A China anunciou nesta terça-feira (4) uma série de medidas mirando empresas americanas. Estão na lista o Google, fabricantes de equipamentos agrícolas e a PVH Corp, conglomerado responsável por marcas como Calvin Klein e Tommy Hilfiger.
O site de buscas está passando por uma investigação antimonopólio, já as outras entidades podem ser condenadas a multas, congelamento do comércio e a revogação de permissões de trabalho para funcionários estrangeiros.
A decisão veio logo depois que as taxas que o governo de Donald Trump colocou a produtos chineses entraram em vigor. Em resposta, Pequim impôs taxas sobre produtos provenientes dos EUA, como carvão, petróleo e alguns automóveis, além de restringir a exportação de matérias-primas essenciais para a indústria armamentista norte-americana.
De acordo com a Administração Estatal de Regulamentação do Mercado da China, há suspeitas de que o Google violou a lei antimonopólio do país. Baseada nessa lei, foi iniciada uma investigação ainda em 2019, que havia sido arquivada, mas foi reaberta recentemente. A Nvidia também teve investigações reabertas e a Intel é considerada como alvo de investigações.
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De acordo com especialistas da Financial Times, a principal questão do governo chinês com o Google é o domínio do sistema operacional Android, que pertence à big tech americana. A integridade de empresas como Xiaomi e Oppo, que usam o sistema, também é uma questão.
Produtos do Google, como o seu mecanismo de busca, são bloqueados na China, totalizando cerca de um 1%, o faturamento da empresa proveniente do país, que vem principalmente de anunciantes parceiros chineses.
Em 2017, a companhia anunciou um pequeno centro de pesquisa de IA na China, mas o projeto que foi dissolvido 2 anos depois. Em comunicado, a big tech anunciou que não realiza mais pesquisas no país.
De acordo com informações apuradas pelo Financial Times, a natureza da investigação contra a Intel ainda permanece incerta, porém especula-se se ela for oficialmente lançada poderia ser resultado do estado das relações entre EUA e China. Com a tensão entre os países em alta, os presidentes Xi Jinping – da China – e Trump devem conversar nos próximos dias.
Pesquisador do Instituto Nacional de Estratégia da Universidade de Tsinghua, Liu Xu afirma que as medidas tomadas pelo governo chinês podem ser entendidas como um processo retaliatório diante das recentes tarifas impostas ao país asiático pelo presidente estadunidense.
Ele acrescenta que esse tipo de estratégia pode não ser a melhor para proteger as empresas chinesas da ofensiva norte-americana. “Inevitavelmente geraria controvérsia”, diz.
Os anúncios feitos pelo governo chinês aumentam ainda mais as restrições comerciais entre os dois países. Há pouco ela se limitava ao setor de tecnologia, com os esforços dos Estados Unidos em barrar o desenvolvimento da indústria de chips e IA da China.
A PVH Corp, holding de marcas como Calvin Klein e Tommy Hilfiger, e a empresa de biotecnologia norte-americana Illumina foram colocadas em uma lista de “entidades não confiáveis”, de acordo com o Ministério do Comércio da China.
A justificativa é que as duas companhias promoveram “medidas discriminatórias contra empresas chinesas” e prejudicaram os direitos e interesses legítimos de entidades chinesas. Por “conduta imprópria” relacionada a região do Xinjiang, a PVH já estava sendo investigada por órgão reguladores chineses.
Dentre as sanções que os empreendimentos incluídos na lista podem sofrer, estão congelamento do comércio e a revogação de permissões de trabalho para funcionários estrangeiros.
Representantes do Google, PVH e Illumina não comentaram o assunto.
De acordo com a Capital Economics “as tarifas poderiam ser adiadas ou canceladas antes de entrarem em vigor. A investigação contra o Google pode ser concluída sem nenhuma penalidade”.
Tarifas de 10% a equipamentos agrícolas estadunidenses também foram anunciadas pela China. Tal medida afeta empresas como Caterpillar, Deere & Co e AGCO, assim como um pequeno número de picapes e sedãs com motores grandes enviados dos EUA para a China.
O Cybertruck, da Tesla, aguarda liberação regulatória para iniciar as vendas no país e pode ser impactado por isso. O veículo foi avaliado como carro de passeio pelo Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação em uma publicação de dezembro, que foi rapidamente excluída. A picape elétrica da Tesla teria que enfrentar sobretaxa de 10% para ser vendido na China se fosse considerada veículo de passeio.
A empresa, cujo presidente é o bilionário sul-africano Elon Musk, não se pronunciou sobre o assunto, mas também é provável que qualquer dificuldade enfrentada por ela tenha relação com a tensão entre os países, uma vez que Musk agora também possui cargo no governo Trump.
As novas tarifas sobre os produtos norte-americanos entrarão em vigor em 10 de fevereiro, informou o ministério.
Com informações de Folha de S.Paulo