Debate: Informalidade e individualismo afastaram jovens de sindicatos

O Ministério Público do Trabalho (MPT) e as centrais sindicais realizaram nesta terça-feira (28) um debate sobre juventude e sindicalismo. O evento foi parte da campanha “Maio Lilás” do MPT, que este ano tem como foco promover a importância da participação sindical entre os jovens trabalhadores.

A campanha é feita pela Coordenação Nacional de Liberdade Sindical (Conalis), chefiada pela procuradora Viviann Brito Mattos, que fez a fala de introdução o encontro desta terça na Faculdade de Direito da PUC-SP.

A procuradora destacou que a Conalis foi criada pelo MPT com o objetivo de aproximar o Ministério Público da atividade sindical, mas principalmente de promover o diálogo social.

Diagnóstico

Na mesa de abertura, o gerente do Projeto Estratégico Sindicalismo e Juventude do MPT, procurador Bernardo Leôncio Moura Coelho, destacou que a taxa de sindicalização entre os jovens é de cerca de 5%, enquanto a média geral é de 9%.

Este índice abaixo da média motivou a criação do projeto gerenciado por Coelho, que buscará fazer um diagnóstico mais completo do problema e propor soluções para aumentar a sindicalização especialmente entre aqueles que ingressaram há pouco tempo no mercado de trabalho.

“Queremos saber por que os jovens não aderem aos sindicatos. Vamos conversar com os jovens para saber o porquê de os sindicatos não terem sido atrativos para eles. Também queremos fazer esse diálogo com os sindicatos, que precisam entender por que não estão sendo atrativos”, explicou o procurador.

Informalidade

O secretário nacional da Juventude da CSB, Enver Padovezzi, foi o mediador do primeiro painel, que contou com uma análise feita pelo professor Ruy Braga, chefe do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

De acordo com o professor, a queda na taxa de sindicalização é causada em grande parte pelo crescimento da informalidade e a mudança social que esse tipo de trabalho causa.

Professor Ruy Braga (USP), procurador Bernardo Leôncio (MPT) e Enver Padovezzi (CSB)

Ele comparou o cenário atual com o observado durante os dois primeiros governos Lula, quando foram criados muitos empregos formais, mas que já eram precarizados pelos baixos salários (em média 1,5 salário mínimo) e por pouca perspectiva de crescimento profissional, como no caso dos trabalhos em call centers, o que levava a uma rotatividade muito grande nas empresas.

Apesar do grande número de jovens entrando no mercado de trabalho, a proporção daqueles que se sindicalizavam já foi menor do que era observado em décadas anteriores, uma vez que a alta rotatividade atrapalhou a formação de uma comunidade forte entre esses trabalhadores.

Ainda assim, o trabalho formal garantia a todos uma representação sindical e os sindicatos ainda conseguiam atrair os trabalhadores a participarem de suas atividades.

Ler também: CSB participa de 1ª reunião de pacto pela inclusão de jovens no mercado de trabalho

Atualmente, apontou o professor, a porta de entrada do jovem no mercado de trabalho é principalmente o serviço de entrega por aplicativo, uma atividade totalmente informal, sem proteção social e sem representação sindical.

Em 2021, seu departamento conduziu um estudo focado em entregadores que exerciam a atividade com bicicletas, por serem aqueles que ainda não tinham condição de ter uma moto. Os pesquisadores observaram que esses jovens não se viam como trabalhadores, pois associam a palavra ao trabalho formal, e sim como “batalhadores” ou “empreendedores”, uma vez que a perspectiva de futuro de muitos deles é de conseguir financiar uma moto para fazer mais entregas e multiplicar seus ganhos.

O senso de coletividade – princípio básico do sindicalismo – foi substituído pelo individualismo e pela ideia de que o esforço pessoal e o próprio investimento são as chaves para o crescimento profissional. Em vez de reivindicar os direitos de todos, cada um busca sua própria solução.

No encerramento do debate, Enver destacou que a discussão sobre trabalho formal ou informal e de geração de empregos não pode se limitar ao ponto central, que é de como usufruir da força de trabalho desses jovens, mas que é preciso pensar como incluí-los na sociedade como um todo, e não apenas no mercado de trabalho.

Viviann Mattos (Conalis/MPT) e Enver Padovezzi (CSB)

O debate contou ainda com a participação de representantes da juventude das demais centrais sindicais, da professora da PUC Lucineia Rosa dos Santos, da sindicalista e secretária-geral do Sindicato dos Bancários, Lucimara Malaquias, e da vice-coordenadora nacional da Conalis, Priscila Moreto de Paula.

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