Metodologia adotada desde 2020 passou a incorporar informações de outros bancos de dados. Com isso, economistas dizem que dados atuais não se encaixam na série histórica.
Uma mudança feita pelo Ministério da Economia em 2020 na metodologia do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) faz com que os dados recentes não possam mais ser comparados à série histórica, avaliam economistas ouvidos pelo G1.
Nesta quarta-feira (28), o ministério informou que o Brasil gerou 184 mil empregos com carteira assinada em março. Ao todo, segundo o Caged, foram 1.608.007 contratações e 1.423.867 demissões.
Com a alteração metodológica, desde janeiro do ano passado, o cálculo do novo Caged passou a considerar outras fontes de informações. Além da pesquisa realizada mensalmente com os empregadores, o sistema também puxa dados do eSocial e do empregadorWeb (sistema no qual são registrados pedidos de seguro-desemprego).
A mudança gera impacto porque, segundo analistas, a declaração dos vínculos temporários à pesquisa do Caged é opcional – mas a inserção no eSocial é obrigatória. O Novo Caged, portanto, gera resultados maiores ao considerar esses vínculos, subdeclarados no sistema antigo.
O economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do IBRE/FGV, avalia que a mudança inviabiliza a comparação dos dados mais recentes com a série histórica anterior.
Ottoni aponta outros fatores, como o fato de haver mais empresas reportando dados do que no passado – isso porque cresceram as sanções para as companhias que deixam de informar as movimentações de emprego. A declaração de trabalhadores temporários também passou a ser obrigatória, enquanto, antes, 17% dos temporários eram reportados.
“Na minha opinião, é errado comparar saldos da série de janeiro de 2020 para cá com saldos da série anterior. São metodologias distintas, com fonte de dados distintas”, disse Ottoni.
O economista sugere comparar as próximas divulgações apenas com os dados divulgados de 2020 em diante, sob a nova metodologia.
Em março, o secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Bianco, defendeu que os dados do novo Caged possam ser comparados com o formato antigo da pesquisa. Segundo ele, é preciso apenas fazer uma “ressalva” de que a metodologia foi alterada.
Dados e nível de atividade
Segundo o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a nova metodologia do Caged gerou um “descolamento” dos dados do emprego formal com o nível de atividade, impossibilitando uma comparação.
“Na nova metodologia, há dificuldade de reportar as demissões e, mais complicado, quando se comparara com atividade, a gente vê uma discrepância muito grande. Antes, havia proximidade grande do Caged com IBC-Br, as duas curvas andavam com muita proximidade. De um ano para cá, descolaram: PIB caindo e Caged apontando para uma recuperação em V super forte”, disse.
Para ele, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) parecem ser mais confiáveis, embora o IBGE tenha mudado a forma de coletar os dados, por conta da pandemia.
“A Pnad dá uma sinalização melhor do que está acontecendo hoje com o emprego, os dados estão mais coerentes e aderentes com o nível de atividade”, declarou Vale.
Em meados do ano passado, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já indicava que a comparação estava prejudicada.
“Observa-se que o eSocial capta um volume de informações mais amplo que o Caged”, diz o documento, que também já apontava o problema de considerar a declaração obrigatória dos vínculos temporários no eSocial.
O estudo avalia que, como não é possível identificar os vínculos temporários no antigo Caged, foi feita uma análise a partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociai (Rais) 2017 e 2018, que mostrou que apenas 17% dos vínculos temporários foram informados no Caged nesses mesmos anos.
“Dessa forma, entende-se que o volume de movimentações no eSocial, na média, tende a ser superior àquelas verificadas historicamente no Caged, uma vez que neste sistema os vínculos temporários são subdeclarados”, concluíram os pesquisadores, no documento.
Fonte: G1