CSB analisou os números da pesquisa e apontou alternativas para a melhora da educação brasileira
De acordo com dados da pesquisa “Profissão Docente”, somente 21% dos professores da educação básica estão plenamente satisfeitos com a profissão, enquanto um terço deles (33%) afirma que está totalmente insatisfeito. O estudo, publicado no final de julho, foi analisado pela vice-presidente da CSB e presidente do Sindicato dos Professores Públicos Municipais de Carpina e Região (SINDPROFM), Maria das Mercês Coutinho.
O levantamento foi idealizado pelo movimento Todos Pela Educação e pelo Itaú Social. A pesquisa ouviu 2.160 professores da educação básica, da educação infantil até o ensino médio, de todo o território nacional, das redes pública e privada.
Conforme resultados da pesquisa, 78% dos professores escolheram a carreira por afinidade, priorizando o prazer por ensinar ou transmitir conhecimento (34%) e a aptidão e talento para ser professor (13%). Porém, 49% dos entrevistados não indicariam o trabalho para um jovem devido à falta de valorização.
Na avaliação de Maria das Mercês, a insatisfação dos professores se deve, principalmente, por três motivos. “A gente vê que o professor está insatisfeito por conta da desvalorização no salário. Os professores da minha cidade estão com o mesmo salário de janeiro de 2016”, afirmou.
A segunda razão é a falta de infraestrutura para ensinar e para estudar. “As escolas são muito precárias. As escolas não avançaram em material didático, não há salas arejadas. A gente sente, mesmo, um desestímulo dos professores”, frisou. O terceiro motivo é o aumento da violência dentro da instituição, resultado, muitas vezes, do uso de drogas por parte dos alunos.
Na prática, a desvalorização prejudica a qualidade do ensino. “Saco vazio não se põe em pé. Como é que um professor que não recebe uma boa remuneração vai ter estímulo para trabalhar? A questão é que eles não vão poder ir ao cinema, pagar um psicólogo quando precisa, ir ao médico, tudo isso acarreta [prejuízos ao ensino]”, exemplificou. “Quando se recebe um bom salário, você trabalha bem melhor. Você tem a vocação, logicamente, mas o salário contribui muito para você dar o seu melhor”, completou.
Como revelou a pesquisa, os professores trabalham em média em uma a duas escolas. Do total, 63% lecionam em uma e 30% em duas. “Em Pernambuco, tem profissional que tem dois empregos na rede pública e ainda tem um emprego na rede privada. Eu não sei como esse profissional consegue sobreviver porque não tem condições de um ser humano trabalhar tanto. A Constituição permite que o profissional tenha dois vínculos, desde que haja compatibilidade de horário. Por conta disso, os professores têm dois empregos”, disse a vice-presidente da CSB.
“Em minha opinião, o professor deveria ter só um emprego ganhando um salário melhor do que ganha nos dois. Ia sobrar mais emprego, ia ter uma melhor qualidade no ensino. Poderia sustentar a sua família e ter mais tempo. Em assembleia, sempre digo que melhor do que ter dinheiro é ter qualidade de vida”, continuou.
Nas palavras da dirigente, o salto na educação depende do fim da corrupção. “Neste país, no dia em que se levar a sério a educação e acabar com os políticos corruptos, haverá uma valorização e uma melhora na qualidade de vida para todos os segmentos da sociedade”, considerou.
De acordo com a presidente do sindicato, o maior desafio do novo ou da nova presidente da República será a escolha do ministro da Educação. “Não deverá ser uma pessoa política, mas uma pessoa que saiba o que está fazendo dentro do Ministério. Tem que ser uma pessoa que tenha visão educacional, jurídica e administrativa”, disse.
Ela explicou que os recursos da pasta precisam ser bem distribuídos. “Hoje, existe a lei 11.738/2008, que determina aos prefeitos o reajuste do salário dos seus professores em janeiro, mas não existe uma punição para quem não cumprir. A lei deveria ser punitiva. Não pagou, responde por isso”, sugeriu.
Ela afirmou que os professores e professoras já começaram a sentir os danos da reforma trabalhista nos grandes centros e, no interior, devem perceber em no máximo dois anos. “A reforma trabalhista, simplesmente, foi empurrada pelo governo federal pela ‘goela a baixo’, pensando só em prejudicar o sindicato, que é quem estava defendo o trabalhador”.
Maria das Mercês é a favor das reformas, se pensadas em prol do trabalhador. Segundo ela, é necessário fazer um amplo debate para se construir uma legislação eficiente.