Mundo ainda tem 168 milhões de crianças que trabalham, diz estudo da OIT

Número caiu 33% em relação ao ano 2000, mas ritmo de redução não é suficiente para atingir meta de erradicar as piores formas de trabalho infantil até 2016

RIO – Cerca de 11% do total da população infantil no mundo realizam algum tipo de trabalho, alerta o relatório “Medir o progresso na Luta contra o Trabalho Infantil”, divulgado nesta segunda-feira pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). São 168 milhões de crianças que precisam trabalhar para ajudar a complementar a renda da sua família, comprometendo o seu futuro e o desenvolvimento econômico de suas nações. Em relação ao ano 2000, o número de crianças trabalhando caiu 33% no grupo entre 5 e 17 anos.

A situação é considerada alarmante para 85 milhões de crianças, que estão dentro do grupo exposto a trabalhos considerados perigosos. Apesar de o número ser alto, a maior parcela de crianças envolvidas em situações extremas de trabalho foi reduzida à metade durante o último período de 12 anos, quando somavam 171 milhões.

No entanto, o ritmo de redução não é suficiente para alcançar o objetivo de eliminar as piores formas de trabalho infantil para 2016, meta pactuada pela comunidade internacional, alerta a entidade. E nem para 2020, ano em que, segundo projeção do organismo, pelo menos, 107 milhões de crianças estarão trabalhando, sendo 50 milhões no grupo que realiza trabalho considerado perigoso.

– Estamos nos movendo na direção correta, mas os progressos ainda são muito lentos. Se realmente queremos acabar com o flagelo do trabalho infantil no futuro próximo então é necessário intensificar os esforços em todos os níveis. Existem 168 milhões de boas razões para fazê-lo – declarou o Diretor Geral da OIT, Guy Ryder.

Apesar de, oficialmente, a soma de crianças no trabalho infantil chegar a 168 milhões, o número de indivíduos no grupo etário de 5 a 17 anos que realiza qualquer atividade econômica soma 264 milhões, ou 17% do total. Ou seja, 96 milhões de crianças encontram-se ocupadas em algum tipo de produção comercial ou não comercial (principalmente a produção de bens e serviços para consumo próprio).

Aqui, estão incluídos aqueles de atividades que não entram na categoria trabalho infantil, mas que possuem indivíduos entre 5 e 17 anos trabalhando em empregos permitidos para determinada faixa etária (no Brasil, a partir dos 14 anos, é permitido o trabalho como aprendiz e, a partir dos 16, é permitido desde que não seja perigoso) e por poucas horas.

Quanto mais pobre, pior

Pela primeira vez, as estatísticas da OIT apresentaram a parcela da população em trabalho infantil de acordo com o nível de rendimento de cada país. Sem surpresas, o cruzamento de dados mostrou que quanto mais pobre é o país em análise, proporcionalmente, a população de crianças trabalhando tende a ser maior.

Cerca de 23% (74.394 do total de 330.257 de crianças) estão trabalhando em países de baixos rendimentos. Essa quantia é bem menor nas outras regiões, girando em torno de 9% (81.306 do total de 902.174) nos países de renda média e atingindo 6% (12.256) do total de 197.977 do grupo de 5 a 17 anos que vivem em nações de rendimento médio alto. Proporcionalmente, o risco de trabalho infantil é o mais elevado para as crianças na África Subsaariana, onde uma em cada cinco crianças está no trabalho infantil.

Porém, em termos absolutos, o quadro se inverte. Existem 93,6 milhões de crianças trabalhadoras em países de rendimento médio baixo, 12,3 milhões se encontram em países de rendimento médio alto; as crianças trabalhadoras em países de baixo rendimento perfazem um total de 74,4 milhões, ou seja, os países de médio rendimento acolhem os maiores números de crianças trabalhadoras. A OIT ressaltou que a incidência do trabalho infantil não foi estimada para os países com nível de rendimentos elevados, devido a limitações de dados. Em termos absolutos, o maior número de crianças trabalhadoras se encontra na região da Ásia-Pacífico.

“Esses resultados evidenciam que, apesar do nível de rendimentos e a pobreza serem fatores determinantes para o trabalho infantil, não constituem de modo definitivo as únicas razões para as famílias enviarem as suas crianças para o trabalho”, destaca o relatório.

Situação crítica na África

A região de Ásia e Pacífico registrou a maior queda no números de trabalhadores nestas condições, passando de 114 milhões em 2008 para 78 milhões em 2012. No Oriente Médio e no Norte da África existem 9,2 milhões de crianças trabalhadoras. Já na América Latina, a estimativa aponta 1,6 milhão de indivíduos. Porém, a África Subsaariana continua a ser a região com a mais elevada incidência de trabalho infantil, com 21,4% das 59 milhões de crianças ocupadas.

Para a estimativa mundial da OIT sobre o trabalho infantil de 2012, foram utilizados cerca de 75 conjuntos de dados nacionais. No total, 53 países das principais regiões mundiais foram cobertos por estas pesquisas.

Segundo a OIT, devido a algumas deficiências nos dados, o quadro regional do trabalho infantil ainda permanece parcial na sua representação. Existem dados insuficientes para gerar estimativas separadas para a Europa do Leste e a Ásia Central, a região do Pacífico e o Caraíbas ou para as economias industrializadas.

Fonte: O Globo

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