Enquanto 13 milhões de brasileiros amargam o sofrimento do desemprego e 38 milhões, o desalento da informalidade, o presidente Jair Bolsonaro impõe como grande medida institucional a comemoração oficial do golpe de Estado que resultou na ditadura militar em 1º de abril de 1964.
Entre outras coisas, a ação visa tirar a atenção das investigações criminais contra seus familiares e correligionários e do fracasso absoluto de seu insipiente governo, e revela uma doentia e sádica veneração por um regime marcado por assassinatos, torturas e interferência externa nos rumos políticos do nosso País.
Os militares estariam agora obrigados a celebrar o aniversário da entrada no Brasil dos manuais e cursos de tortura da CIA? Ou a submissa e ridícula “visita” a este órgão norte-americano pelo seu presidente Bolsonaro, seu filhote e ministro da Justiça?
Os militares irão comemorar a hiperinflação parida em seus longos anos de governo ou a inanição patriótica de um ministro da economia que os comanda, que quer lhes sacar os parcos direitos e a aposentadoria do povo brasileiro inteiro?
Será que os defensores de nossa soberania irão solenizar a entrega da Embraer para os americanos, da base de Alcântara e da nossa minguada economia? Ou a sua subordinação forçada e vergonhosa a um exótico colombiano que os comanda no Ministério da Educação?
Talvez nossos militares não estejam satisfeitos em festejar o fato de seus superiores participarem de uma visita aos Estados Unidos, onde o seu comandante subjugou os interesses do nosso País, aceitando alinhar-se como colônia a um império decadente, como bem destacou o ex-ministro Delfim Neto.
Poderiam ainda, por fim, louvar a vitória sobre a ameaça comunista e a República de excluídos que poderiam tomar o poder? Certamente que não, pois, como sabemos, a ameaça comunista no Brasil foi e é tão real quanto o Saci Pererê, a Mula Sem Cabeça ou um bolsominion inteligente.
Porém, infelizmente, esse aviltamento à nossa manchada história representa um ataque brutal e vergonhoso às lágrimas das mães que não tiveram sequer o direito de enterrar seus filhos assassinados, às crianças que sofreram por nunca mais verem seus pais, às cruzes sem nome que cortam a nossa terra e por uma triste memória ainda não cicatrizada, que só pode ser celebrada por ignaros, seviciadores ou ímpios.
Repudiamos esse ato que nada acrescenta para nosso País e nossa história.
Antonio Neto
Presidente da CSB