Clóvis Renato Farias: “No modelo capitalista, o trabalhador não é dignificado, é usado”

Professor criticou as relações de trabalho abusivas; para o advogado, o assédio moral é fruto de um processo que obriga o homem a se submeter ao capital

A segunda palestra de Clóvis Renato Farias no Congresso Estadual do Paraná teve como tema o assédio moral no trabalho. O doutor em Direito, que já havia abordado a reforma trabalhista na manhã desta quinta-feira (25), criticou o sistema capitalista e o discurso vendido por empresários e empregadores.

Nesse modelo financeiro, onde o capital e o lucro são colocados constantemente acima do trabalhador e do trabalho, o homem é incentivado a deixar de lado suas ideias próprias para seguir o padrão aceitável perante a sociedade.

“Ele vai trabalhar tendo ideias, mas não escolhe a jornada, quanto vai ganhar. Mesmo podendo acrescentar, ele não pode opinar no processo produtivo”, explica. Deste modo, o empregado acaba perdendo a capacidade de pensar e adota sempre a mesma perspectiva – a do patrão.

Risco Invisível

Para Clóvis Farias, o trabalho aliena o homem de sua condição. Ao acreditar que é definido por seu emprego, e não por suas ideias, ele passa a existir apenas enquanto tiver uma função na empresa.

“A pessoa acha que só é alguém se estiver trabalhando. O sistema capitalista faz você entender que não é pago para pensar. Então o trabalho não dignifica o homem. Nesse modelo o trabalhador não é dignificado, é usado até não aguentar mais”.

Psicologicamente, o funcionário é doutrinado para lutar sem parar, como se o sistema fosse valorizá-lo – o que quase nunca acontece. É neste momento que o assédio moral se torna comum.

Por isso nem sempre é fácil identificar e reconhecer comportamentos abusivos no ambiente de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) classificou isso de Risco Invisível. “A gente não percebe, pois se acostumou a essa perspectiva”, diz o mestre em Direito.

Mudança de paradigmas

Com o objetivo de explicar as consequências da supervalorização do trabalho capitalista, Clóvis Faria fez menção a uma fábula conhecida: a da cigarra e da formiga. Na história, a formiga representa a classe trabalhadora, que passa os dias sem descanso construindo uma moradia segura para o inverno. A cigarra, que adota uma postura mais despreocupada, é recriminada.

A moral da fábula é que “aqui só vence quem trabalha”. A lógica da história, porém, poderia ser invertida na opinião do professor. “A formiga acredita que só trabalha aquele que faz o serviço pesado, em série, montando tijolos. Cantar não é reconhecido como um emprego digno, pois foge do padrão capitalista e explorador”, analisa.

Esse tipo de pensamento é comum entre os trabalhadores. Ao invés de dividir, as pessoas disputam entre si. Por isso a maior parte dos assédios acontece entre a classe trabalhadora, que, segundo o professor, tem os ideais distorcidos.

É o chamado assédio ascendente. “Ele começa a achar que tem como tomar o lugar do outro. A ideia é evoluir não para superar a si mesmo, mas para disputar e ser melhor do que o outro. Se conseguíssemos mudar esses paradigmas, talvez a gente conseguisse melhorar muita coisa”.

Assédio e suas consequências

É considerado assédio moral toda a conduta abusiva manifestada por comportamentos e palavras, que causam danos a personalidade, dignidade ou a integridade humana. É preciso, no entanto, que a atitude seja recorrente – e não apenas um fato isolado.

Entre os efeitos colaterais do assédio, está a Síndrome do Sobrevivente. Incentivada pela lógica trabalho – dinheiro – consumo, a doença faz com que o empregado tenha pavor de perder sua fonte de renda. Por esse motivo, aceita o abuso de poder e a manipulação.

O Bullying e a Síndrome de Burnout (definida pela fadiga, estresse, comportamento agressivo e improdutividade), também são consequências do assédio moral sofrido no ambiente de trabalho.

Veja a apresentação de Clovis Renato.

Veja a galeria de fotos

Compartilhe:

Leia mais
contra a pec 662023
PEC 66/2023 tenta impor a estados e municípios Reforma da Previdência de Bolsonaro
seca região norte auxílio pescadores
Pescadores afetados pela seca na região Norte receberão auxílio extraordinário
CARF
Empresas do mesmo grupo são solidárias por obrigações previdenciárias, decide Carf
grávida pedido demissão anulado tst
TST anula pedido de demissão de grávida feito sem participação do sindicato
Aloysio correa da veiga presidente tst
Empregado não pode ser PJ, diz próximo presidente do Tribunal Superior do Trabalho
inclusão pessoas com autismo mercado de trabalho
Nova lei promove inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho
Assédio eleitoral trabalhador indenização
Assédio eleitoral: trabalhador demitido por negar apoio a Bolsonaro será indenizado
Lula precisa dar mais segurança aos trabalhadores
Lula precisa honrar seus compromissos e dar mais segurança aos trabalhadores
Golpe internet indenização trabalhista
Justiça alerta para novo golpe sobre pagamento de indenizações trabalhistas
ataque israel líbano beirute 2024
Nota: centrais pedem diálogo pela paz em meio à escalada de conflitos pelo mundo