Você sabe por que o assistente social é importante para todos os trabalhadores?

No dia da profissão, 15 de maio, convidamos duas dirigentes e assistentes sociais para responder a esta e outras perguntas sobre a categoria

Duas dirigentes do Sindicato dos Assistentes Sociais do Rio Grande do Sul (SASERS), filiado à CSB aceitaram responder juntas a 10 perguntas que fizemos sobre o assistente social. Fernanda Canfield da Luz é diretora de Organização e Relações Sindicais e Andrea Rieger, secretária-geral do Sindicato.

Segundo definição delas, o assistente social é “o profissional que promove a cidadania”. Por isso, a CSB comemora o dia da profissão com perguntas que mostram por que os assistentes sociais são fundamentais para um Brasil mais igualitário e justo, e deve ser uma ocupação mais valorizada e merece ser conhecida por todos. A categoria soma mais de 135 mil profissionais registrados no Conselho Federal de Serviço Social (CFESS).

CSB – Assistente Social X Serviço Social. Por que o curso tem um nome e a profissão, outro?
Serviço social: é a profissão de nível superior regulamentada pela Lei 8.662/1993.

Assistente social: profissional com graduação em Serviço Social (em curso reconhecido pelo MEC) e registro no Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) do estado em que trabalha.

CSB – Existe um imaginário de que o assistente social é o benfeitor da sociedade, e não um trabalhador. De onde vem esse pensamento?
O Serviço Social no Brasil tem suas origens na primeira metade do século passado, com suas raízes cristãs de assistencialismo. A igreja Católica controlava todo processo de ajuda ao próximo e benefícios aos menos favorecidos.

O Serviço Social nasce da benesse e da caridade da igreja. A igreja provia bens materiais para famílias necessitadas, como uma forma de amenizar a extrema pobreza [em] que vivia uma parcela da população. E durante um longo tempo, o Serviço Social esteve vinculado a esse caráter de benemerência, de doação. Por isso, a ideia que os profissionais de Serviço Social são bonzinhos e caridosos.

“O Assistente Social torna-se um elo de ligação não apenas para encaminhar as diversas situações a outros profissionais de diferentes áreas, mas sua abordagem profissional terá sempre um olhar na totalidade da situação apresentada”.

CSB – Quebrar o imaginário de benfeitor é um caminho para a valorização da profissão?
Muito já foi desmistificado sobre a profissão com o movimento de reconceituação. Foi um marco de profundas mudanças para a categoria. Esse foi um importante momento do Serviço Social, pois é partir daí que surge uma outra visão acerca da prática profissional, voltada à uma análise crítica da realidade social, buscando assim um melhor desempenho no agir profissional ao atender às demandas da questão social, pautado em bases teórico-metodológicas que buscam superar as práticas tradicionais do Serviço Social. Distanciando-se e rompendo com uma prática assistencialista que  não mais correspondia ao contexto social, na segunda metade do século passado.

Certamente, romper essa imagem valorizou a profissão, estando capacitada a analisar as demandas e realmente propor soluções adequadas. Orientando sobre direitos e encaminhando programas que possam de fato transformar a realidade do indivíduo, tornando-se o assistente social um promotor da cidadania.

CSB – O assistente social defende o direitos das outras categorias. É certa esta afirmação?
O assistente social atua na materialização de direitos, deve atuar como um promotor do acesso aos direitos, e neste aspecto sempre estará do lado dos sujeitos que buscam esse acesso. Em todo o espaço que atua, o profissional é mediador entre o direito a ser acessado e o sujeito que o pretende acessar. Não cabe, ou não caberia ao profissional de Serviço Social posicionar-se ao lado dos empregadores, ou gestores, mas sim ao lado dos movimentos sociais, dos trabalhadores e de todos os sujeitos que buscam acessar direitos. O Serviço Social é uma profissão militante e mobilizadora, e não executora de práticas assediadoras e repressivas em quaisquer instâncias.

CSB – O assistente social é uma profissão que trabalha em conjunto com outras profissões da saúde, do poder público e da educação, por exemplo. Qual a função do assistente social a partir desse prisma?
Os espaços de atuação em que o profissional está inserido torna-se cada vez mais múltiplo e interdisciplinar, pois entende-se que, principalmente na gestão pública, com parcerias público-privadas, o trabalho em rede tem sido uma importante ferramenta para estabelecer um elo de troca de saberes e orientação adequada para a solução de questões sociais diversas. Buscando eficácia na solução destas questões e maior eficiência da gestão. O assistente social, assim como outros profissionais, cada vez mais precisa desenvolver competências e habilidades que permitam a interdisciplinaridade e a polivalência da sua atuação. Este profissional pode atuar sozinho, mas a eficácia do seu fazer somente se expressará no conjunto com outras profissões.

