Para economista, a não compensação do sistema tributário, o endividamento das famílias e o desvio de recursos criaram um sistema financeiro ineficaz, marcado pelo capital improdutivo
“Estamos vivendo na era do capital improdutivo”. A declaração foi dada nesta quarta-feira, 25, pelo economista e professor titular de pós-graduação da PUC-SP, Ladislau Dowbor. Durante o primeiro dia de palestras do Congresso Estadual da CSB em São Paulo, o especialista esclareceu os caminhos que levaram o País a um recurso financeiro improdutivo.
No Brasil, mede-se o preço dos produtos à vista, sem incluir os juros. A realidade é oposta, já que a grande maioria da população faz compras a prazo – o que eleva o preço da mercadoria e reduz a capacidade de consumo. Na prática, o que ocorre é a redução de salários.
“A prerrogativa do movimento sindical é batalhar por melhores salários. Mas elevar a capacidade de compra também é fundamental. O trabalhador pode ter um salário condizente com o mercado, mas quando entra nos juros, a capacidade de compra é reduzida drasticamente. Paga-se mais que o dobro pelo produto a prazo. A fábrica não consegue expandir, dinamizar. E quando as pessoas não compram a economia não funciona”, esclareceu.
No Brasil, 61 milhões de brasileiros – 40% da população – estão endividados. Segundo Dowbor, a preocupação com a inflação é constante, enquanto os juros passam despercebidos. “O sistema de juros tirou 1 trilhão de reais da economia brasileira, o equivalente a 15% do PIB. Outros 7% são transformados em impostos”.
A economia brasileira e o capital improdutivo
O endividamento das famílias e empresas, o travamento da demanda, o desvio dos recursos, a não compensação do sistema tributário e a facilidade em investir em outros países criaram, no Brasil, um sistema financeiro integrado e ineficaz.
Para entender essa afirmação, o professor destaca que a economia brasileira é impulsionada por quatro motores – exportações, consumo interno das famílias, atividade empresarial e taxa Selic. O consumo das famílias é, de longe, o principal motor. “Quando você trava essa demanda através dos altos juros, as pessoas param de comprar e as empresas não têm para quem vender. Consequentemente, elas demitem. Essas pessoas reduzem mais ainda o consumo e torna-se um ciclo vicioso”, analisou Dowbor.
A hiperinflação em 1994 gerou uma compensação para os bancos – a elevação da taxa Selic e a liquidação do imposto sobre lucros e dividendos. Atualmente, Brasil e Estônia são os únicos países que ainda possuem esse sistema de isenção.
“O termo capital improdutivo significa que os sistemas financeiros descobriram uma era na qual o dinheiro físico não é mais necessário. Os bancos ganham sem produzir nada, sugam a capacidade de compra dos brasileiros, com uma média de juros de 141% no crediário. E grande parte do dinheiro vai parar em paraísos fiscais. O Brasil não só não investe como não paga imposto. É surreal”, criticou Ladislau Dowbor. “Não há economia que possa funcionar sem resgatar a produtividade de seu sistema financeiro”, enfatizou o professor titular da PUC.
O problema não é exclusividade do Brasil. Apesar de o sistema financeiro brasileiro ter produtividade líquida negativa, trata-se de uma tendência mundial. Uma das saídas imediatas seria reduzir os estoques e estabelecer impostos sob o capital improdutivo. A educação financeira também é importante. “Precisamos ser educadores e comunicadores. O conhecimento é revolucionário”, finalizou o palestrante.
Para assistir ao vídeo da apresentação, clique aqui.
Soluções por meio das redes sociais
Na linha de raciocínio de Dowbor, para combater as consequências do chamado capital improdutivo, a mobilização dos sindicatos pelas redes sociais, como Facebook, Twitter e YouTube, é indispensável de acordo com o palestrante e especialista em comunicação digital Marcio Carvalho. Segundo a análise de Carvalho, ferramentas de comunicação sob a administração de líderes são mais do que apenas meios de envio e recebimento de mensagens, são também ferramentas de organização.
