Segundo nos informa o noticiário informal, mas nem sempre errático ou errado das redes sociais, o que a mídia convencional ainda não fez, já se cuida no Senado de conferir regime de urgência ao projeto que revoga a obrigatoriedade de ser a Petrobrás a operadora única da exploração do Pré Sal. Ele informa também, e aí espero que esteja errado, que o líder do governo, Senador Delcídio Amaral, declarou não considerar importante essa obrigatoriedade.
O Senador já pertenceu à direção da empresa e pode alegar que essa experiência dá alguma autoridade a seu argumento, mas não poderia, como líder do governo, situar-se na contramão dos pronunciamentos reiterados da Presidente Dilma Rousseff em defesa da Petrobrás. Aliás, essa não é a primeira escorregada na equipe do governo. Pouco antes, na Conferência de Houston, o Ministro das Minas e Energia Eduardo Braga fez declarações do mesmo gênero e parece que levou o puxão de orelha indispensável no caso. Melhor teria sido, porém, que partisse para Houston orientado quanto ao que deveria e sobretudo quanto ao que não poderia dizer.
Esses fatos nos levam às 14 razões expostas no artigo do Presidente da Aepet, Felipe Coutinho, pelas quais a Petrobrás deve continuar a ser a operadora única do Pré Sal. Entre essas razões, bastaria uma para liquidar a questão: a Petrobrás não precisa e não deve ter pressa no Pré Sal. A pressa é dos outros, dos interesses estrangeiros.
Os Estados Unidos, com seu consumo elevadíssimo, é que têm urgência no petróleo do Pré Sal. Se ainda tivéssemos dúvidas quanto a isso, bastaria ler o telegrama do Consulado dos Estados Unidos no Rio ao Departamento de Estado com o título “Será que a indústria do petróleo conseguirá rechaçar a lei do Pré Sal?” O telegrama é de 2009, pouco depois da descoberta do Pré Sal e quando se discutiam as normas hoje em vigor (como a de ser a Petrobrás a operadora única), faz parte do infindável elenco dos documentos dos Wikileaks e vem sendo divulgado pelo gabinete do Senador Roberto Requião.
Naquele momento, 2009, a entidade identificada como “a indústria do petróleo”, que é um conglomerado de interesses privados majoritariamente norte-americanos, não conseguiu rechaçar a lei do Pré Sal – e agora tenta de novo, aproveitando o clima criado pelas revelações da Operação Lava Jato. A própria situação da economia brasileira contribui para o avanço dessa tentativa: com a previsão de um PIB negativo já da ordem de 2% este ano e com a inflação cada vez mais perto da casa dos dois dígitos, muita gente de boa fé já pode estar pensando que é melhor chamar os americanos, exportar muito petróleo e com esse dinheiro cobrir o rombo das contas públicas, deixando de cortar aposentadorias e outros benefícios sociais.
Se cairmos na tentação de seguir esse caminho, transformaremos o Pré Sal numa das maldições deste início de século, porque o Brasil jogará fora a oportunidade e a plataforma de um projeto de desenvolvimento capaz de resgatar nossa imensa e perversa dívida social. Infelizmente muitos em nosso país não sabem que sem soberania não há desenvolvimento verdadeiro e que sem desenvolvimento não há justiça social duradoura.
O escândalo da Lava Jato feriu fundo alguns setores da Petrobrás, mas não há notícia de o conjunto do projeto do Pré Sal tenha sido atingido. Na recente Conferência de Houston, a Petrobrás revelou que o custo médio do petróleo por ela extraído no Pré Sal está em cerca de 9 dólares, contra o custo médio mundial de 15 dólares. Isso deve excitar os apetites estrangeiros, mas deve também fortalecer nossa determinação.
E convém insistir: vamos com calma, a pressa é dos outros.
*José Augusto Ribeiro é jornalista e escritor.
Fonte: Portal do PDT