Josué de Castro foi um dos maiores intelectuais que lutaram contra a fome no Brasil. Médico, geógrafo, nutrólogo, professor, cientista social e escritor, nasceu em 5 de setembro de 1908 em Recife.
Fez faculdade de medicina na Universidade do Rio de Janeiro e logo foi para os Estados Unidos fazer um estágio na Universidade de Columbia. Quando voltou ao Recife, abriu uma clínica com uma nova especialidade médica para a época: a nutrição.
No consultório, logo percebeu que precisava precisar colocar o pé na rua para entender os problemas nutricionais da população – foi para as fábricas onde percebeu que a doença que acometia os funcionários era a fome.
Assim, em 1932, ele lança o livro Condições de Vida das Classes Operárias do Recife, em que pela primeira vez se estabelece as relações entre produtividade e alimentação.
Hoje, a fome voltou ao cotidiano dos brasileiros e a lembrança do pensamento de Josué de Castro se faz cada vez mais presente.
Aos poucos, sua vida como professor foi se voltando para estudar geografia humana e antropologia, disciplinas que usava como subsídios teóricos para entender o que verdadeiramente o preocupava.
Tornou-se professor de geografia, antropologia e nutrição, escrevendo livros e pensando sobre a fome no Brasil. Deu aulas em várias faculdades e escreveu livros fundamentais.
Em 1946, publicou o livro que trouxe fama internacional, A Geografia da Fome, em que ressalta as origens sociais e econômicas de uma das maiores tragédias do estado brasileiro. Por toda a vida ele lutou contra a ideia que de passar fome era natural, que fazia parte da vida.
O livro A Geografia da Fome tornou-se fundamental, trazendo à luz o problema brasileiro, indicando possibilidades de análise e de intervenção. Josué de Castro passou a integrar a recém-criada FAO (Food and Agriculture Organization), ageência da Organização das Nações Unidas (ONU) criada em outubro daquele ano, 1946, no Canadá.
Josué de Castro participa ativamente da criação e da consolidação da FAO como organismo internacional de combate à fome. Em 1962, foi designado embaixador-chefe da delegação do Brasil junto `à ONU, em Genebra, cargo que ocupou e foi indicado para o Nobel da Paz em 1963.
Mas a ditadura militar de 1964 interrompeu sua carreira de dedicação ao combate à fome. Foi um dos primeiros a ser exilado e ter seus direitos políticos caçados por 10 anos.
Sua luta, afinal, era revolucionária – querer diminuir a desigualdade para acabar com fome, entender que esse era um problema estrutural do estado brasileiro e não uma condição natural, lutar para que as coisas se modificassem, para que trabalhadores tivessem um salário digno e os camponeses terra para plantar. Tudo visto como subversivo pelos militares.
Josué de Castro fez parte de uma geração de pensadores que estavam preocupados em discutir o trabalho e o trabalhador brasileiro.
Até a década de 1930 predominava a ideia de que o Brasil era uma terra de abundância, em que tudo crescia e se multiplicava. A fome, as doenças, a desigualdade não eram nem mencionadas, muito menos eram objeto de estudos ou pesquisas.
Josué de Castro, Mário de Andrade, Câmara Cascudo e outros tentavam pensar para além do mito do Jeca Tatu, de Monteiro Lobato – entendendo a fome como um problema social e econômico, portanto passível de ser resolvido pela atuação do Estado.
Hoje, a fome voltou ao cotidiano dos brasileiros e a lembrança do pensamento de Josué de Castro se faz cada vez mais presente. Numa coluna dedicada à gastronomia e à ecologia não vejo espaço melhor para falar da fome e essa é uma homenagem a um dos maiores pensadores do país, que lutou como pode para o povo pudesse comer. E nessa homenagem a vontade de que a fome volte a ser uma das prioridades de um governo preocupado com o povo.
Fonte: Brasil de Fato