Não dá para punir os mais pobres sempre, afirma Antonio Neto
A proposta de reforma da Previdência apresentada pelo governo Bolsonaro ao Congresso Nacional nesta quarta-feira (20), na avaliação do presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto, não trouxe nenhuma surpresa.
“Essa proposta representa a velha estratégia de arrochar a aposentadoria da imensa maioria do povo, sem atacar prioritariamente as regalias, a sonegação das grandes empresas, a falta de contribuição do setor agroindustrial, além de privatizar o novo regime de capitalização”, afirmou.
“Ela [proposta] é praticamente uma cópia piorada da reforma apresentada por Michel Temer. Se existe déficit, queremos que o governo mostre claramente os números, sem manobras e sem misturar alhos com bugalhos”, disse Neto.
Para o dirigente sindical, seria minimamente correto que o governo começasse a reforma pela própria carne. “O governo é majoritariamente formado por militares e banqueiros, como Paulo Guedes. Topamos debater a reforma, mas ela tem que começar pelos militares e pelos bancos, que agora querem avançar sobre o regime de capitalização que seria criado. Não dá para punir os mais pobres sempre”.
Os militares se aposentam com o salário integral após 30 anos de serviços prestados. Em média, por mês, militares da reserva e reformados das Forças Armadas ganham R$ 13,7 mil de benefício.
Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) identificou que 55% dos militares das Forças Armadas se aposentam entre os 45 anos e os 50 anos de idade. O número revela grande disparidade com o INSS e até mesmo com o regime de servidores públicos civis da União, em que as concessões de aposentadoria se concentram entre 55 e 65 anos.
“Quando o juiz é pego roubando, a punição é aposentadoria integral; o mesmo ocorre com os políticos. A sonegação estimada em 2017 foi de R$ 113,2 bilhões; empresas devem mais de R$ 452,8 bilhões para a Previdência. Segundo o TCU, em 2017, a renúncia fiscal atingiu R$ 354 bilhões; Michel Temer sancionou a Lei do Repetro (Lei 13.586/2017) com isenção de R$ 1 trilhão para o setor petrolífero. E querem que a doméstica, o trabalhador rural, o pedreiro, pague essa conta? Tá na hora de dar um basta nisso aí”, completou.