Mais de 70% dos trabalhadores no Brasil se sentem desmotivados; veja os motivos

Imagine que você trabalha numa empresa com 100 funcionários, dos quais apenas 23 se consideram engajados no trabalho.

Parece pouco? É o que aponta a pesquisa Estado do Ambiente de Trabalho Global do Instituto Gallup, publicada em junho.

No mundo todo, 77% dos profissionais estão desmotivados com o próprio emprego. No Brasil, o número de trabalhadores desanimados é de 72%.

“Uma enorme maioria das pessoas só continua onde está por necessidade”, afirma Renata Rivetti, diretora da Reconnect Happiness At Work, empresa especializada em felicidade corporativa e liderança positiva.

Além da insatisfação, a desmotivação no trabalho prejudica o desempenho do profissional e abre espaço para fenômenos como o quiet quitting e job hopping.

Veja também: Burnout: não adianta tratar o trabalhador se as empresas são tóxicas, diz especialista

Rivetti, aliás, lidera o projeto 4 Days Week (Semana de 4 dias de trabalho) no Brasil, que está prestes a iniciar seu experimento com a participação de dezenas de empresas. Recentemente, deu uma palestra na sede do Sinppd-SP para falar sobre a iniciativa.

Presidente do sindicato e da CSB, Antonio Neto pretende levar a ideia da semana de 4 dias de trabalho para as discussões com os profissionais do setor sobre a campanhas salarial de 2024. O sindicato realizará uma assembleia com os trabalhadores no dia 16 de novembro.

O que explica a desmotivação?

1) Falta de estímulos

Às vezes, a rotina se instala e, com ela, a monotonia. A ausência de desafios, novos aprendizados e exercícios para aprimorar pontos fortes pode levar à desmotivação. “Falta o senso de realização”, diz Rivetti.

E o contrário também é verdadeiro: o excesso de tarefas e a sobrecarga, segundo a especialista, fazem o gás desaparecer.

2) Pouca flexibilidade

A pandemia jogou luz sobre a necessidade de equilibrar vida pessoal e profissional. Ambientes de trabalho que oferecem pouca flexibilidade são desestimulantes, dizem os especialistas.

“É aqui que entra o polêmico home office. Alguns profissionais se desmotivam por não terem a possibilidade de trabalhar remotamente, por exemplo”, afirma Adriano Lima, especialista em RH e autor do livro “Você em Ação”.

3) Relações com colegas e gestores

Cultivar boas relações no ambiente de trabalho tem relação direta com a motivação. Mas nem sempre é fácil. Pode ser que os colegas te inspirem desconfiança ou sejam difíceis de lidar. Às vezes, o problema é a gestão -e é aí que a situação se agrava.

“As pessoas, hoje, não deixam as empresas. Deixam seus gestores”, diz Lima.

Chefes autocráticos, que ainda entendem a dinâmica da relação como um “eu mando, você obedece”, estão entre os principais fatores de desmotivação. Ambientes tóxicos de trabalho, também.

4) Empresa incongruente

Sabe quando a organização diz estar preocupada com causas sociais, como diversidade, inclusão e sustentabilidade, mas, internamente, age na direção contrária? É a famosa incongruência.

Para a geração Z, ela gera o sentimento de injustiça e frustração, diz Juliana Seidl, psicóloga e orientadora de carreiras.

Ela também pode aparecer em relação aos valores dos próprios funcionários. Se a empresa não valoriza as mesmas coisas que você, temos mais um fator de desmotivação.

E quando tudo isso está nos trinques, mas ainda me sinto desmotivado? Pode ser o famoso “não é você, sou eu”.

“Se pergunte: quais são minhas paixões, meus talentos e meus valores? Nós precisamos ter essas três esferas alinhadas para sentir motivação”, diz Rivetti.

Ela ainda chama atenção para a “permissão para ser humano”. Ninguém acorda feliz e motivado todos os dias. É normal ter altos e baixos. A autocobrança também pode ser um fator de desmotivação.

“Às vezes temos uma visão distorcida de nós mesmos. Estamos entregando um bom trabalho, mas não temos essa percepção e nos cobramos demais”, diz Seidl.