O assistente social assim torna-se um elo de ligação não apenas para encaminhar as diversas situações a outros profissionais de diferentes áreas, mas sua abordagem profissional terá sempre um olhar na totalidade da situação apresentada pelos diferentes sujeitos, ou seja, não observa apenas a demanda que se relaciona à sua questão pontual apresentada, mas o indivíduo em suas relações familiares, afetivas, sócio econômicas, entre outras.

 

“Não cabe, ou não caberia ao profissional de Serviço Social posicionar-se ao lado dos empregadores, ou gestores, mas sim ao lado dos movimentos sociais, dos trabalhadores.”

CSB – O assistente social é uma profissão que lida com a sociedade diretamente. Isso precisa de preparo?
Atuar com o ser humano, especialmente em suas fragilidades, subjetivas ou abstratas, em um contexto de grande vulnerabilidade e desigualdades é um grande desafio. O profissional precisa não apenas de formação acadêmica, mas uma formação continuada, desenvolvendo sempre uma análise crítica e dinâmica na sua atuação.

Por isso, que o Serviço Social buscou respaldo para atuar por 30 horas, e não 40 horas, pois precisa permanentemente de formação, mas não só. Em 2017, o Serviço Social era a terceira profissão mais estressante do País, juntamente com a polícia e os professores, isso porque atuar com as mazelas sociais, em áreas de conflito social deflagrado pelo tráfico, com sujeitos em extrema vulnerabilidade, exige do profissional, cada vez mais, não só preparo teórico-prático, técnico-operativo, mas exige que ele desenvolva recursos internos, subjetivos e próprios para não adoecer. Cabendo ressaltar que isso não é somente por parte do profissional, mas das instituições que os contrata, sejam públicas ou privadas, pois a saúde do trabalhador é de responsabilidade de seus empregadores.

 CSB – Qual a importância do assistente social no Brasil?
O assistente social tem hoje o papel fundamental na busca por justiça social, no processo de materialização e acesso aos direitos para enfrentar as demandas sociais e atuar na construção dos programas sociais necessários para minimizar tais desigualdades. O profissional tem um leque de atuação bastante ampliado, pode-se conferir no artigo 4ª da Lei n º 8.662, de 7 de junho de 1993, que possui 11 incisos sobre as competências do assistente social.

CSB – Em um momento de retirada de direitos como o Brasil vivencia agora, qual a importância do assistente social?
Reforçando a questão anterior, o profissional é muito importante na busca por justiça social, no processo de materialização e acesso aos direitos, para enfrentar as demandas sociais. Em momentos de retrocessos profundos, o assistente social, juntamente com outras profissões e profissionais, tem obrigação de estar ao lado das bases, dos movimentos sociais, dos trabalhados, dos sujeitos que são os maiores atingidos pelos cortes em políticas sociais. Não deve atuar somente na mediação do acesso ao direito, mas na militância e na mobilização social, haja vista que também é trabalhador assalariado e os retrocessos também o atinge.

 

“O assistente social tem hoje o papel fundamental na busca por justiça social, no processo de materialização e acesso aos direitos para enfrentar as demandas sociais e atuar na construção dos programas sociais necessários para minimizar tais desigualdades”.

CSB – É uma profissão que existe em países desenvolvidos ou ela é ligada apenas a países com uma realidade de pobreza e desigualdade social?
Há um mito de que em países desenvolvidos não existem pobres ou desigualdade, ou sujeitos que precisam acessar a previdência social, direitos trabalhistas, direitos referentes a saúde, medicação. Crianças, adolescentes, mulheres e negros, vítimas de violência, entre outros, países europeus e do norte da América, assim como os países da Ásia e África, também enfrentam crises, disputa por território etc. E em todas estas situações, o profissional de Serviço Social pode e deve estar presente, no entanto a profissão modifica sua atuação conforme o país [em] que se encontra. Obviamente que em países onde as desigualdades sociais são mais agravadas, o profissional tende a ser bastante requisitado e sua atuação tende a ser mais complexa.

CSB – Qual a mensagem que vocês, assistentes sociais, deixam para o Brasil de hoje? Muito difícil… Precisamos de profundas reformas, política, tributária, agrária, é preciso acabar com os privilégios, taxar grandes fortunas, combater a corrupção e a má gestão, investir de forma mais local para os pequenos e médios. Precisamos voltar para as bases, fazer mais mobilizações sociais e menos mobilizações partidárias e de bandeiras fragmentadas. Precisamos reconhecer que há um sistema capitalista que financeiriza a vida e que precisamos enfrentar. Valorizar profissões que dão sustentação à nossa sociedade, como os profissionais da saúde, da educação, da assistência social, por exemplo.

Para os assistentes sociais, é necessário sair da zona de conforto, do gabinete, do tarefismo, buscar conhecimento, fazer militância, participar de movimentos sociais de empoderamento dos sujeitos e da sociedade, com respeito às diversidades e pautada pela ética, não pelas nossas crenças, religiosas ou não.

Confira os materiais que a CSB fez para comemorar o dia do assistente social:

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