A conclusão do especialista é baseada no estudo do atual cenário político-econômico brasileiro. Em um contexto de crise de representatividade institucional, onde há uma classe dominante fortalecida pela fragmentação da classe trabalhadora, a necessidade de uma unidade mínima do movimento sindical é inquestionável à defesa dos direitos dos trabalhadores. Entretanto, para Marcio, esta união só é possível por meio da aproximação entre representantes e representados.
“Quando a CSB e os sindicatos defendem a unicidade sindical, isso se transforma em poder político, e é a consolidação de um princípio político que faz as coisas avançarem. Mas como eu consigo isso? Por meio de um trabalho real, que se reflete nas redes sociais.”
“Então, quando a gente fala em trabalho sindical, a gente tem de saber que as pessoas querem falar com pessoas, não mais com a entidade, porque a comunicação digital nos dias atuais é feita através do celular em 89% dos casos, e celular é íntimo. Então, as pessoas esperam intimidade, identificação dos representantes com suas causas, seus problemas”, explica.
Apesar de destacar a importância das redes sociais na luta classista, o palestrante também ressalta que “não adianta uma ótima comunicação digital sem trabalho real” e um esforço conjunto às mídias tradicionais. De acordo com Carvalho, enquanto 58% dos brasileiros utilizam internet, 42% não são usuários e 63% ainda se informam primeiramente pela TV – dados que posicionam o Brasil na infância da utilização das mídias sociais.
“Precisamos estar presentes nos dois tipos de meios, pois os internautas brasileiros não atingiram a maturidade. Contudo, isso não quer dizer que devemos ter a mesma linguagem, muito menos os mesmos valores dos grandes conglomerados de comunicação. Eu defendo que os sindicatos devem realizar a comunicação contra-hegemônica, ou seja, uma comunicação alternativa”, aconselha o especialista.
Ainda durante a palestra, os dirigentes receberam algumas dicas de como utilizar as redes sociais em prol do movimento sindical, que serão futuramente aprofundadas em encontro a ser realizado dia 13 de novembro, na sede do Sindpd, em São Paulo. Segundo Marcio, algumas das principais são:
- Não enviar grande carga de texto por WhatsApp ou Facebook;
- Humanizar o contato do sindicalista com os trabalhadores;
- Não ser arrogante (o internauta gosta de colaborar, interagir e participar);
- Postar vídeos com no máximo 40 segundos de duração;
- Formar-se e atualizar-se permanentemente;
- Utilizar linguagem coloquial, divulgar questões pessoais ou institucionais no perfil público;
- Usar linguagem coloquial para ações de divulgação e institucional em questões relevantes em perfis institucionais;
- Publicar conteúdos relevantes ao público-alvo;
- Utilizar as redes para formação de quadros e direção política nos perfis de liderança;
- Segmentar os conteúdos de acordo com cada grupo de influência, disseminando-os em diversos meios.
Além das apresentações de Ladislau Dowbor e Marcio Carvalho, também palestraram no segundo dia do Congresso Estadual da CSB em São Paulo o mestre em comunicação pela UFRJ Carlos Conce, o doutor em Direito Clóvis Renato e a consultora jurídica Zilmara Alencar. Oratória sindical, assédio moral e política sindical foram os respectivos temas debatidos.
Veja abaixo a apresentação de cada palestrante:
Marcio Carvalho – Redes sociais e comunicação sindical
Clique aqui para baixar a apresentação do palestrante e assista ao vídeo da palestra aqui e aqui.
Carlos Conce – Oratória sindical
Para fazer o download da apresentação, clique no link.
Também assista aqui à palestra do doutor em direito do Trabalho Clóvis Renato.
E clique aqui para baixar sua apresentação.
Zilmara Alencar – Política sindical
Os slides da palestra estão disponíveis neste link e o vídeo da apresentação no Facebook.
Leia aqui matéria sobre a palestra da consultora a respeito da contribuição sindical.