E, se estamos passando por problemas em outras áreas, é normal que eles respinguem no trabalho também.

Quando a desmotivação é um sinal para trocar de emprego? Quando começa a afetar outras partes da sua vida -especialmente a saúde mental.

“Alerta vermelho para todo e qualquer sinal que indique que sua segurança psicológica foi abalada”, diz Seidl.

Exemplo: pesadelos, autocobrança excessiva, estresse excessivo, ansiedade, desânimo, princípios de depressão e síndrome de burnout.

E se o sentimento continuar mesmo depois de ir para outra empresa, vale refletir se você está na área certa. Não tem nada de errado em recalcular a rota caso perceba que o trio paixões-talentos-valores, sugerido ali em cima por Rivetti, não esteja totalmente realizado.

Quer mais dicas? Na seção abaixo, Juliana Seidl fala sobre o que empresas e profissionais podem fazer para reacender a chama da motivação

O que é possível fazer para reverter a desmotivação?

– Primeiro, observe os próprios sinais e entenda o porquê da desmotivação ter aparecido;

– Tenha uma rede de apoio, dentro e fora do trabalho. Se for desabafar com outros colaboradores, seja esperto e não fale com quem você não confia;

– Procure fazer novas amizades no trabalho, e não necessariamente só com as pessoas que trabalham diretamente com você;

– Avalie maneiras diferentes de fazer o mesmo trabalho e busque outros processos criativos para fugir da rotina. Vale sondar o chefe para pedir novos desafios;

– Entenda que a desmotivação é um fenômeno humano, não individual. Toda experiência tem a fase da novidade e a da estabilidade. Enxergar isso como algo normal ajuda a tirar o peso de si próprio;

– Se você gosta da empresa, experimente pedir para trocar de área;

– E, por fim, considere mudar de emprego. Mas, a não ser que você esteja em sofrimento agudo, faça essa saída de forma planejada, de preferência com outra oportunidade em vista.

O que as empresas poderiam fazer para melhorar essa situação?

– Investir em práticas atualizadas e estratégicas de gestão de pessoas. Vale avaliar a possibilidade de trabalho remoto e de flexibilizar a jornada e os horários, porque isso está diretamente ligado à motivação;

– Capacitar a liderança. Não adianta promover um colaborador por suas habilidades técnicas sem trabalhar as competências sociais dele também;

– Distribuir tarefas de forma equilibrada, sem gerar sobrecargas e valorizando as competências individuais de cada colaborador da equipe;

– Criar um ambiente seguro para que os colaboradores manifestem suas queixas. Sentir que suas questões não serão acolhidas também gera insatisfação.

Fonte: Folha de S. Paulo

Compartilhe:

Leia mais
Protesto servidores Ipsemg
Sindicato dos Servidores do Ipsemg convoca para protesto contra projeto sobre o Instituto
Ministro Carlos Lupi e José Avelino Pereira Sinab CSB
Presidente do Sinab assume posto no Conselho Nacional de Previdência Social
destruição enchente rs auxilio financeiro
Mais de 5,6 mil trabalhadores domésticos no RS podem pedir auxílio financeiro; saiba como
img-inscricao-concurso-publico-vagas-para-ti
Encerram hoje (4/7) inscrições para concurso do Ministério da Gestão; salário de R$ 8,3 mil
reunião tst centrais sindicais
Centrais têm reunião com presidente do TST sobre contribuição assistencial e emprego no RS
APOIO À NOTA TÉCNICA Nº 09 DA CONALIS
Centrais apoiam Nota Técnica da Conalis sobre contribuição assistencial
acordo rodoviários porto alegre trt
Rodoviários de Porto Alegre terão reajuste no salário e no vale-alimentação
Apoio Financeiro RS prorrogado
Governo amplia prazo para empresas do RS aderirem a Apoio Financeiro a funcionários
prodesp descumpre cota jovem aprendiz
Tarcísio promete 60 mil vagas de Jovem Aprendiz, mas Prodesp descumpre cota
Fachada ministério do trabalho
Ministério do Trabalho notifica 1,3 mil sindicatos para atualizar informações; acesse a lista