CSB participa de ato em defesa da soberania nacional em São Paulo e lança manifesto; leia

A Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) participou, nesta sexta-feira (25), de um ato em defesa da soberania nacional no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). O evento, apoiado por mais de 200 entidades da sociedade civil, sindicatos, juristas e estudantes, foi marcado pelo lançamento de uma carta pública contra as recentes medidas do governo dos Estados Unidos que afetam o Brasil, incluindo tarifas comerciais e tentativas de interferência no Judiciário brasileiro.

O presidente da CSB, Antonio Neto, representou a central no evento. “Parece brincadeira nós termos que fazer um ato sobre isso [defesa da soberania nacional], mas é verdade. Precisamos ressaltar nossa soberania porque estamos em um momento crítico, com os ataques dos Estados Unidos sobre nosso país. É uma guerra, não com tanques nem armas de fogo, mas com tarifaço e tentativas de interferência em nossos assuntos. Por isso estamos aqui unido, representantes de todos os segmentos da sociedade, para dizermos em alto e bom som: soberania não se negocia”, disse.

O ato ocorre em meio à escalada de tensões entre Brasil e Estados Unidos após o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciar, no início de julho, a imposição de uma tarifa de 50% sobre exportações brasileiras, sob a alegação de suposta “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A medida, que deve entrar em vigor em 1º de agosto, foi seguida por uma investigação comercial contra o sistema Pix e restrições a produtos da região da 25 de Março, em São Paulo.

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Além disso, em 18 de julho, o governo dos EUA revogou os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo o do ministro Alexandre de Moraes, citando “ordens de censura secretas e ilegais”. Apenas os ministros André Mendonça, Nunes Marques e Luiz Fux não foram afetados. O Procurador-Geral da República, Paulo Gonet, também teve seu visto cancelado.

“Brasil não aceita chantagem”

O ato reuniu centenas de pessoas, que carregavam cartazes com frases como “Brasil, quem te ama não te USA”, “O povo unido jamais será vencido” e “Soberania não se negocia”. O diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Fernandes Campilongo, destacou em seu discurso que a soberania brasileira está sob ameaça.

“O que está em jogo é uma ordem mundial que seja democrática, que respeite as instituições e o direito internacional. O que está sendo ameaçado não é apenas a soberania do Brasil, é a lei internacional. Hoje é conosco, amanhã com quem?”, falou.

Campilongo também criticou a “intromissão estrangeira” dos EUA, classificando-a como uma “ameaça real” à autonomia do país.

Defesa do STF e do sistema jurídico brasileiro

O presidente do BNDES, Aloísio Mercadante, presente no ato, defendeu a necessidade de solidariedade ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, alvos de ataques constantes do governo Trump.

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Já o advogado Oscar Vilhena, integrante do Comitê de Defesa da Democracia, afirmou que as ações dos EUA “buscam, sob o pretexto de atacar o Supremo Tribunal Federal, na realidade, afetar os interesses de todos os brasileiros, sobretudo do trabalhador e do empreendedor brasileiro. E é essa a razão que faz com que nós tenhamos que estar vigilantes e em defesa dos nossos interesses”.

Carta pela soberania nacional

A carta lançada durante o evento reforça os princípios constitucionais de independência nacional, não-intervenção e igualdade entre as nações.

“A soberania é o poder que um povo tem sobre si mesmo. O Brasil jamais abrirá mão de sua soberania, tão arduamente conquistada. Nossa Constituição garante aos acusados o direito à ampla defesa, e intromissões estranhas à ordem jurídica nacional são inadmissíveis”, diz o texto.

Leia a carta na íntegra aqui.

O documento também defende o sistema jurídico brasileiro, lembrando que todos os processos contra Bolsonaro seguem os trâmites legais, com provas coletadas pela Polícia Federal e direito à defesa.

Manifesto da CSB

Além de assinar a carta conjunta, a CSB lançou seu próprio manifesto em defesa da soberania nacional, um dos principais pilares que fundamentam os princípios da central desde sua fundação. Leia:

CARTA ABERTA DA CSB EM DEFESA DA SOBERANIA NACIONAL

A Central dos Sindicato Brasileiros (CSB) vem a público, em nome dos trabalhadores e trabalhadoras representados pelas mais de 1000 entidades filiadas, manifestar sua posição firme e inegociável em defesa da soberania nacional diante do ataque representado pelo tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, às exportações brasileiras.

Este ato unilateral, arbitrário e hostil representa um ataque direto à independência política, econômica e comercial do nosso pais. Em tempos em que os tanques são substituídos por taxas e chantagens econômicas, reafirmamos que o alvo segue sendo o mesmo: a autonomia do Brasil e a dignidade do seu povo.

A história convoca mais uma vez os verdadeiros patriotas. Herdeiros da luta e da tradição de Tiradentes, de Getulio Vargas e de Ulysses Guimarães, a não nos curvarmos à tirania, à prepotência internacional nem aqueles que conspiram contra os interesses nacionais. Soberania não se negocia!

O Brasil precisa afirmar um projeto popular de desenvolvimento nacional, ancorado na independência política, econômica, tecnológica e cultural. Sem isso, continuaremos vulneráveis aos interesses de potências estrangeiras que nos veem como simples colônia de exploração. A CSB afirma com clareza: nós não somos quintal de ninguém!

Cai por terra, neste momento, o falso patriotismo daqueles que bradavam “Brasil acima de tudo” enquanto entregavam o patrimônio nacional e conspiravam contra a nossa democracia. A farsa se desfaz quando o povo é quem paga o preço da submissão.

Reafirmamos a importância da democracia como base da soberania. É fundamental garantir a independência e a harmonia entre os Poderes da República. É preciso apostar na diplomacia e no diálogo, pois a paz também é uma forma de coragem – mas exige firmeza.

A CSB defende um pacto de reconstrução nacional, com apoio aos setores produtivos atingidos, revendo o atual regime fiscal e estabelecendo uma nova política monetária. O Estado brasileiro precisa ter os instrumentos adequados para proteger sua economia, impulsionar o investimento público e privado, gerar empregos e garantir dignidade para quem trabalha.

O movimento sindical brasileiro sempre esteve presente nos momentos decisivos da nossa história: lutou contra a ditadura, nas Diretas Já, na Constituinte, contra os recentes ataques golpistas à democracia. Estará novamente ao lado do povo brasileiro para afirmar: o Brasil é do povo brasileiro!

A verdadeira pacificação nacional não virá com anistia para golpistas, mas com justiça, com trabalho e com respeito à soberania do voto popular e da Constituição.

A CSB conclama todos os setores da sociedade – trabalhadores, empresários, movimentos sociais, juventude, lideranças politicas e culturais – a se unirem em defesa do Brasil.

Vamos juntos defender a soberania nacional. Vamos juntos defender o Brasil.

Antonio Neto
Presidente nacional da Central dos Sindicatos Brasileiros

Com informações de g1
Fotos: divulgação/CSB

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