Juros caem há 16 meses, mas taxa do cheque especial não sai do lugar

 Modalidade de crédito é a única a não acompanhar recuo da Selic, diz levantamento do BC

 Mariana Carneiro
Um ano e quatro meses depois do início do corte dos juros pelo governo, a taxa cobrada pelos bancos no cheque especial praticamente não saiu do lugar.
O comportamento foge à regra das demais linhas de crédito à pessoa física e também é atípico quando comparado às taxas do cheque especial no passado, em outros quatro ciclos de corte dos juros analisados pelo Banco Central desde 2002.

BC observou dados de crédito para explicar como bancos estão repassando quedas dos juros a consumidores – Fernando Frazão/Folhapress

O BC mergulhou nos dados históricos de crédito para investigar como os bancos estão repassando as quedas da taxa básica de juros a consumidores e empresas. Nos últimos meses ganharam corpo críticas de que as instituições represaram o afrouxamento, o que teve como resultado taxas de mercado mais elevadas do que se poderia esperar com a Selic no piso histórico de 6,5% ao ano.

A conclusão do BC é que as taxas cederam com a Selic, menos a do cheque especial.

Intervenção

No caso dos juros do rotativo do cartão de crédito, o recuo só começou após a intervenção do BC, em março de 2017, quando a autoridade proibiu que as dívidas fossem roladas sem limite, gerando um efeito bola de neve. Quem não consegue pagar após um mês tem que ser direcionado para uma linha mais barata.

Na semana passada, a Febraban (federação dos bancos) anunciou ação parecida no cheque especial —correntistas endividados há mais de um mês terão a opção de mudar para outra modalidade de crédito mais barata, cortando a escalada do débito.

Para o economista Roberto Troster, que já atuou na Febraban, isso poderá levar a aumento de taxas em outras linhas. Se é verdade que a taxa do rotativo do cartão caiu, diz ele, o juro cobrado no parcelamento da dívida ficou quatro vezes mais caro.

A rigidez de queda dos juros no cheque especial, segundo a Febraban, se deve à inadimplência elevada nessa linha “bem mais alta que a média das linhas de crédito para pessoa física”.

Em fevereiro, mais recente dado disponível, a inadimplência foi de 13,6%, mais que o dobro do calote no crédito à pessoa física (5,1%). Os juros são quase cinco vezes mais altos —324% ante 58% ao ano.

O diferencial de taxas, que sempre existiu, explodiu a partir de 2014 (quando o calote aumentou), mas não refluiu e hoje está no ponto máximo. Não à toa o BC colocou o cheque especial na mira.

O diretor de Política Monetária do BC, Carlos Viana, afirma que é um erro esperar que as taxas bancárias caiam na mesma proporção da Selic, uma que vez ela é apenas um dos componentes do spread (diferença entre a taxa que os bancos captam dinheiro e a que emprestam).

Impostos, custos operacionais, perdas com inadimplência e lucros compõem a taxa final, numa combinação que varia para cada modalidade.

Segundo Viana, o BC tem atuado em outras frentes, como o incentivo à competição via estímulo às fintechs e a redução de obrigações (como depósito compulsório, dinheiro que os bancos têm de deixar parado).

Fonte: Folha de S.Paulo

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