Ex-funcionários da Volks vão à fábrica e cobram reparação por perseguição

Trabalhadores querem pedido formal de desculpas, entre outras medidas. E reclamam não ter tido acesso a acordo que vem sendo discutido entre a empresa e o Ministério Público

Um grupo de aproximadamente 40 ex-funcionários da Volkswagen, que sofreu perseguição no período da ditadura, foi nesta segunda-feira (13) à fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, cobrar reparação pelas atitudes da empresa durante o regime autoritário. Um acordo está sendo costurado entre o Ministério Público e a montadora, mas os trabalhadores afirmam que não tiveram acesso aos termos negociados.

O grupo foi na tarde de hoje distribuir jornais na troca de turnos da fábrica, entre 13h45 e 15h30, aproximadamente. Havia trabalhadores demitidos por militância política, presos e torturados, com o caso notório de Lúcio Bellentani, que em 1972, quando era militante do PCB, foi detido ainda dentro da Volks, por agentes do Dops, acompanhados de seguranças da própria empresa. Atualmente, ele preside a Associação Henrich Plagge, homenagem a um ex-metalúrgico que morreu em 2017 e também foi vítima da repressão.

“Os protagonistas não estavam participando da negociação”, afirmou Bellentani, ainda na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, de onde os ex-trabalhadores saíram para a fábrica. “Quando nós entramos, o Ministério Público já tinha um acordo pronto com a Volks. Já tinha um pacote para a gente. Temos minimamente o direito de participar dessa discussão”, acrescentou, afirmando que a associação não teve acesso aos termos do possível acordo.

Desde que um dossiê foi elaborado pelo instituto Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP), em 2015, o caso da Volkswagen tornou-se o mais avançado em termos de investigação sobre colaboração de empresas com a ditadura. Várias delas, públicas e privadas, ajudaram a repressão, materialmente ou passando informações sobre empregados “subversivos”. A Comissão Nacional da Verdade dedicou ao tema parte de seu relatório final, assim como as comissões organizadas na Assembleia Legislativa paulista e na Câmara Municipal da capital.

Funcionário de 1974 a 2003 em São Bernardo, Geovaldo Gomes dos Santos, por exemplo, só soube muito tempo depois que seus dados pessoais haviam sido fornecidos para órgãos como Dops e SNI. Encontrou um verdadeiro dossiê. “Levantei umas 100 folhas.” Como cipeiro, integrante da comissão de fábrica e posteriormente diretor do sindicato, ele garantiu estabilidade no local de trabalho.

“Tinha guarda até no banheiro, era pesado…”, diz João Belmiro de Araújo Duarte, 72 anos, que trabalhou na Volks entre 1969 e 1970. “Lula estava começando. Quem andava muito por aí era o Frei Chico (José Ferreira da Silva, irmão do ex-presidente e militante do PCB)”, recorda. Militante da Ação Popular, ele conta que fugiu, da própria fábrica, para escapar da prisão. Entrou mato adentro e passou anos na clandestinidade. “Fugi pelo Brasil afora.”

Vindo do interior paulista, Antonio Rodrigues trabalhou de 1975 até o final de 1978 na fábrica do ABC. “Veio a perseguição. Não arrumei mais emprego”, conta, lembrando que estava se preparando para passar da funilaria para o setor de ferramentaria. Hoje, diante da Portaria E da Volks, próxima da Ala 1 (Estamparia), ele segurava uma faixa pedindo “justiça em vida”.

Os ex-funcionários querem um acordo que envolva a criação de um memorial pelas vítimas da ditadura, pedido formal de desculpas e reparação coletiva e individual. No final de 2017, a Volks divulgou relatório elaborado pelo historiador alemão Christopher Kopper, que comprova colaboração com o regime, mas sem identificar uma ação institucional da empresa.

Ainda naquele ano, um documentário exibido na Alemanha contou a história ocorrida no Brasil, retratando a história de Bellentani. “Aquela pressão fez com que a Volks mudasse de comportamento, mas não o suficiente para nos atender”, diz o ex-metalúrgico, que na semana passada conversou com o procurador regional dos Direitos do Cidadão Pedro Antonio de Oliveira Machado, que trata do assunto. Machado disse que não poderia falar sobre o caso, porque as conversas com a empresa continuam.

Uma emissora de TV alemã acompanhou a manifestação de hoje. A panfletagem na fábrica, além do protesto contra a montadora, tinha o objetivo de informar os trabalhadores sobre a história ocorrida naquele local, décadas atrás. “O pessoal conhece pouco. Até dentro da própria representação”, diz o coordenador geral de representação dos funcionários, Wagner Lima. Ele lembra que durante plenária realizada em fevereiro, na sede do sindicato, os trabalhadores passaram a saber mais sobre aqueles fatos – provavelmente, a maior parte dos atuais 9.200 empregados não havia nascido.

Fonte: Brasil Atual

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