Paralisação nos apps de transporte: motorista denuncia abuso e exploração

Paralisação nos apps de transporte – “O trabalhador não aguenta mais tantos abusos e tanta exploração”. É assim que Gustavo, 45 anos, motorista de aplicativo há seis anos no Rio de Janeiro, define a relação entre estes trabalhadores e as plataformas de transporte, como Uber e 99.

O carioca é um dos milhares dos motoristas de aplicativos espalhados pelo país, que prometem realizar uma paralisação nacional na próxima segunda-feira (15) contra as maiores empresas do setor em atividade no Brasil.

Trabalhadores de 16 estados já confirmaram adesão à paralisação, que reivindica valores mínimos de R$ 10,00 para corridas de até três quilômetros e R$ 2,00 por quilômetro rodado.

O protesto contra as plataformas está sendo organizado nas redes sociais, em especial em grupos de comunicação via whatsapp. Além de manter os aplicativos desligados por 24 horas, a ideia das lideranças é a promoção de carreatas até a frente das sedes da Uber e 99 distribuídas pelo país.

As denúncias e reclamações são muitas, mas Gustavo é taxativo ao escolher a principal delas.

“O principal é a tarifa”, explica. O motorista conta que as tarifas estão há oito anos sem reajuste e acrescenta que empresas como a Uber manipulam os valores, prejudicando os trabalhadores.

“O Uber, por exemplo, chega a reter 50% das tarifas cobradas dos passageiros, que variam de acordo com cada cliente. É um abuso muito grande”, relata.

Enquanto trabalham por horas exaustivas, os motoristas também ficam expostos a riscos de segurança, e não faltam relatos de assaltos e até de roubos seguidos de morte de trabalhadores.

“Do início do ano para cá, só que eu tenho conhecimento, três colegas foram mortos em assaltos, aqui no Rio de Janeiro”, aponta Gustavo.

Descontos

Uma das reivindicações dos motoristas é de que o desconto máximo oferecidos pelas plataformas não ultrapasse 20% da tarifa.

“A Uber dá desconto a alguns passageiros, chegando até a nos pagar em alguns casos, mas no final é o motorista que paga, pois em média o quilômetro rodado no RJ sai a R$ 1,20, fazendo com que o motorista não consiga manter o carro”, denuncia Gustavo.

O motorista relata que quando entrou no aplicativo, há 6 anos o quilômetro rodado era fixado em R$ 1,40. Seis anos depois, o valor caiu para R$ 1,20 e em alguns casos, chega a R$ 1,00.

Muitos trabalhadores não conseguem pagar os financiamentos dos veículos ou até mesmo fazer a manutenção dos carros.

Do outro lado, passageiros reclamam que os carros estão sucateados e que existem veículos antigos, fora do padrão estabelecido pela empresa.

A situação beira o insustentável, protesta Gustavo. Com os baixos valores recebidos por cada viagem, os motoristas se veem obrigados a trabalhar em vários aplicativos ao mesmo tempo, ficando até 18 horas na rua.

“E tudo isso para chegar em casa e ver os filhos dividindo um pão, para poder comer o outro (pão) no dia seguinte. É humilhante”, desabafa.

As plataformas também têm sido alvo de reclamações dos próprios passageiros, por conta do alto índice de cancelamentos e desistências.

Passageiros no Rio de Janeiro e São Paulo relatam, por exemplo, um tempo de espera que pode chegar até uma hora na espera por um carro disponível que aceite sua corrida.

Vínculo empregatício

Nos últimos dias, uma ação trabalhista teve desfecho positivo para um trabalhador que processou a Uber, em Porto Velho (RO), pedindo que a Justiça reconhecesse o vínculo empregatício entre ele a empresa de transporte.

Em uma decisão de 46 páginas, o juiz reconheceu o vínculo empregatício de quatro anos entre a Uber e o trabalhador, condenando a empresa.

“Eles escolhem a corrida, o valor, criam regras que se não cumpridas, causam a expulsão do motorista da plataforma, e dizem que não há relação de trabalho? É claro que tem”, opina o motorista, que vai participar da paralisação marcada para a próxima segunda.

No Rio de Janeiro, a concentração se inicia às 8h. Os motoristas cariocas sairão do Aeroporto Santos Dumont rumo às sedes da Uber e da 99 em carreata pela orla.

Texto: Thiago Manga/Brasil Independente

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