Políticos e personalidades que lutaram contra a ditadura também receberam um diploma que simboliza a luta dos trabalhadores e do movimento sindical contra o Golpe de 1964
Durante o Ato Sindical Unitário “Unidos, Jamais Vencidos”, em São Bernardo do Campo, dirigentes sindicais, políticos e personalidades do ABC paulista foram homenageados pela luta contra o Golpe de 1964. Todos foram perseguidos pela repressão da ditadura e das empresas, e tiveram participação fundamental na luta contra o período mais obscuro da história do Brasil.
O presidente da CSB, Antonio Neto; o pai, Guarino Fernandes dos Santos; o secretário-geral, Alvaro Egea; Ismael Antonio de Souza; e José Carlos Pereira da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Produtos de Limpeza do Estado de São Paulo (Sitiplesp), foram os dirigentes da CSB homenageados no evento. Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola, Dom Claudio Hummes, Dom Paulo Evaristo Arns e o ex-presidente deposto João Goulart também estão entre os perseguidos pelo regime que receberam as homenagens. Todos foram agraciados com um diploma assinado por todas as centrais sindicais.
Antonio Neto lembrou a trajetória do pai, Guarino Fernandes dos Santos, na luta contra a repressão. “Meu pai, líder dos ferroviários em Sorocaba, foi preso, caçado e torturado. Minha mãe se tornou viúva de marido vivo e eu, com 11 anos de idade, era o filho do comunista, que as pessoas viam na rua e mudavam de calçada”, disse Neto.
Guarino dos Santos entrou para a lista negra das empresas na época da repressão, e passou 7 anos desempregado, desempenhando outras funções para sustentar a família. “Estou duplamente emocionado, como homenageado e filho de um grande sindicalista que aqui recebe também esta homenagem”, completou Neto que recebeu do diploma do pai ao lado da mãe e de duas irmãs.
Alvaro Egea afirma que o Ato é um reconhecimento pelas centrais sindicais e também pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) da luta dos dirigentes sindicais e trabalhadores que sofreram perseguições, torturas e todo o tipo de discriminação e práticas antidemocráticas.
“O Brasil deve passar a limpo esse passado negro da ditadura, e as novas gerações precisam ter uma visão diferente desse período. Os trabalhadores deram sua contribuição decisiva para a conquista da democracia e também para limpar o entulho autoritário que ainda resta de legislação, de preconceito. Precisamos, sobretudo, buscar uma reparação da colaboração que as empresas tiveram com a repressão e que ainda fazem com os trabalhadores no local de trabalho”, criticou o secretário-geral da CSB.
Para Ismael Antonio de Souza, a homenagem foi significativa para os trabalhadores e simboliza a luta contra a impunidade. “Esse reconhecimento é muito importante para os que foram perseguidos e também para o povo brasileiro, aqueles que mais sofreram com a ditadura. O Ato e os outros eventos que virão para marcar os 50 anos do Golpe de 1964 servem como resgate da memória de um momento histórico marcante na vida do País”, reforçou o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd).
Democracia e resgate da juventude
Os dirigentes da CSB ressaltaram que a democracia foi conquistada graças ao empenho daqueles que lutaram, sofreram e morreram durante a ditadura. Além disso, reafirmaram ser necessária a luta pela ampliação da democracia em todos os setores da sociedade brasileira.
“Precisamos resgatar esse momento para que a juventude tenha conhecimento sobre o que aconteceu. Para que saibam que, durante aquele período, sequer podíamos nos reunir. Eles precisam saber quem foram as Marias e Clarices da música do Aldir Blanc”, afirmou Antonio Neto.
“É uma obrigação nossa organizar atos como esse em todos os lugares para mostrar a história operária para os jovens brasileiros, para que eles possam cada vez mais estarem comprometidos com a construção de um país mais digno, soberano para todos”, completou o presidente da Central.
“Nós da CSB estamos orgulhosos de nossa participação no período de enfrentamento, resistência e conquista. Precisamos olhar com a perspectiva de que a democracia se aprofunde no sentido de conquistarmos mais direitos para os trabalhadores”, concluiu Alvaro Egea.