Crimes virtuais já são principal fonte de lucro de quadrilhas e rendem R$ 186 bilhões no Brasil

Golpes virtuais e furtos de celulares fizeram o crime organizado ganhar R$ 186 bilhões no Brasil, apontou relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgado nesta quarta-feira (12).

O estudo mostrou ainda que facções lucraram mais com atividades comerciais ilegais, golpes virtuais e furto de celulares do que com o tráfico de drogas. Estima-se que a receita gerada pelo comércio paralelo de combustíveis, ouro, cigarro e bebidas no ano 2022 foi de R$ 147 bilhões, enquanto a venda de cocaína teria gerado R$ 15 bilhões.

Pesquisadores também avaliam que o aumento dos delitos virtuais tem relação com a capacidade do crime organizado em se adaptar às evoluções tecnológicas. O documento do FBSP pontua que “a alta taxa de furtos de celulares facilita essas mudanças, uma vez que os equipamentos eletrônicos, e os celulares em especial, se tornaram portões de entrada para crimes digitais”.

Leia: EUA e Reino Unido rejeitam acordo global sobre Inteligência Artificial durante cúpula em Paris

Dentre os outros quatro mercados explorados por organizações criminosas, está à frente o setor de combustíveis e lubrificantes, com um total estimado de R$ 61,5 bilhões — 41,8% da receita deste grupo de atividades. Em seguida aparece o setor de bebidas, com uma receita de R$ 56,9 bilhões. Com R$ 18,2 bilhões, o mercado de extração e produção de ouro aparece na sequência, na frente do de cigarros e tabaco, com R$ 10,3 bilhões.

De acordo com Nívio Nascimento, assessor de relações internacionais do FBSP, “a alta circulação e a demanda destes setores, atrelado ao baixo controle estatal e de circulação, explica o interesse das facções em atuar neles. Mas os mercados de drogas e armas continuam sendo atividades centrais para o crime organizado”.

O interesse dos criminosos nesses mercados se deve às penas mais brandas quando comparadas ao tráfico de drogas. Tal fato tem tornado essas atividades mais atrativas, conforme avaliou Nascimento.

Contrabando

O relatório aponta que “apesar de avanços, o setor de combustíveis carece de um sistema nacional integrado de rastreamento, dificultando o combate à ilegalidade. Práticas como adulteração, contrabando, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro são amplamente utilizadas por organizações criminosas, exigindo uma resposta integrada do Estado e do setor produtivo para enfrentar os amplos impactos econômicos, sociais e ambientais dessas atividades ilícitas”.

Com forte impacto na Amazônia, a entidade afirma que cerca de 38% da produção de ouro no Brasil tem indícios de ilegalidade e movimenta cerca de R$ 40 bilhões. Já a comercialização ilegal dos combustíveis chega a 13 bilhões de litros anuais e a R$ 23 bilhões em perdas fiscais, estima o FBSP.

Sobre o mercado ilegal de tabaco no Brasil, o relatório acrescenta que 40% do consumo é oriundo da clandestinidade, o que significa R$ 94,4 bilhões de perdas de receita com impostos nos últimos 11 anos. Já a falsificação e o contrabando de bebidas geraram perdas tributárias de R$ 72 bilhões somente em 2022.

Ecossistema ilegal

De acordo com o relatório, as ações criminosas se entrelaçam e “formam um ecossistema que ultrapassa o narcotráfico e contrabando tradicionais”. A entidade também aponta que brechas institucionais e regulatórias são exploradas visando lavar dinheiro oriundos do tráfico de drogas e de extorsões.

Para os pesquisadores, o principal empecilho para o enfretamento do crime organizado é a falta de integração de dados e de informações sobre produção, rastreamento, tributação e segurança entre órgãos como Receita Federal, Polícia Federal e agências reguladoras. Desta forma, a principal estratégia para combater o crescimento de mercados clandestinos seria a incorporação de dados sobre controle de produção e rastreamento às iniciativas de inteligência financeira, tal qual as conduzidas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

“É necessário complementar a dinâmica de atuação das forças de segurança para frear estas potencialidades de novas fronteiras do crime organizado. Para além de monitorar o dinheiro, é preciso complementar a estratégia aumentando o nível de controle e rastreamento de produtos”, aponta Eduardo Pazinato, coordenador do estudo.

Mercados regulados

O estudo identificou que as organizações criminosas têm expandido suas operações para além de mercadorias ilegais e avançado sobre mercados regulados. Um exemplo que chama atenção é a ligação de empresas de transporte público de São Paulo com o Primeiro Comando da Capital (PCC).

“Com um faturamento anual estimado em R$ 6,7 bilhões, o PCC estaria explorando o sistema de transporte público para legitimar seus ganhos ilegais”, diz o FBSP.

Uma estratégia de enfrentamento do crime organizado recomendada pelo relatório é a criação de campanhas de conscientização visando tanto a sociedade civil quanto profissionais de setores estratégico.

“Ao educar a população sobre os impactos negativos desses mercados ilícitos e promover práticas como o ‘conheça seu cliente’, é possível incentivar comportamentos que minimizam o risco de envolvimento em atividades ilegais”, recomenda o Fórum de Segurança. “Esse engajamento colaborativo fortalece a cultura de responsabilidade, conformidade e integridade”.

Com informações de O Globo

Compartilhe:

Leia mais
nota de repudio fala gustavo gayer sobre gleisi hoffmann
Fala misógina de deputado sobre Gleisi Hoffmann desrespeita o trabalho de todas as mulheres
como funcionará novo crédito consignado trabalhador
Entenda como funcionará o novo programa de crédito consignado para o trabalhador
Trump terá que recontratar servidores
Justiça manda governo Trump recontratar servidores após ação de sindicatos nos EUA
projeto isenção imposto de renda 5 mil
Projeto de isenção de Imposto de Renda até 5 mil será apresentado nos próximos dias
jorge kajuru inegibilidade trabalho escravo
Projeto propõe inegibilidade de quem estiver na Lista Suja do Trabalho Escravo
Declaração Imposto de Renda 2025
Declaração do Imposto de Renda 2025 passará por mudanças; saiba
Antonio Neto e Lula lançamento crédito do trabalhador
CSB acompanha lançamento do "Crédito do Trabalhador", nova modalidade de consignado
reunião centrais marinho e macedo 12-03-25
Centrais sindicais se reúnem com ministros Luiz Marinho e Márcio Macêdo em Brasília
juros consignado clt
Trabalhadores CLT pagam mais juros no consignado que servidores e aposentados
crise saúde mental mulheres afastamentos
Afastamentos relacionados à saúde mental crescem 68% em um ano; mulheres são maioria