais sobre as indústrias latino-americanas nessa relação. A adesão a esse bloco representa um suicídio para o Brasil, que não tem nada a ganhar. Estamos diante de uma desigualdade política de poder mundial. A CSB defende o pleno investimento em parcerias que beneficiem os trabalhadores, a indústria nacional, o mercado interno e a economia do Brasil”, diz o presidente da CSB, Antonio Neto.