Marcha a ré

Ao criar incentivos para a indústria automobilística, Doria repete receita custosa e pouco eficaz

 

Vai em má direção o governador João Doria (PSDB) ao lançar um bilionário pacote de incentivos para a indústria automobilística em São Paulo, o IncentivAuto.

O programa prevê descontos de até 25% no ICMS para empresas que investirem no mínimo R$ 1 bilhão, em fábricas novas ou existentes e no desenvolvimento de produtos, e gerarem pelo menos 400 empregos em São Paulo. A redução máxima do imposto valerá para aportes de R$ 10 bilhões ou mais.

Também está prevista a concessão de financiamento por meio de um fundo estadual, inclusive com a possibilidade de generosos descontos de até 25% no pagamento do saldo devedor, sob alguns critérios.

Numa curiosa transmutação doutrinária, o ex-ministro e hoje secretário da Fazenda paulista, Henrique Meirelles, argumentou que mais produção gerará mais arrecadação, o que permitirá o desconto de 25%. Ora, se tal façanha está ao alcance de um governo, por que não generalizar a prática?

A lógica do programa é capenga. Num setor que já padece de grande capacidade ociosa, faz sentido incentivar novas fábricas? Se forem apenas modernização das atuais, serão gerados novos empregos? A que custo por vaga gerada?

A iniciativa parece uma rendição diante de ameaças das montadoras de reduzir suas atividades no estado. A Ford já anunciou o fechamento de sua principal unidade, em São Bernardo do Campo, decisão que não deve ser revertida.

Também a GM vinha negociando soluções com o poder público, em troca de investimentos de R$ 10 bilhões —o mesmo montante que permitirá o desconto máximo de ICMS no IncentivAuto.

Beira o deboche a afirmação de Doria de que seu governo segue uma orientação liberal ao reduzir impostos. O governador apenas repete o padrão que tanto já custou ao país —benefícios baseados no Orçamento público para setores poderosos e ineficientes.

Liberalismo seria cortar tributos para todos, desde que respeitado o equilíbrio das finanças estaduais. Também é temerário que o governo paulista embarque na famigerada guerra fiscal, que chegou ao paroxismo. São tantos os incentivos para a atração de empresas e investimentos que todos os estados perdem arrecadação.

A complexidade do ICMS constitui, ademais, pauta prioritária de uma reforma tributária. Doria e os demais governadores deveriam se bater por essa agenda, em vez de recorrer a novos remendos.

Difícil, pois, encontrar motivos para o tal IncentivAuto. Trata-se de um retrocesso direcionar ainda mais recursos do contribuinte para um setor já protegido, num momento em que se busca um novo padrão de políticas públicas.

Fonte: Folha de S.Paulo

Compartilhe:

Leia mais
desemprego entre jovens
Taxa de desemprego entre jovens é o dobro do grupo acima dos 30, aponta FGV
vr va mudanças regras
VA e VR podem passar por mudanças nos próximos 30 dias, diz Ministério da Fazenda
escala 6x1 prejudica saúde mental
Redução da jornada de trabalho tem apoio de 65% dos brasileiros, aponta pesquisa
isenção conta de luz
Governo quer isentar conta de luz para até 60 milhões de pessoas, diz Alexandre Silveira
sorteio carros 1o de maio centrais sindicais
Centrais preparam 1º de maio unificado com shows gratuitos e sorteio de 10 carros; participe!
greve geral argentina cgt
Centrais sindicais argentinas convocam greve geral contra políticas de Javier Milei
havan condenada assédio eleitoral
Justiça do Trabalho condena Havan por assédio eleitoral contra ex-funcionária
taxa de juros para famílias cresce
Taxa de juros para famílias cresce e alcança maior nível desde agosto 2023
debate dieese cop 30 paulo de oliveira
Agenda ambiental não pode ignorar justiça social, defende CSB em debate pré COP 30
13o aposentados inss consulta
Consulta do valor do 13º para aposentados e pensionistas do INSS começa em maio