As cerca de 20 mil pessoas que compõem o 0,01% mais rico do Brasil acumulam em média R$ 151 milhões em riqueza (total do patrimônio, descontadas as dívidas) e apesar disso, os super-ricos do país pagam metade do percentual de Imposto de Renda (IR) em comparação a algumas faixas da classe média.
Segundo reportagem de Carlos Madeiro no site UOL, esses dados serão apresentados pelo Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades, nesta quarta-feira (30), no Congresso Nacional. O levantamento é da Ação Brasileira de Combate às Desigualdades (ABCD), que reúne mais de 50 entidades do Brasil.
Veja o acúmulo de riqueza média dos ricos brasileiros:
- 1% mais rico – R$ 4,6 milhões em estoque médio de riqueza;
- 0,1% mais rico- R$ 26,2 milhões;
- 0,01% mais rico – R$ 151,5 milhões.
Enquanto isso, 7,6 milhões – 2,8% da população – de brasileiros vivem em situação de extrema pobreza, em domicílios com renda per capita inferior a R$ 150 por mês. Os 10% mais ricos do país ganham 14,4 vezes mais do que os 40% mais pobres, em média.
“Esses números retratam que não é só uma desigualdade, mas, sim, são desigualdades que se relacionam em causa e efeito um do outro. Precisamos mostrar esses números, porque as pessoas têm ideia da desigualdade, mas não têm ideia da dimensão.”, avalia Oded Grajew, coordenador-geral da ABCD.
Mais rico, menos imposto
Dados do Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil mostram que quem tem renda média superior a 320 salários mínimo (R$ 422 mil por mês) paga uma alíquota efetiva de 5,43% de IRPF. A alíquota efetiva é o percentual real de imposto que a pessoa paga sobre seus rendimentos.
A classe média acaba sendo a maior pagadora de IR do país, chegando a 11,25% entre os que ganham 15 a 20 salários mínimos (entre R$ 19,8 mil e R$ 26,4 mil).
Por conta da tributação indireta – quando um imposto é embutido no valor final de um produto ao consumidor -, os que menos ganham são os que pagam mais impostos. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que os 10% mais pobres pagam 26,4% da sua renda em tributos, enquanto os 10% mais ricos apenas 19,2%.
“O fundamental agora é vontade política, porque reduzir não é mesma coisa que fazer filantropia: é mexer com distribuição de poder e riqueza.”, frisa Oded Grajew.
O estudo foi coordenado por um grupo de trabalho que compõe o Pacto e contou com apoio técnico do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que utilizou como base dados retirados de fontes de dados públicos e confiáveis.
Maior desigualdade no Nordeste
Há distorções regionais marcantes e o Nordeste apresenta o maior nível de desigualdade. Na Paraíba, por exemplo, a renda média dos 10% mais ricos é 17,2 vezes maior que a dos 40% mais pobres. Já em Santa Catarina, no Sul, essa diferença é de 8,2 vezes.
- Nordeste – os 10% mais ricos ganham 14,4 vezes a mais do que os 40% mais pobres;
- Norte – 13,6 vezes a mais;
- Sudeste – 13,1 vezes a mais;
- Centro-Oeste – 12,2 vezes a mais;
- Sul – 10,1 vezes a mais.
As diferenças regionais ficam ainda maiores no mapa da extrema pobreza no país. No Maranhão, 6,4% das pessoas vivem com até R$ 150 por mês, enquanto esse percentual é de 1,3% em Santa Catarina.
Extremamente pobres por região:
- Nordeste – 4,7%
- Norte – 3,6%
- Sudeste – 2%
- Centro-Oeste – 1,7%
- Sul – 1,5%
Cor e gênero
Como esperado, homens e brancos têm melhores desempenho em todos os indicadores socioeconômicos.
Renda média do brasileiro por raça e gênero:
- Mulher negra – R$ 1.663 por mês
- Mulher branca – R$ 2.789
- Homem negro – R$ 2.288
- Homem branco – R$ 3.929
“O observatório mostra uma agenda que tem de ser feita, não só em relação a grupos sociais, étnicos, de gênero e de raça, mas também territoriais. Se um gestor enxerga uma desigualdade, deve dizer: ?Aqui que tem que se investir com prioridade?”, defende Oded Grajew.
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(Com informações de reportagem de Carlos Madeiro em UOL)
(Foto: Reprodução)