Práticas clínicas por assistentes sociais são proibidas pelo Conselho Federal da categoria; evento foi promovido pelo Sindicato dos Assistentes Sociais do RS
Em defesa da prática clínica pelos assistentes sociais, o Sindicato dos Assistentes Sociais no Estado do Rio Grande do Sul (SASERS) promoveu, em maio, o II Seminário Serviço Social Clínico – Um Debate Inadiável. O evento, que reuniu cerca de 50 pessoas, em Porto Alegre (RS), é uma ação pioneira da Entidade, apoiada pela CSB RS e pelo Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (SENGE/RS).
Ao todo, foram mais de cinco horas de debates em torno do tema central do Seminário. Nesta edição, as discussões se basearam nos questionamentos: é possível haver pluralidade de linhas teóricas no exercício da profissão? E como a preponderância de apenas uma teoria pode afetar a realidade da categoria?
De acordo com a presidente do SASERS e da CSB RS, Eliane Gerber, o objetivo do evento foi “ir além” e contestar o posicionamento dos Conselhos Federal de Serviço Social (CFESS) e Regional de Serviço Social (CRESS/RS), que proibiram a prática clínica pelos trabalhadores por meio de Resolução 569/2010, além de sustentarem o conceito de que o serviço precisa ser baseado por uma linha teórica hegemônica – o que, para a dirigente, prejudica os profissionais no mercado de trabalho.
“É importante explicar que, antigamente, estudávamos serviço social de grupo, de comunidade, aprendíamos a lidar com as pessoas de forma individual também. E hoje há uma formação materialista-dialética. Ou seja, a profissão escolheu o Karl Marx como o seu referencial e sua linha hegemônica de pensamento. Então, há a ideia entre estudantes e profissionais de que se você não é marxista, você não é um bom assistente social. Só que, por conta dessa linha, o serviço social clínico é totalmente rechaçado no Brasil”, esclarece Gerber.
A sindicalista ainda destaca que o predomínio de apenas uma teoria contradiz o caráter democrático da profissão e limita o campo de atuação dos assistentes sociais. Segundo Eliane, com esse debate, o Sindicato não quer regredir no tempo e nem fazer com o que o assistente tome o lugar de outras categorias, mas sim defender o respeito à pluralidade de ideias e práticas.
“Nós não queremos ser psicólogos ou psiquiatras. Mas a psicanálise, por exemplo, não é privativa desses profissionais. Isso quer dizer que se eu me formo em serviço social e faço uma pós-graduação ou mestrado em psicanálise, eu poderia ser uma assistente social que realiza terapias. Mas hoje eu não posso atrelar este trabalho ao meu registro de assistente. Eu tenho que omitir minha profissão. Além disso, nós vivemos em uma democracia, mas a nossa profissão tomou um rumo político partidário. E nós entendemos que isso resulta em perda de campo de trabalho para o assistente social”, ressalta.
Durante o Seminário, uma representante do CRESS/RS expôs o parecer do Conselho e repetiu o discurso enviado pelo próprio órgão ao SASERS. Conforme o ofício do presidente Agnaldo Engel Knevitz, o CRESS/RS considera que “este debate é completamente inócuo e contra-hegemônico, contrariando as deliberações democráticas expressas na resolução supracitada [Resolução 569/2010]” e também reforça que “as práticas terapêuticas não são atribuições privativas dos assistentes sociais, portanto, quem receber por parte deste profissional este serviço, certamente está deixando de ser atendido por um profissional devidamente habilitado e preparado tecnicamente”.
A posição do Conselho foi repudiada pelos trabalhadores participantes do evento e pela diretoria do SASERS, cujos princípios se baseiam na defesa dos direitos de liberdade de escolhas dos assistentes sociais, na validação da formação stricto sensu (mestrado e doutorado) e na pluralidade de pensamentos.
O Seminário e Futuro
Serviço Social no Mundo e no Brasil e Prática Clínica e os Assistentes Sociais foram outros assuntos debatidos no evento. As palestras e discussões foram ministradas e mediadas pelos convidados:
- Sonia Martins Seixas (assistentes social e psicanalista, membro da American Association for Psychoanalysis in Clinical Social Work (AAPCSW);
- Edson Marques Oliveira (Doutor em Serviço Social pela UNESP);
- Arno Scheunemann (professor de graduação e pós-graduação da Universidade Luterana do Brasil);
- Michelle Bertoglio Clos (Mestre em Educação pela UFRGS);
- Thaisa Teixeira Closs (Doutora em Serviço Social pela PUC/RS);
- Greice Machado (Mestre em Intervenção Social com Indivíduos, Famílias e Grupos pela Universidad Pública de Navarra na Espanha);
- Susana Seadi (Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/RS).
O Seminário sobre Serviço Social Clínico teve sua primeira edição, em 2016, nas cidades de Porto Alegre (RS) e Salvador (BA) e, neste ano, deve acontecer novamente na capital baiana e no estado do Paraná. “O plano é continuar debatendo e até passar a discutir os aspectos jurídicos da Resolução 569/2010”, afirma Eliane Gerber.
O que é Serviço Social Clínico?
O serviço social clínico é uma área de especialidade prática de serviço social, que se concentra na avaliação, diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos mentais, emocionais e outros transtornos comportamentais. Terapia individual, grupal e familiar são modalidades comuns de tratamento. Os assistentes sociais que prestam esses serviços devem ser licenciados ou certificados no nível clínico em seu estado de prática.
Saiba mais sobre o evento e entenda melhor o que é o Serviço Social Clínico
Abaixo, assista aos vídeos do evento:
Abertura do II Seminário Serviço Social Clínico
Serviço Social Clínico no Mundo e no Brasil
Linha hegemônica materialista-dialética e pluralidade podem coexistir?