Com novas regras, trabalhador chega a ter que contribuir por mais que o dobro do tempo para se aposentar

Simulações mostram como a reforma da Previdência, se aprovada pelo Congresso, mexe no seu bolso

Se a reforma da Previdência for aprovada da maneira como foi proposta, alguns trabalhadores precisarão contribuir por mais do que o dobro do tempo que seria necessário pelas regras atuais, para conseguir 100% do benefício. Simulações feitas a pedido de Época NEGÓCIOS mostram também que muitos dos brasileiros que quiserem obter o valor máximo de sua aposentadoria precisarão trabalhar até bem depois dos 65 anos.

Pelas regras propostas pelo governo, os trabalhadores precisam cumprir dois requisitos para se aposentar: alcançar a idade mínima de 65 anos e o tempo de contribuição de pelo menos 25 anos. No entanto, para conseguir 100% do benefício, o trabalhador precisará ter um tempo de contribuição de 49 anos. Isso acontece porque o cálculo do benefício será de 51% da média dos salários de contribuição mais um ponto porcentual por ano trabalhado. Ou seja, se um trabalhador cumprir o requisito mínimo de 25 anos de contribuição, se aposentará com 76% (51+25) da média de suas contribuições. Assim, para conseguir 100% do benefício, é preciso ter contribuído por 49 anos (51+49). Para alcançar esse tempo de contribuição aos 65 anos, o trabalhador precisaria ter começado a contribuir aos 16 anos.

Para Melissa Folmann, advogada especializada em direito previdenciário, a idade mínima de 65 anos é alta demais para a realidade brasileira. “No Brasil, temos dois cenários: o do trabalho braçal e o do trabalho intelectual”, afirma ela. Para os trabalhadores de serviço braçal, como pedreiros, carpinteiros e domésticas, as dificuldades de empregabilidade começam entre 45 e 50 anos, segundo ela. “O trabalhador perde a capacidade laboral plena e começa a tentar fazer outras atividades, no geral, mais precárias. São os famosos bicos para garantir o sustento”, afirma.

Do lado do trabalho intelectual, também há dificuldades para os trabalhadores se manterem empregados quando começam a envelhecer. Esses funcionários acabam ficando caros para a empresa, que muitas vezes optam por demiti-los. Nesse cenário, o profissional com mais de 50 anos tem dificuldade em conseguir outro emprego e manter a remuneração anterior. “Seja trabalho braçal ou intelectual, o mercado de trabalho brasileiro não consegue absorver com qualidade pessoas acima de 50 anos, o que dirá pessoas com 65 anos”, diz Melissa.

A situação piora quando se considera que são poucos os trabalhadores que com 65 anos terão os 49 anos de contribuição necessários para conseguir a totalidade do benefício. “A reforma precisa olhar a população como um todo, a média. Não pode olhar o médico ou o empresário bem-sucedido”, afirma a advogada.

Com base em simulações, Newton Conde, atuário especializado em previdência, comenta que “atualmente, usando o fator previdenciário, vemos que é bastante vantajoso para o trabalhador se aposentar aos 65 anos, mas nas novas regras não há esse benefício”.

Outra grande mudança trazida pela reforma da Previdência proposta pelo governo Temer é quanto ao cálculo da média salarial. Hoje, ele é feito pela média aritmética simples de 80% das maiores contribuições, ou seja, as menores são descartadas do cálculo, o que não ocorrerá mais.

EXEMPLO 1
Mulher, 35 anos
Até agora, contribuiu por 8 anos
Salário médio R$ 3.500
Quanto tempo ainda precisaria trabalhar para obter a aposentadoria integral pelas regras atuais?
+22 anos (aposentando-se aos 57 anos de idade)
E com a reforma?
+41 anos (76 anos de idade)
Quanto receberia ao completar os requisitos mínimos da nova regra (65 anos de idade e 25 anos de contribuição)?
R$ 2.848
Caso o fator previdenciário fosse usado, qual seria o valor do benefício ao se aposentar com 65 anos?
R$ 3.740

EXEMPLO 2
Homem, 48 anos
Até agora, contribuiu por 16 anos
Salário médio R$ 2.000
Quanto tempo ainda precisaria trabalhar para obter a aposentadoria integral pelas regras atuais?
+17 anos (aposentando-se aos 65 anos por idade)
E com a reforma?
+33 anos (81 anos de idade)
Quanto receberia ao completar os requisitos mínimos da nova regra (65 anos de idade e 25 anos de contribuição)?
R$ 1.536

EXEMPLO 3
Mulher, 25 anos
Até agora, contribuiu por 5 anos
Salário médio R$ 3.000
Quanto tempo ainda precisaria trabalhar para obter a aposentadoria integral pelas regras atuais?
+25 anos (aposentando-se aos 50 anos de idade)
E com a reforma?
+44 anos (69 anos de idade)
Quanto receberia ao completar os requisitos mínimos da nova regra (65 anos de idade e 25 anos de contribuição)?
R$ 2.634
Caso o fator previdenciário fosse usado, qual seria o valor do benefício ao se aposentar com 65 anos?
R$ 3.843

EXEMPLO 4
Homem, 53 anos (por ter mais de 50 anos, entra  na regra de transição)
Até agora, contribuiu por 31 anos
Salário médio R$ 1.500
Quanto tempo ainda precisaria trabalhar para obter a aposentadoria integral pelas regras atuais?
+4 anos (aposentando-se aos 57 anos de idade)
E com a reforma, considerando a fase de transição?
+6 anos (aposentando-se aos 59 anos de idade)
Qual o valor da aposentadoria pelas regras da reforma?
R$ 1.416
Caso o fator previdenciário fosse usado, qual seria o valor do benefício ao se aposentar com 65 anos?
R$ 1.830

EXEMPLO 5
Mulher, 44 anos
Até agora, contribuiu por 20 anos
Salário médio R$ 5.000
Quanto tempo ainda precisaria trabalhar para obter a aposentadoria integral pelas regras atuais?
+10 anos (aposentando-se aos 54 anos de idade)
E com a reforma?
+29 anos (73 anos de idade)
Quanto receberia ao completar os requisitos mínimos da nova regra (65 anos de idade e 25 anos de contribuição)?
R$ 4.206
Caso o fator previdenciário fosse usado, qual seria o valor do benefício ao se aposentar com 65 anos?
R$ 5.190 (teto)

Simulações feitas por Newton Conde, atuário especializado em previdência.

Fonte: Época NEGÓCIOS

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