CNV e movimento sindical apresentam documentos que comprovam participação de empresas na ditadura

Comissão Nacional da Verdade comprovou que empresas nacionais e multinacionais patrocinaram vídeos anticomunistas e até refeições para presos do Doi-Codi

O grupo de trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores  e ao Movimento Sindical” da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e o movimento sindical organizaram neste último sábado, dia 15, o seminário Como as empresas se beneficiaram e apoiaram a ditadura, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. O encontro foi aberto ao público e debateu a participação civil no Golpe Militar de 1964.  Os pesquisadores Denise Assis, Jorge José de Melo, Pedro Campos e Marlon Weichert participaram do evento e apresentaram trabalhos que comprovam a participação de grupos privados no financiamento do golpe de estado e a perseguição que membros do movimento sindical sofreram dentro das empresas que trabalhavam.

A CSB esteve presente no evento com a participação do secretário-geral, Alvaro Egea. Para o dirigente, esse tipo evento é necessário, pois é aberto ao público e traz conscientização e informação. “Com trabalho dos pesquisadores conseguimos provas, e ficou evidente que o Golpe de 1964 foi planejado muito antes do que se pensava. Já na década de 1950 havia indícios de que a ditadura vinha sendo arquitetada por empresários e militares conservadores”, conta Egea.

A CNV agora tem documentos que provam que a ditadura teve participação dos empresários e da sociedade civil. Um exemplo disso são os documentos que comprovam que os presos que estavam no Doi-Codi recebiam alimentação financiada pela Ultragaz . “Essa relação entre os empresários e o governo militar coloca as maiores empresas brasileiras como criminosas. Elas patrocinaram a violência da ditadura. A união entre os setores civis e instituições contribuiu para a força do golpe”, avalia.

Investigação

Um dos objetivos do seminário é juntar e organizar os documentos das pesquisas que ajudarão nos processos da Comissão Nacional da Verdade. “O Brasil precisa ser passado a limpo, e não só os militares devem ser julgados, mas a sociedade civil que contribuiu de alguma forma para que a ditadura existisse também. Hoje, temos um conjunto de provas que mostram que os setores conservadores atuais têm fortes ligações com os empresários que patrocinaram o golpe. Esses ainda perpetuam aquele discurso de combater o comunismo, de evitar a igualdade social e de não combater a corrupção, por isso é necessário haver punições”, destacou o secretário-geral da CSB.

No seminário, uma das pesquisas apresentadas mostrou uma lista com mais de 120 filmes que eram divulgados no cinema e na televisão em forma de propagandas anticomunista, que exaltavam a democracia e os direitos humanos. Esses vídeos eram produzidos pelo Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (IPES) e tinham como objetivo convencer a sociedade de que um governo militar seria bom para o Brasil. “O IPES arrecadava fundos de multinacionais e de estatais. Novamente o setor civil contribuindo para o golpe de 64. Uma centena de empresas estava patrocinando os militares, comprando armamentos ou posteriormente patrocinando a repressão”, disse o dirigente.

Além disso, o movimento sindical denuncia há tempos que uma série de fábricas repassou dados de seus empregados ao regime. Os militares usaram as informações para prender, torturar e provocar a demissão de vários deles. Grevistas foram os principais alvos. A colaboração permitiu à ditadura combater as atividades sindicais com mais eficiência do que fez com qualquer outro grupo social. “Os setores de RH faziam listas com nomes de sindicalistas e grevistas delatava ao governo militar. O primeiro setor a sofrer as consequências do militarismo nacional foram os sindicatos. Nós fomos presos, torturados e os sindicatos fechados. Foi instaurado um governo de ‘feijão com arroz’ e os trabalhadores perderam espaço e direitos. Com isso, fica mais do que claro que o governo militar exercia uma política favorável aos patrões, o que também configura apoio dos empresários na ditadura”, revela Alvaro Egea.

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