40 anos em trabalho escravo – Um idoso de 74 anos foi resgatado de uma fazenda de café no município de Bueno Brandão, no sul de Minas Gerais. João, como é conhecido, viveu em situação análoga à escravidão por pelo menos 40 anos.
O mineiro estava alojado em uma casa com iluminação precária e sem higiene, sem portas evitando a entrada de animais silvestres, dormindo sobre espuma velha de colchão, e consumindo água diretamente da torneira, sem qualquer processo de purificação.
A operação foi coordenada por auditores-fiscais do Trabalho do Grupo Especial de Fiscalização Móvel, vinculados à Secretaria de Inspeção do Trabalho.
O auditor do trabalho Filipe Nascimento, que participou do resgate, disse ter sido profundamente marcado por tudo o que viu.
“O lugar em que estava era muito bonito para passear, você olha os casebres e não imagina que tinha um senhor que trabalha lá dentro em situações degradantes. Quando ele nos contou que vivia ali há 40 anos, aquilo me tocou muito. Ele poderia ser o pai de qualquer um de nós”, comenta.
“João do Brejo”
O idoso possui deficiência visual e cognitiva e trabalhava unicamente em troca de comida, sem receber nenhum tipo de remuneração, o que pode ser caracterizado como trabalho escravo.
João não era pago pelos trabalhos que era ordenado a executar na fazenda, em que capinava os pastos, cultivava café e tratava dos brejos junto a porcos.
“Por sua condição cognitiva, ele não tomava banho, não sabia o dia da semana que era, não sabia quem era o presidente do país. O proprietário alegou que João era da família, mas ele definitivamente não era. Ele era tratado como uma propriedade, um bicho, era ridicularizado por todos que estavam ali e chegou a ser apelidado de ‘João do Brejo’, conta o auditor.
O resgate
O homem foi resgatado após passar mal e ser levado a um posto de saúde da região.
Como não apresentou nenhum documento, o médico desconfiou da situação e acionou a assistência social, que teve dificuldade de acessar o local em que o trabalhador vivia.
O proprietário da fazenda disse às autoridades que o trabalhador havia chegado à fazenda quase quatro décadas atrás vagando pelos campos, fazendo afirmações desconexas.
Inicialmente, atuou no tratamento dos brejos junto aos porcos do terreno.
O fazendeiro possui passagem pela polícia pelos crimes de furto, interceptação e porte ilegal de armas.
Após ser resgatado do trabalho escravo, João foi submetido a avaliação médica e atualmente reside na casa de repouso Recanto Santa Luzia, em Bueno Brandão.
“Ele não tinha nenhuma dimensão da falta de dignidade que era imposta a ele. Não é nenhum exagero falar que ele não tem sonhos mais distantes que um animal de estimação tem”, relata Nascimento.
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Com informações de: Bhaz