Central dos Sindicatos Brasileiros

“O suicídio de Vargas não foi uma covardia, mas sim um ato de heroísmo”, afirma José Augusto Ribeiro

“O suicídio de Vargas não foi uma covardia, mas sim um ato de heroísmo”, afirma José Augusto Ribeiro

Jornalista e escritor fala sobre as principais conquistas do trabalhador brasileiro, iniciadas por Getúlio Vargas

O Estado Novo – nome que se deu ao período em que Getúlio Vargas governou o Brasil, entre os anos de 1937 e 1945 – foi marcado por conquistas históricas, como a criação da legislação trabalhista, do Ministério do Trabalho e da Justiça do Trabalho, salário mínimo, jornada de oito horas, previdência social e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A Era Vargas conseguiu mudar o rumo das relações trabalhistas no Brasil e se tornou o principal instrumento de proteção dos brasileiros. É sobre estas conquistas e o legado Getúlio que o jornalista e escritor José Augusto Ribeiro – autor da trilogia “A Era Vargas”, que será relançada em 2015 – concedeu entrevista.

Era Vargas e as leis de proteção ao trabalhador

A Revolução de 1930, movimento que levou Getúlio Vargas ao poder e encerrou um período de dominação da oligarquia cafeeira, acabou com a chamada Velha República e iniciou um novo ciclo na história do País. José Augusto Ribeiro afirma que a Revolução de 30 deu início à existência das leis trabalhistas no Brasil.

“Antes havia uma ou outra lei que o Brasil tinha assinado se comprometendo a respeitar certos direitos dos trabalhadores. Isso não era efetivo porque os sindicatos não podiam funcionar. Então, a Revolução de 30 adotou leis muito mais amplas e fez cumprir as leis trabalhistas, mas, sobretudo, assegurou a liberdade dos sindicatos. Isso foi o mais importante”, explica. Para o jornalista, a política de valorização do salário mínimo atual é herança de Vargas. “O salário mínimo é reajustado acima da inflação hoje, e tudo isso vem lá da revolução de 30”, conta.

José Augusto Ribeiro destaca que o Estado Novo foi inevitável nos rumos dos acontecimentos da época, principalmente para evitar que uma ditadura militar de extrema direita, favorável à ideologia de Adolf Hitler, dominasse o Brasil e tirasse o País do projeto de crescimento, soberania e igualdade idealizado por Vargas.

“Getúlio impediu que o Brasil tomasse o caminho do Hitler. Tanto que, logo que ele decretou o Estado Novo, o subsecretário de estado dos Estados Unidos, Summer Wells, disse ‘Agora nós temos a certeza de que o Brasil está conosco contra o Hitler’. A mesma coisa foi dita na Inglaterra por um porta-voz do governo inglês na Câmara dos Lordes. E se o Estado Novo tranquilizou as duas maiores potências aliadas na luta contra o Hitler, pode-se ter certeza de que o objetivo foi esse”, afirmou o jornalista sobre a importância do período para os rumos do País e para a consolidação dos ideais do trabalhismo proposto pelo presidente.

Soberania nacional e o legado de Vargas

Getúlio Vargas foi um defensor da valorização e proteção das riquezas nacionais, bem como do estímulo à criação de uma nação independe e justa para os brasileiros. Com este objetivo, construiu, no final dos anos 1940, a campanha “O petróleo é nosso” para despertar a sociedade brasileira para a necessidade da criação de uma empresa nacional estatal para gerir este recurso que se transformaria numa das principais riquezas do Brasil.

A iniciativa culminou com a criação da Petrobras em 1953. Segundo Ribeiro, a descoberta do Pré-sal representa a importância da insistência de Vargas na criação da empresa. “A Petrobrás hoje nos deu o Pré-Sal. Só o Brasil tem, e por causa dela. Uma empresa privada não teria condições de investir o que a Petrobras investiu no Pré-sal”, pontua.

O escritor conta que Getúlio passou a sofrer ataques de vários setores da política, da imprensa, da sociedade civil e militares para desistir da criação da estatal, mas seguiu seu ideal até o fim da vida. Ribeiro revela que o objetivo dos opositores de Vargas era liquidar as realizações do presidente. “Tanto que, quando Getúlio se suicidou [em agosto de 1954], o sucessor dele, o vice-presidente Café Filho – que estava mancomunado com o golpe – primeiro decidiu não mexer no aumento de 100% do salário mínimo”, diz. “E, segundo, decidiu não mexer com a Petrobrás, sabendo que aquilo estava no coração do povo brasileiro. E essa coisa se solidificou com o suicídio, que não foi um gesto de fuga ou covardia, e sim um ato de heroísmo. Ele sacrificou a vida dele para preservar as coisas que ele tinha feito”, completa o entrevistado.

A modernidade da CLT

No dia 1º de maio de 1943, Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei nº 5.452, que reunia todas as leis de proteção ao trabalhador: nascia a CLT. Foi um marco para o País, que impulsionou a máquina da modernização do Brasil, aumentando também o acesso à educação, à qualificação profissional e à formalização das leis trabalhistas. José Augusto Ribeiro afirma que modernizar a CLT é manter os direitos que ela garante há mais de 70 anos, além de evitar que os acordos firmados entre empresas e trabalhadores se sobreponham ao que a lei estabelece.

“No momento em que se fizer isso, com a ameaça de desemprego, qualquer empresa consegue de seus trabalhadores um acordo para reduzir tempo de férias, aumento integral de salários, bem como obrigar o trabalhador a fazer horas extras sem pagar corretamente. Ou seja, vários abusos serão permitidos”, critica o jornalista.

“Essa coisa do acordo prevalecer sobre a lei é inspirada nos EUA, porque lá não há propriamente uma legislação social. Então valem as Convenções Coletivas de Trabalho. Isso pode ser bom para eles, não necessariamente para o Brasil. Mas ainda tem gente que acha que o que é bom para os EUA é bom para o Brasil. Mas eu não concordo com isso”, finaliza José Augusto Ribeiro.