“O que está se fazendo é uma crueldade inaceitável”, diz Ciro Gomes sobre a agenda de retrocessos

Ex-ministro destrinchou o colapso do sistema produtivo brasileiro na abertura do Congresso Estadual do Rio de Janeiro

Encerrando a cerimônia de abertura do Congresso Estadual do Rio de Janeiro, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes apresentou aos dirigentes as características estruturais que emperram o desenvolvimento econômico do País. Para ele, são três as principais causas dos 14,3 milhões de desempregados e dos 9 milhões de trabalhadores na informalidade do Brasil. “É, disparado, o maior colapso econômico que eu conheço na minha vida de testemunha da vida brasileira”, disse o ex-ministro. “O que está se fazendo é uma crueldade inaceitável”, reiterou.

O colapso do passivo nacional das empresas é uma das causas apontadas por Ciro Gomes para este cenário. Segundo o palestrante, “são 40 anos de juros altos no País” travando o desenvolvimento produtivo. “O Brasil pratica a maior taxa de juros do mundo. Se a taxa de juro que o governo paga é mais alta que o lucro médio real, a economia para”, critica Gomes, reafirmando que o País “tem uma taxa de juro muito acima da média do lucro do campo, do comercio e da indústria”. “É o grande liberalismo”, emendou.

Ciro Gomes criticou também a falta de regulação do mercado e de um planejamento estratégico. “Nunca foi o mercado o responsável por resolver a questão do desenvolvimento de nação nenhuma”, disparou. Segundo o ex-governador do Ceará, o desequilíbrio estrutural nas contas brasileiras com o mercado exterior é mais uma das causas do caos no desenvolvimento nacional. “O Brasil cometeu a estupidez de vender petróleo barato e comprar diesel caro, e tem hoje a mesma proporção na economia que tinha em 1910. Há um buraco de US$ 124 bilhões”, apontou sobre como o desequilíbrio no dólar afeta a vida da população que depende e usufrui dos serviços.

A falência nas contas públicas é, na visão de Ciro Gomes, mais um grande entrave ao crescimento da Nação. Fazendo um paralelo com índices anteriores de investimentos da União – 2% no final da ditadura e 1,75% na administração Lula –, o palestrante revelou que a taxa atual de investimento da União é de 0,4%. De acordo com o ex-ministro, esse percentual é “o menor desde a segunda guerra mundial”. “Se olharmos os estados que estão quebrados, vamos ter, somando tudo, 1,6% do PIB em investimento. O Brasil vai pagar esse ano 11% de juros para banco, e 1,6% para investir”, contestou.

Previdência

Ciro Gomes lembrou que os milhões de desempregados citados por ele poderiam estar contribuindo para a Previdência Social, bem como os trabalhadores que hoje estão na informalidade. A solução não é concentrar a reforma da Previdência na retirada de direitos, avalia o ex-governador. “Se os 14,3 milhões de desempregados mais os 9 milhões da informalidade estivessem dentro do sistema produtivo, não se falaria em ‘déficit da Previdência’”, reiterou. Para ele, a questão “não é perseguir mulheres, trabalhadores rurais, pessoas idosas, professores, preservando privilégios”. “Porque 2% dos beneficiários da Previdência Social brasileira levam 40% do benefício”, completou.

A construção de um projeto nacional precisa ser partilhada com o conjunto da sociedade, afirma o ex-ministro. Ciro Gomes diz que é preciso “incorporar esse projeto na imaginação da liderança comunitária, acadêmica e da liderança política”. “Vamos lutar para restaurar a democracia e apostar que esse país tem tudo para resolver o seu problema”, concluiu, parabenizando a CSB pela sua trajetória no movimento sindical e convocando o sindicalismo brasileiro a restaurar sua vinculação com a causa dos trabalhadores a fim de negociar a agenda real da sociedade.

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