O Brasil precisa de de uma empresa pública para o setor de TI. Defendemos a criação da TI Brás
*Antonio Neto
O Brasil é conhecido por possuir imensas riquezas. Petróleo, minérios, água, solo fértil e uma biodiversidade incalculável. Mas certamente nenhuma delas, no século 21, supera o potencial representado pelo nosso povo. A inteligência e a criatividade do brasileiro são riquezas exclusivas, difíceis de serem encontradas em outras partes do Planeta.
Este potencial, que começa a ser lapidado e desenvolvido com os investimentos e mudanças de rumo na educação brasileira, representa um potencial extraordinário para o nosso país, sobretudo para o setor de tecnologia e tecnologia da informação, segmentos que já simbolizam os pilares do desenvolvimento mundial e, sem dúvida, ainda ampliarão a sua importância para qualquer sistema produtivo.
Estamos falando de um setor que está, inevitavelmente, inserido em tudo na nossa vida. Efetivamente todo o setor produtivo depende de sistemas ou equipamentos para ter sucesso. Para existir e se desenvolver.
Segundo o instituto Gartner, o setor de tecnologia da informação e comunicações (TICs) movimenta quase US$ 4 trilhões no mundo, sendo um quarto deste montante aplicado no setor de serviços. Já a área de hardware, que engloba PCs, tablets, telefones celulares e impressoras, movimenta cerca de US$ 720 bilhões.
Atualmente somos o quarto mercado mundial, estamos em franca expansão, mas infinitamente distante do nosso potencial. Seguindo a trajetória em curso, segundo projeções, ampliaremos o déficit de mão de obra dos atuais 75 mil profissionais para 750 mil em 2020. Num segmento onde a média salarial gira em torno dos R$ 5 mil é, no mínimo, um desperdício.
No entanto, falar em tecnologia da informação apenas por sua capacidade econômica é insuficiente, pois ela é fundamental para aumentar a produtividade de todos os setores e uma ferramenta vital para melhorar os serviços públicos. Mais ainda: é crucial para a segurança nacional e empresarial, basta vermos o recente escândalo provocado pela espionagem do governo norte-americano.Portanto, ao se referir à tecnologia ‑ mais do que em qualquer setor‑ a sua origem, isto é, se é nacional ou estrangeiro, tem relevância. O “made in” da etiqueta não é apenas um frase, mas uma questão de soberania.
Contudo, neste segmento, temos um quadro lastimável no mercado brasileiro.
Na área de software, 70% das vendas ficaram concentradas em dez empresas. Apenas uma é nacional. No segmento de equipamentos, 97% do mercado está em poder de dez companhias, sendo 80% do mercado nas mãos de três empresas estrangeiras. A única brasileira no setor ocupa a oitava posição.
Menos concentrado entre todos setores no País, segundo a Consultoria IDC, a área de serviços de TI tem 39% das receitas concentradas em dez companhias, sendo duas nacionais. Mas o pior é que já fomos mais relevantes neste segmento, e infelizmente importantes empresas deixaram de ter capital nacional (Tivit, CPM Braxis, Politec e Sonda). Restaram apenas Stefanini e Scopus entre as maiores.
Este quadro mostra que os incentivos efetuados para o setor não impedem, pelo contrário, incentivam a desnacionalização. Isso porque alguns setores do empresariado nacional se empenham mais em alçar voos internacionais e em pagar menos para os profissionais do que em defender suas fronteiras. Enquanto isso, o nosso mercado está cada vez mais sendo atacado por empresas de todos os cantos do mundo.
Diante deste cenário, além da questão econômica, temos que refletir no quão estratégico é este setor e no potencial que está sendo desperdiçado pelo nosso país ao não incluir, de forma substancial, a tecnologia da informação como um dos pilares estruturais do nosso desenvolvimento econômico e social.
Há alguns anos, defendemos a criação de uma empresa pública para o setor de TI, a exemplo da Petrobrás, com a intenção de potencializar o desenvolvimento e investimento nacional no segmento. Esta empresa, de economia aberta, mas sob o comando do Estado, poderia congregar as empresas públicas de tecnologia, como Serpro e Dataprev, atuando como um player substantivo para estimular e canalizar as forças nacionais para o segmento.
Além de representar investimentos nesta área, sobretudo para atender as demandas urgentes de modernização dos serviços públicos, a exemplo da Petrobrás, a TI Brás representará, sem dúvida, um marco histórico para qualquer governo nacionalista que busca deixar sua marca no desenvolvimento nacional e na emancipação do nosso povo.
Caso contrário, estaremos fadados a substituir manuais em inglês pelos em mandarim.
(*) Membro do Diretório Nacional do PMDB, presidente da Central dos sindicatos Brasileiros (CSB) e do Sindicato dos Trabalhadores em Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (SINDPD).
Fonte: Site do PMDB